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domingo, 16 de fevereiro de 2014

MEMÓRIA POLÍTICA Getúlio Vargas e os boêmios da industrialização

Chamados de ''boêmios cívicos'', quatro nordestinos idealizaram políticas 

desenvolvimentistas no País. Grupo foi uma estratégia para neutralizar o Congresso

Publicado em 16/02/2014, às 06h00

O Palácio do Catete, Rio de Janeiro, capital federal – ano de 1951 – estava com o expediente encerrado. Era madrugada. Atraído por uma luz que sempre ficava acesa em uma das salas do primeiro piso do palácio, também residência oficial da Presidência da República, o presidente Getúlio Vargas (PTB) desce as escadarias decidido a descobrir o que acontecia no local. Daria um flagrante. Não faz barulho. Ao abrir a porta, depara-se surpreso com a sua Assessoria Econômica trabalhando até altas horas. Todos se levantam. Vargas evita atrapalhar, mas deixa uma frase de reconhecimento que se tornaria a marca histórica daquele grupo dedicado de economistas: “Vocês são uns boêmios cívicos!”.

INFOGRÁFICO

boêmios
Vargas saudava a equipe de quatro jovens escolhidos pelo presidente da República para planejar o desenvolvimento do País e que se tornaram os estrategistas da industrialização brasileira no segundo governo (1951-1954) da Era Vargas. Não por coincidência, os quatro boêmios cívicos eram nordestinos: o baiano Rômulo de Almeida, 37 anos; o paraibano Cleantho Leite, 30; o cearense Jesus Pereira, 41; e o maranhense Ignácio Rangel, 37. Com o grupo, Vargas queria também enfrentar a desigualdade regional.

Os quatro acabaram idealizadores de estatais como Petrobras, Eletrobras, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (hoje, BNDES), Banco do Nordeste (BNB) e Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).

Para o segundo governo, Getúlio Vargas, eleito pelo povo, decidiu criar e fortalecer uma Assessoria Econômica, equipe que se tornaria responsável pelo desenvolvimento político-institucional do País, idealizando a constituição de instituições que viriam a ser fundamentais para o nascimento do Estado moderno brasileiro. A história da constituição desse grupo nordestino e do seu papel nesse processo de modernização está vindo a público no livro Os Boêmios Cívicos,  lançado pelo Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, sediado no Rio, e marca os 60 anos do fim da Era Vargas.

No dia 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas – pressionado a renunciar por opositores e militares – cometeria o suicídio que traumatizou o País, mas levou o presidente da República a entrar para a história como um dos maiores personagens da República. Personagem que inspira ainda hoje a legislação trabalhista do País e deixou o legado de grandes estatais indutoras do crescimento econômico brasileiro. O livro Os Boêmios Cívicos – A Assessoria Político-Econômica de Vargas tem a organização do cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcos Costa Lima, um dos autores da pesquisa.
Ao ter uma assessoria econômica formada por nordestinos, além de montar um governo nacional-desenvolvimentista, o projeto de Brasil de Vargas visava a reduzir o estágio de desequilíbrio entre o Nordeste e Centro-Sul. “Os quatro boêmios cívicos eram nordestinos e conhecedores dos problemas da Região”, destaca no texto o pesquisador.

Os quatro jovens técnicos tinham a formação em Direito, mas acabaram se especializando em economia. Rômulo de Almeida, de Santo Antônio de Jesus, na Bahia; Jesus Pereira, de Assaré, Sertão do Ceará; Cleantho de Paiva Leite, de João Pessoa, Paraíba; e Ignácio Rangel, de Mirador, no Maranhão. Todos advogados por formação, exceto Jesus Pereira, um cientista social. “São personagens atuantes no delineamento do processo de industrialização. Todos servidores públicos que tiveram papel decisivo no segundo governo Vargas”, revela Marcos Lima.

Das ideias e do trabalho de planejamento desse grupo nasceram estatais, planos e políticas de desenvolvimento do Brasil e regionais. A Assessoria de Vargas é citada como “uma estratégia política de neutralização dos partidos e do Congresso”. Para isso, o presidente decide ter “uma burocracia técnica ativa, altamente criativa e estruturadora de grandes projetos”.

As ideias nacionalistas de um Estado brasileiro indutor do desenvolvimento dos “boêmios cívicos” iriam mais tarde influenciar o projeto de emancipação regional constituído, em 1958, no governo Juscelino Kubitschek, via Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). O órgão foi idealizado e coordenado pelo economista Celso Furtado, que compartilhava das ideias nacionalistas-desenvolvimentistas da equipe econômica de Vargas. A Era Vargas, 

historicamente, é o período de 19 anos – 15 anos como ditador – do gaúcho de São Borja que liderou a Revolução de 30, fim da Velha República, começo da Repúblicas Nova. O primeiro governo de 1930 a 1945. No meio, em 1937, instalou a ditadura do Estado Novo.

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