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sábado, 6 de maio de 2017

Thierry Meyssan: Por que Trump bombardeou Shairat?

5 de Maio de 2017 - 19h17 

Contrariamente às aparências, longe de se comportar de maneira errática, a Administração norte-americana tenta fixar o quadro da sua política externa. O presidente Donald Trump trava negociações com um porta-voz do Estado Profundo que governa o país desde o 11 de Setembro de 2001. Parece que terão encontrado um esboço de acordo, cujos detalhes permanecem por revelar. 

Por Thierry Meyssan*, no Rede Voltaire


Lançamento de mísseis Tomahawk de navios da Marinha dos Estados Unidos com objetivo de atingir a base aérea de Khan Shayrat, na SíriaLançamento de mísseis Tomahawk de navios da Marinha dos Estados Unidos com objetivo de atingir a base aérea de Khan Shayrat, na Síria
Membros da Administração deverão clarificar a nova política externa da Casa Branca, no final de maio, perante uma Comissão do Congresso.

Quando do bombardeamento de Shairat, eu havia observado que se tratava apenas de um gesticular e que o Secretário de Estado tinha utilizado este ataque para fazer pressão sobre os seus Aliados europeus, e forçar o verdadeiro organizador desta guerra, o Reino Unido, a expor-se. Entretanto, hoje em dia, sabemos um pouco mais a respeito.

O presidente Trump, que tem de fazer face, ao mesmo tempo, à oposição da classe dirigente e à do Estado Profundo dos EUA, utilizou este ataque para "restaurar a credibilidade" (sic) da Casa Branca.

O presidente Obama, tinha acusado a Síria, no verão de 2013, de ter utilizado gaz de combate na Guta e de ter, assim, cruzado uma "linha vermelha". No entanto, não tirou daí nenhuma consequência e refugiou-se por trás do Congresso para não fazer nada. A sua impotência foi tanto mais saliente, quanto em virtude da declaração de guerra de 2003 (o "Syrian Accountability Act"- "Lei de Responsabilização da Síria"-ndT), ele tinha total poder para bombardear a Síria sem precisar de uma nova autorização do Parlamento.

Por sua vez, acusando a Síria de ter utilizado gás de combate, desta vez em Khan Shaikun, e bombardeando-a de imediato, Donald Trump teria dado mostras da "credibilidade" que faltava ao seu predecessor.

Consciente que, nem em Guta, nem em Khan Shaikun, a Síria era culpada, ele movimentou-se para fazer prevenir com antecedência o Exército Árabe Síria, o qual pôde evacuar a base antes do ataque.

A seguir, iniciou negociações com o Estado Profundo dos EUA, pelo menos com um dos seus porta-vozes, o Senador John McCain. Um representante de Israel, o Senador Lindsey Graham, assistiu às conversações.

Os europeus, ficam evidentemente surpresos por saber que Donald Trump se comportou como um "Senhor de Guerra" para se dar ares de presidente de um Estado-Membro da ONU. Ora, é preciso compreender o contexto particular dos EUA, onde o Estado Profundo é composto antes de mais por militares e, depois, só acessoriamente de civis.

Segundo as nossas informações, parece que o presidente Trump terá aceito renunciar – de momento – ao desmantelamento da Otan e do seu componente civil, a União Europeia. Esta decisão implica que Washington continua a considerar – ou finge considerar – que a Rússia é o seu inimigo principal. Por seu lado, o Estado Profundo dos EUA teria aceite renunciar apoiar os jihadistas e prosseguir o plano britânico das "Primaveras Árabes".

Para selar este acordo, duas personalidades neoconservadoras deverão entrar proximamente na Administração Trump e aí dirigir a política europeia:

- Kurt Volker, o director do McCain Institute (Universidade do Estado do Arizona) seria nomeado diretor do Gabinete Eurásia do Secretariado de Estado. Volker, um antigo juiz militar, foi o embaixador do presidente Bush Jr. na Otan durante a guerra da Geórgia (Agosto de 2008).

- Enquanto que Tom Goffus, um dos assistentes de McCain na Comissão Senatorial das Forças Armadas, seria nomeado assistente-adjunto do Secretário da Defesa para a Europa e a Otan. Goffus é um oficial da Força Aérea, que já tinha desempenhado este tipo de funções junto de Hillary Clinton e do Conselho Nacional de Segurança.

 
No que toca à Síria, este acordo, se for ratificado pelas duas partes, deverá marcar o fim da guerra dos Estados Unidos contra a República Árabe Síria; guerra que prosseguiria por iniciativa do Reino Unido e de Israel, com os seus aliados (Alemanha, Arábia Saudita, França, Turquia, etc.). Pouco a pouco, os pretensos "Amigos da Síria", que reunia 130 Estados e Organizações internacionais em 2012, reduzem-se. Eles não são mais do que 10 hoje em dia.

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008). 


Tradução de Alva, do origial no Al-Watan (Síria)

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