Os jornais dão conta hoje de que a busca policial encontrou, no bolso de um dos paletós de Eduardo Cunha, uma cópia do registro das ameaças sofridas pelo ex-relator de seu processo ético na Câmara dos Deputados, Fausto Pinatto.
Como na imagem clássica, Cunha – ao pedir a investigação sobre as declarações de Pinatto de que havia sido intimidado daquela forma – revela neste pequeno detalhe o que todos sabem: é um mafioso, cínico ao ponto de ordenar a morte e levar flores ao enterro.
Aliás, natureza que bem pode ser ilustrada com seu cartão de Natal a Dilma Rousseff.
Dito o que todos já sabem, resta saber quem permitiu a um desclassificado, um marginal com traços de psicopatia, um ladrão público, chegar aonde chegou e ter, hoje, no bolso de seu paletó, os destinos de um país continental e o governo que 54,5 milhões de votos legitimou.
Porque agora, na desgraça, salvo seus capangas com mandato, ninguém assume mais o patrocínio deste inacreditável processo de chantagem política a que foi submetido o nosso país.
Calhordas na política sempre houve, aqui e em toda parte do mundo, mas é preciso que haja uma estufa para que atinjam o grau letal que Cunha alcançou.
Cunha chegou à Presidência da Câmara com mais que o apoio do PMDB e da bancada de deputados que financiou, agora se sabe com que recursos.
Seu caminho contou com o PSDB, com o DEM e com os festejos da mídia que o via como era: uma víbora enrodilhada, pronta a acuar e paralisar o Governo Dilma, com as presas venenosas de seu poder institucional no parlamento.
Suas pautas-bomba, uma a uma, acossaram uma administração forçada, todo o tempo, a mendigar apoio para limitar os danos que elas causavam.
A demora imposta por Gilmar Mendes à decisão de vetar o financiamento privado das campanhas permitiu-lhe arregimentar maiorias para – a pretexto, recordem, de preservar os dinheiros públicos, ideia francamente apoiada pela mídia – manter abertas as burras que transformaram em negócio a política brasileira.
E vieram a terceirização, a redução da maioridade e tudo o mais que lhe valia os aplausos do “Brasil moderno”, já se vê o quanto, pela vocação escravagista.
Pensávamos que o ápice tinha chegado com a chantagem do impeachment, que levou a seu lado, posando sorridentes para a posteridade, todo o lixo perfumado de nossa política, os guris fascistóides, os moralistas possuídos, os juristas senis.
As contas na Suíça, as latas de carne moída, o “usufrutário” dos trusts e muito mais já haviam desnudado Cunha na praça ao ponto de um cego ver suas vergonhas.
Ainda assim, num ato em que ninguém teve a coragem de considerar institucional, mas um gesto de vingança e retaliação por tentar fazer com que ele respondesse pelo que fez, ele acolheu o pedido de impeachment e lançou o país na crise institucional que agora enfrenta.
Coisa de bandido, mas bandido útil.
Lançaram-se todos , sem cogitar um segundo sobre quem lhes servia o pasto, sobre o prato saboroso do poder.
Até a atitude aética e imoral de um vice-presidente sem votos, desavergonhado ao ponto de oferecer-se como capaz de “unir o Brasil”, não teve nos sábios da mídia uma palavra sobre quem lhe propiciava a perspectiva indigna de poder.
Tudo valeu, tudo valia e, esperam, tudo valerá.
Restava, ou ainda resta hoje e talvez amanhã, a Corte Suprema do país.
Veremos se seguirá o caminho do cínico opróbrio que lhe abriu ontem o Ministro Luís Fachin, ao dizer que, no Olimpo da pureza, o crime se perpetra “dentro da lei”.
Claro: os histéricos do fascismo e os patronos do golpe o observam e sua excelência talvez não lhes queira nos calcanhares, a chamá-lo de “governista” porque põe algum freio ao que fez um bandido útil que escancarou-lhes as portas do poder.
Afinal, eles sabem ser mais convincentes e mais gentis que os emissários de Cunha mandados dar recados para Fausto Pinatto, que registrou o boletim de ocorrência que repousava no bolso do paletó do “capo”.
No mesmo bolso do paletó onde repousou por meses o pedido de impeachment que há dias ele afinal sacou e disparou contra o Governo, na ilegítima defesa de suas falcatruas.
É isso o que está, afinal, em julgamento hoje, embora suas excelências portem-se com maneiras e palavras de ascetas.
E, na sua pureza hipócrita, terminem de enfiar o país de 200 milhões de habitantes e o voto da maioria de seus cidadãos na imundície do bolso do paletó do Cunha.
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