América Latina
1 de dezembro de 2017 - 10h00
Entre as mudanças, o general Manuel Quevedo assumiu o Ministério de Petróleo e Energia e a presidência da empresa estatal Petróleo da Venezuela S.A (PDVSA). Já o ex-governador do estado de Táchira (na fronteira com a Colômbia) José Vilema Mora, também militar, é o novo ministro de Comércio Exterior e Investimentos Internacionais. Para o Ministério de Habitação, foi nomeado o general Ildemaro Villarroel. E para a Missão Transporte, assume o militar Carlos Osório.
Para a analista política colombiana Maria Fernanda Barreto, do site de notícias venezuelano Misión Verdad, as alterações visam tirar a Venezuela da crise em que se encontra. "A área econômica vai continuar tendo mudanças drásticas daqui até fevereiro. Isso é necessário para sair da crise em que estamos. As novas estratégias do governo exigem mudanças", destaca Maria Fernanda.
O governo da Venezuela, junto com a Comissão de Economia da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), prepara um pacote que será divulgado nas próximas semanas, segundo informações da ANC.
No mês passado, o governo já tinha anunciado alterações no ministério de Economia e Finanças. O antigo ministro Ramón Lobo Moreno foi para a presidência do Banco Central da Venezuela, e o ex-diretor financeiro da PDVSA Simón Zerpa assumiu a pasta de Economia.
"A alteração no Ministério de Comércio Exterior, realizada essa semana, está associada com a nomeação do novo ministro de Economia e Finanças, feita em outubro. Essas nomeações têm a ver com essa guinada na área econômica, entre dezembro e fevereiro", explica Barreto.
Combate à corrupção
Além disso, o governo venezuelano começou uma verdadeira cruzada contra a corrupção dentro da PDVSA. Investigações realizadas pelo Ministério Público, iniciadas em agosto, apontam um esquema de desvio de bilhões de dólares desta que é a maior empresa do país e o motor da economia venezuelana, responsável 85% dos recursos financeiros do Estado. "No caso da PDVSA, estava claro que vinham por aí algumas mudanças", indica a analista política.
Desde que começaram as investigações, o presidente Nicolás Maduro tem dado apoio e respaldo ao procurador geral Tarek William Saab.
Dentro disso, o ex-presidente da companhia petroleira Nelson Martinez, que já dirigiu a Citgo, maior subsidiária da PDVSA nos Estados Unidos, foi denunciado pelo Ministério Público por supostas irregularidades quando esteve na gestão desta empresa.
"A saída de Nelson Martinez da presidência da PDVSA tem a ver com a fraude na renegociação da dívida da Citgo", aponta o jornalista venezuelano Victor Hugo Majano, que coordena uma página web dedicada ao jornalismo investigativo chamada La Tabla.
Na última semana foram presos cinco diretores e o atual presidente da subsidiária, acusados de assinar contrato fraudulento entre uma refinaria de petróleo venezuelana nos EUA e empresas financeiras estadunidenses, com o objetivo de refinanciar uma dívida adquirida entre 2014 e 2015.
Também existem suspeitas de que o presidente da Citgo, José Ángel Pereira Ruimwyk, que agora está preso, tenha fornecido informações confidenciais das operações da empresa para multinacionais estrangeiras, em fevereiro de 2014, de acordo com documentos difundidos pela página WikiLeaks. Essas informações teriam sido entregues à empresa Conoco Phillps, com quem a Venezuela tem uma disputa judicial internacional devido à expropriação feita pelo ex-presidente Hugo Chávez, em 2006. Essas informações foram fornecidas pelo procurador-geral Tarek William Saab, durante entrevista coletiva na semana passada.
Segundo Victor Hugo Majano, toda essa empreitada contra a corrupção, impulsionada pelo governo venezuelano, faz parte do esforço econômico para sair da crise. Ele garante que a mudança nos ministérios e na presidência da PDVSA são medidas de uma luta anticorrupção, que foi imposta pelo diminuição dos recursos do petróleo e pelo incremento do custo de produção.
"Todos esses casos de corrupção impactaram no custo da produção de petróleo da PDVSA. O Estado perde muito, pois a produção de um barril de petróleo, hoje, está acima de 20 dólares, quando, historicamente, sempre esteve em torno dos 10 ou 12 dólares. A corrupção começou, efetivamente, a causar danos ao país", explica o jornalista venezuelano.
Além disso, Majano chama a atenção para o fato de o novo presidente da PDVSA, Manuel Quevedo, não ter ligação com o setor petroleiro. "O governo nomeou uma equipe para gerir a indústria petroleira que não tem vínculo com o setor. Isso pode indicar que existe uma desconfiança com os quadros que vinham dirigindo o processo. Isso representa um aprofundamento na luta contra a corrupção", ressalta.
