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domingo, 30 de março de 2014

Comportamento » Jovens recifenses no ritmo da dança de rua

Rebeca Silva - Diario de Pernambuco

Publicação: 30/03/2014 02:37


Meninos do KS Nervoso e Swing Quebraê se reúnem três vezes por semana para dançar. 
Eles dizem que é uma forma de reduzir a violência na área onde moram e tirar os jovens do mundo do crime. Fotos: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press
Meninos do KS Nervoso e Swing Quebraê se reúnem três vezes por semana para dançar. Eles dizem que é uma forma de reduzir a violência na área onde moram e tirar os jovens do mundo do crime. Fotos: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press
Três vezes por semana, nas comunidades de Santo Amaro e da Ilha do Joaneiro, o ponto de encontro são as duas academias da cidade que margeiam a Avenida Agamenon Magalhães no sentido Recife-Olinda. Lá, jovens com idades entre 14 e 25 anos se reúnem a partir das 19h. O som é alto e o ritmo é frenético. Alguns moradores se reúnem para assistir. Meia-hora depois, os adolescentes se posicionam e começam a dançar músicas de swingueira, até por volta das 22h. É uma festa. Dois grupos distintos, o KS Nervoso, que ensaia no polo da Ilha do Joaneiro e tem cerca de 50 integrantes, e o Swing Quebraê, do polo Santo Amaro e com dez membros, entram na mesma sintonia quando dançam juntos. Fato apenas esporádico. Juntos ou não, vê-los chama atenção. Eles estão na contramão de muitos moradores de seus bairros, considerados violentos.

O técnico de TV a cabo Josival Paulino Monte, 23, conhecido como Nino, e o amigo Jhonatan Farias, 22, são os coreógrafos do KS Nervoso. O grupo foi formado há três meses, com a união de duas equipes. Seus integrantes são de várias comunidades mas que, curiosamente, encontraram em Santo Amaro uma oportunidade de lazer e de fuga dos problemas e das drogas. A violência no bairro, inclusive, tem se reduzido. De acordo com a Secretaria de Defesa Social, de 2012 a 2013 foram 31,44% de diminuição, passando de 55 para 38 o número de vítimas de Crimes Violentos Letais Intencionais. “Se eu não estivesse aqui, estaria na vida louca, fazendo coisa errada. Convite não faltou. Comecei a dançar há dois anos e não quero mais parar”, disse Nino, que é morador do Coque. 

Jovens transformam a noite de Santo Amaro em uma festa
Jovens transformam a noite de Santo Amaro em uma festa

O grupo se encontra às terças, quintas e sábados. Os passos, conta Nino, são criados entre a interação das batidas da música e do corpo e priorizam a mistura de ritmos. “Preferimos o estilo travani, que é jogando o corpo e parando. Antes fazíamos só o rebolado. Focamos no que a música está pedindo e o corpo parece que funciona como um instrumento. Do nada o passo sai”, afirmou. O Swing Quebraê, que tem os estudantes Everson Tenório, 20, e Dayna Matias Cardoso, 16, como líderes, ensaia às segundas, quartas e sextas-feiras na Academia da Cidade de Santo Amaro, quando chove ficam na associação do bairro.

Preconceito é obstáculo

Além das drogas, os jovens, em especial os meninos, enfrentam o preconceito. Homem “rebolando” é para alguns, afirmam, sinônimo de homossexualidade. E é fugindo deste rótulo que muitos desistem da dança. Do grupo de 15 pessoas, apenas cinco são do sexo masculino. Um dos meninos saiu do grupo porque virou motivo de piada entre os amigos. No Swing Quebraê, só há um homem.

De cabelos oxigenados e óculos modernos, Jhonatan Farias ignora os julgamentos, que começaram quando ainda era criança. “Desde que comecei a dançar, ouvi falarem que isso era negócio de gay, mas eu nem ligava. É com a dança que ganho a vida e não fico fazendo besteira na rua. A música está no meu sangue”, afirmou Farias.

O estudante Brainner Nascimento Alves, 19 anos, também foi alvo de preconceito dos amigos. Mas seguiu em frente, em busca do bem-estar proporcionado pela dança e pelo ambiente de lazer nos ensaios. “Para mim é uma terapia, uma forma de tirar o estresse. Quando brigo com meu irmão e tenho problemas em casa, venho dançar e chego mais relaxado. Alguns amigos dizem que sou gay mas mas não ligo porque me sinto bem aqui”, disse. No grupo KS Nervoso há três meses, Brainner, que é morador do bairro de Afogados, a cerca de 8 km de Santo Amaro, precisa pegar metrô e ônibus. “Eu volto às 22h. Fica um pouco tarde e perigoso para eu voltar mas eu não quero desistir da swingueira”.

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