00:00 · 04.12.2015 / atualizado às 00:15
Brasília. Deflagrado o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT), o Palácio do Planalto resolveu trabalhar para apressar o desfecho do processo, enquanto parte da oposição prefere prolongar a discussão até 2016. Ontem, o governo começou cedo a montar uma operação para convencer ministros e deputados federais da base aliada que era melhor acelerar a tramitação. Primeiro, o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) se reuniu com líderes e à tarde Dilma se encontrou com 23 ministros.
A notificação do processo de impedimento que foi encaminhada para a presidente foi devidamente recebida pelo Planalto. A documentação foi entregue à subchefia de Assuntos Parlamentares da Presidência da República no fim da tarde de ontem, após a leitura do parecer que autorizou a abertura do processo, feita por Cunha, em Plenário.
A estratégia do governo é adiantar a votação no Congresso para não mudar a avaliação de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), retaliou o PT ao acatar o pedido. Nas palavras de auxiliares da presidente, "o pecado inicial de Cunha" será usado pelo governo para "deslegitimá-lo".
Essa deve ser a linha adotada após o fracasso das ações que o governo preparou para encaminhar ao STF pedindo a suspensão do pedido.
De acordo com o informado por Cunha durante a leitura, a presidente Dilma terá até dez sessões para apresentar sua defesa formal à comissão especial. O prazo será contado a partir da data da eleição dos membros da comissão, segunda-feira. Com a defesa apresentada, a comissão especial terá até cinco sessões para proferir o parecer pela procedência ou não do processo.
O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, disse que Dilma "está com pressa" para votar o impeachment. De acordo com ele, não é "razoável" que haja recesso durante a tramitação de uma ação como essa, a partir de 23 de dezembro.
Mesmo assim, o ministro ponderou que a decisão de entrar ou não em recesso fica nas mãos de Cunha e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Para suspendê-lo, as duas Casas legislativas teriam de aprovar a decisão.
Berzoini pediu rapidez no processo sob avaliação de que uma extensão do caso até os primeiros meses de 2016, além de representar "sangramento em praça pública", pode dar margem ao crescimento de movimentos contrários a Dilma e de dissidências dentro da base aliada.
Oposição
Por outro lado, em uma guinada repentina, líderes da oposição na Câmara e no Senado passaram a defender que o Congresso entre em recesso. A avaliação é que, sem mobilização popular, o governo esfriaria a discussão sobre o impeachment. Essa percepção, no entanto, não é uma unanimidade. "Talvez, o recesso seja um momento para os parlamentares se encontrarem com as suas bases, com aqueles que aqui representam, e colherem de forma mais direta um sentimento que é amplo na sociedade brasileira, de que a presidente vem perdendo as condições objetivas de governar o País", declarou o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG).
O líder tucano no Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), traçou um paralelo com o processo de impedimento do ex-presidente Fernando Collor.
"O impeachment do Collor nasceu na rua e veio para o Congresso Nacional. Agora, o pedido nasce no Congresso e tem que ir para a rua", afirmou o senador paraibano.
Por outro lado, o senador José Serra (SP) têm defendido que é melhor para o País que haja um desfecho célere. O tucano disparou uma série de mensagens a colegas de Parlamento defendendo que manter o Brasil em suspense é irresponsabilidade.
Ontem, Eduardo Cunha criou oficialmente a comissão especial, primeiro passo para o início da discussão do processo de impeachment. As indicações dos deputados criaram uma nova queda de braço entre Cunha e Dilma e racharam o PMDB.
Em reunião com os líderes, Berzoini defendeu que é essencial emplacar tanto o presidente como o relator. Em outra frente, o peemedebista tenta segurar um dos postos para político de sua confiança.
Com divisões entre defensores e opositores do impeachment, deputados do PMDB e do PSD ameaçam retaliar o líder da bancada caso ele indique apenas representantes do Palácio do Planalto para o órgão.
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