Já a analista política Maria Fernanda Barreto destaca que o general Quevedo também preenche os quesitos de "um quadro técnico, um bom gestor, em um momento em que governo precisa de mais eficiência" para ajustar as contas. "No caso específico de Quevedo, tem mais a ver com fato de que ele demonstrou grande capacidade técnica de gestão frente a Grande Missão de Moradia [em espanhol, Gran Misión Vivienda, programa de construção de casas populares]. Uma pessoa que teve uma capacidade organizava e que pode contribuir com o resgate da indústria petroleira", afirma.
Mais militares
Sobre o aumento da participação dos militares na gestão do governo, Maria Fernanda Barreto acredita que tem menos a ver com disputas políticas e mais com a formação de quadros técnicos dentro das Forças Armadas e com a boa imagem que estas dispõem diante da sociedade venezuelana.
A analista colombiana, radicada na Venezuela, explica ainda que a relação cívico-militar na Venezuela é muito particular. "É difícil para quem está fora do país entender a relação entre as Forças Armadas e o povo venezuelano, e porque não é mal visto o fato de ter militares no governo. Os militares têm uma imagem de ordem e, inclusive, são mais eficientes na gestão pública. No caso de Quevedo posso dizer que ele demonstrou ser um quadro técnico eficiente e, também, bastante leal à Revolução Bolivariana", aponta.
Além dos quatro novos ministros, outros setores importantes do país também têm militares à frente. Estes são os casos da distribuição pública de alimentos subsidiados pelo governo, por meio da Grande Missão Abastecimento Soberano; o comando da Companhia Militar de Indústrias Mineiras, Petrolíferas e de Gás, a maior empresa pública de extração minerais do país; e, claro, o Ministério da Defesa, chefiado pelo general Vladimir Padrino López, liderança máxima dentro das Forças Armadas da Venezuela.
Desde que o ex-presidente Hugo Chávez assumiu o poder, em 1999, na época capitão do Exército quando entrou para a política, o governo venezuelano sempre manteve relação muito próxima com as Forças de Segurança. Agora, com o presidente Maduro, essa relação foi aprofundada. Atualmente, pelo menos 14 dos 32 ministros são comandados por militares ou ex-militares.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou esta semana quatro novos ministros. As alterações no governo fazem parte da nova estratégia que a Presidência prepara para enfrentar a crise econômica que vem assolando o país, como explicam analistas consultados pelo Brasil de Fato
Entre as mudanças, o general Manuel Quevedo assumiu o Ministério de Petróleo e Energia e a presidência da empresa estatal Petróleo da Venezuela S.A (PDVSA). Já o ex-governador do estado de Táchira (na fronteira com a Colômbia) José Vilema Mora, também militar, é o novo ministro de Comércio Exterior e Investimentos Internacionais. Para o Ministério de Habitação, foi nomeado o general Ildemaro Villarroel. E para a Missão Transporte, assume o militar Carlos Osório.
Para a analista política colombiana Maria Fernanda Barreto, do site de notícias venezuelano Misión Verdad, as alterações visam tirar a Venezuela da crise em que se encontra. "A área econômica vai continuar tendo mudanças drásticas daqui até fevereiro. Isso é necessário para sair da crise em que estamos. As novas estratégias do governo exigem mudanças", destaca Maria Fernanda.
O governo da Venezuela, junto com a Comissão de Economia da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), prepara um pacote que será divulgado nas próximas semanas, segundo informações da ANC.
No mês passado, o governo já tinha anunciado alterações no ministério de Economia e Finanças. O antigo ministro Ramón Lobo Moreno foi para a presidência do Banco Central da Venezuela, e o ex-diretor financeiro da PDVSA Simón Zerpa assumiu a pasta de Economia.
"A alteração no Ministério de Comércio Exterior, realizada essa semana, está associada com a nomeação do novo ministro de Economia e Finanças, feita em outubro. Essas nomeações têm a ver com essa guinada na área econômica, entre dezembro e fevereiro", explica Barreto.
Combate à corrupção
Além disso, o governo venezuelano começou uma verdadeira cruzada contra a corrupção dentro da PDVSA. Investigações realizadas pelo Ministério Público, iniciadas em agosto, apontam um esquema de desvio de bilhões de dólares desta que é a maior empresa do país e o motor da economia venezuelana, responsável 85% dos recursos financeiros do Estado. "No caso da PDVSA, estava claro que vinham por aí algumas mudanças", indica a analista política.
Desde que começaram as investigações, o presidente Nicolás Maduro tem dado apoio e respaldo ao procurador geral Tarek William Saab.
Dentro disso, o ex-presidente da companhia petroleira Nelson Martinez, que já dirigiu a Citgo, maior subsidiária da PDVSA nos Estados Unidos, foi denunciado pelo Ministério Público por supostas irregularidades quando esteve na gestão desta empresa.
"A saída de Nelson Martinez da presidência da PDVSA tem a ver com a fraude na renegociação da dívida da Citgo", aponta o jornalista venezuelano Victor Hugo Majano, que coordena uma página web dedicada ao jornalismo investigativo chamada La Tabla.
Na última semana foram presos cinco diretores e o atual presidente da subsidiária, acusados de assinar contrato fraudulento entre uma refinaria de petróleo venezuelana nos EUA e empresas financeiras estadunidenses, com o objetivo de refinanciar uma dívida adquirida entre 2014 e 2015.
Também existem suspeitas de que o presidente da Citgo, José Ángel Pereira Ruimwyk, que agora está preso, tenha fornecido informações confidenciais das operações da empresa para multinacionais estrangeiras, em fevereiro de 2014, de acordo com documentos difundidos pela página WikiLeaks. Essas informações teriam sido entregues à empresa Conoco Phillps, com quem a Venezuela tem uma disputa judicial internacional devido à expropriação feita pelo ex-presidente Hugo Chávez, em 2006. Essas informações foram fornecidas pelo procurador-geral Tarek William Saab, durante entrevista coletiva na semana passada.
Segundo Victor Hugo Majano, toda essa empreitada contra a corrupção, impulsionada pelo governo venezuelano, faz parte do esforço econômico para sair da crise. Ele garante que a mudança nos ministérios e na presidência da PDVSA são medidas de uma luta anticorrupção, que foi imposta pelo diminuição dos recursos do petróleo e pelo incremento do custo de produção.
"Todos esses casos de corrupção impactaram no custo da produção de petróleo da PDVSA. O Estado perde muito, pois a produção de um barril de petróleo, hoje, está acima de 20 dólares, quando, historicamente, sempre esteve em torno dos 10 ou 12 dólares. A corrupção começou, efetivamente, a causar danos ao país", explica o jornalista venezuelano.
Além disso, Majano chama a atenção para o fato de o novo presidente da PDVSA, Manuel Quevedo, não ter ligação com o setor petroleiro. "O governo nomeou uma equipe para gerir a indústria petroleira que não tem vínculo com o setor. Isso pode indicar que existe uma desconfiança com os quadros que vinham dirigindo o processo. Isso representa um aprofundamento na luta contra a corrupção", ressalta.
Já a analista política Maria Fernanda Barreto destaca que o general Quevedo também preenche os quesitos de "um quadro técnico, um bom gestor, em um momento em que governo precisa de mais eficiência" para ajustar as contas. "No caso específico de Quevedo, tem mais a ver com fato de que ele demonstrou grande capacidade técnica de gestão frente a Grande Missão de Moradia [em espanhol, Gran Misión Vivienda, programa de construção de casas populares]. Uma pessoa que teve uma capacidade organizava e que pode contribuir com o resgate da indústria petroleira", afirma.
Mais militares
Sobre o aumento da participação dos militares na gestão do governo, Maria Fernanda Barreto acredita que tem menos a ver com disputas políticas e mais com a formação de quadros técnicos dentro das Forças Armadas e com a boa imagem que estas dispõem diante da sociedade venezuelana.
A analista colombiana, radicada na Venezuela, explica ainda que a relação cívico-militar na Venezuela é muito particular. "É difícil para quem está fora do país entender a relação entre as Forças Armadas e o povo venezuelano, e porque não é mal visto o fato de ter militares no governo. Os militares têm uma imagem de ordem e, inclusive, são mais eficientes na gestão pública. No caso de Quevedo posso dizer que ele demonstrou ser um quadro técnico eficiente e, também, bastante leal à Revolução Bolivariana", aponta.
Além dos quatro novos ministros, outros setores importantes do país também têm militares à frente. Estes são os casos da distribuição pública de alimentos subsidiados pelo governo, por meio da Grande Missão Abastecimento Soberano; o comando da Companhia Militar de Indústrias Mineiras, Petrolíferas e de Gás, a maior empresa pública de extração minerais do país; e, claro, o Ministério da Defesa, chefiado pelo general Vladimir Padrino López, liderança máxima dentro das Forças Armadas da Venezuela.
Desde que o ex-presidente Hugo Chávez assumiu o poder, em 1999, na época capitão do Exército quando entrou para a política, o governo venezuelano sempre manteve relação muito próxima com as Forças de Segurança. Agora, com o presidente Maduro, essa relação foi aprofundada. Atualmente, pelo menos 14 dos 32 ministros são comandados por militares ou ex-militares.
Fonte: Opera Mundi
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