Bairro do Recife, antes e depois do Porto Digital

Série do FolhaPE resgata história e mudanças do bairro com a chegada do Porto

Digital há 15 anos

26/11/2015 06:00 - Peterson Mayrinck, do FolhaPE

Alfeu Tavares/Folha de Pernambuco

O Bairro do Recife tem uma longa história, com o desenvolvimento dos primeiros esboços do que viria a ser a capital pernambucana. Se a Cidade começou com o Porto do Recife no século XVI, foi o Porto Digital - criado em julho de 2000 - que lançou as fundações para o futuro não apenas do bairro, mas até mesmo do Estado. O perímetro da vizinhança foi sendo desenhado ao longo dos anos – os dois portos, ruas e pessoas assumiram nomes, papéis e propósitos diferentes com o passar do tempo. E é para celebrar esse papel transformador do Porto Digital na entidade do recifense que o Portal FolhaPE e a Folha de Pernambuco trazem uma série especial sobre a chegada do parque tecnológico ao bairro, a importância atual e os projetos futuros da instituição, construídos ao longo dos últimos 15 anos. A primeira matéria no jornal já saiu nesta quinta-feira (26), no caderno de Economia. Acompanhe as matérias do portal, que seguem até domingo (29).

A história da cidade – e, por extensão, do bairro que recebe seu nome – está intimamente ligada ao Porto do Recife. Ao longo da faixa litorânea, próximo às muralhas de arrecife que dominam o horizonte de quem olha da terra, o navegador português Pero Lopes de Sousa teria descoberto um ancoradouro seguro ali, que veio a ser chamado de Arrecife dos Navios em seu Diário de Viagem (1530-1532). Foi este porto que o donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho, estabeleceu na região. “Recife nasce como povoação portuária ligada a Olinda. De 1535 a 1630, o Recife chega ao número de 40 casas, algo minúsculo”, comenta o arquiteto, urbanista e historiador José Luis Mota Menezes.

Já nos anos 1920, a região passou por uma profunda ressignificação urbana: parte da localidade, ainda em estilo colonial, foi demolida e deu lugar às construções de inspiração da Belle-époque francesa. Esta é a atual área do triângulo formado pelas pontes Maurício de Nassau e Buarque de Macedo e o Marco Zero, afetada pela construção do Porto do Recife em 1924, tomando o lugar do antigo Cais da Lingueta, como era chamado à época. 

Piera Lobo/Folha de Pernambuco

Ponte é uma das entradas e saídas do bairro

As mudanças foram tão significativas que o escritor pernambucano Mário Sette relata, em seu livro Arruar, de 1932, o espanto de não reconhecer mais a região. “Quem avalia o antigo bairro do Recife torturado de ruas estreitas e becos incríveis de tortuosidade; o Largo do Corpo Santo, o Beco das Sete Casas, a Rua da Cadeia, o Arco do Bom Jesus, a Doca do Arsenal, o Cais da Companhia Pernambucana... Tudo isto sumiu na paisagem da cidade”, conta o cronista.

As ruas estreitas do antigo bairro foram dando lugar às avenidas modernas – é desta época a Marquês de Olinda, que suplantou a rua da Cadeia, por exemplo. A região entrava na modernidade, capitaneada pela visão de uma Europa parisiense. A vida movimentada da região se manteve até meados dos anos 1960, quando começou a decadência do bairro.

“O Bairro do Recife foi reduzido a uma espécie de periferia central e encarado pela população da cidade como uma área marginal, sob todos os aspectos”, conta a socióloga Sevy Madureira em seu livro “Bairro do Recife: a revitalização e o porto seguro da boemia”. A aparência de modernidade erguida ao longo do século XX cedeu à degradação. O Bairro do Recife se tornou sinônimo de prostituição – prédios antigos, como o Chanteclair, serviam de prostíbulo que atraíam diferentes tipos de frequentadores. “Estas transformações refletem não apenas a queda do poder econômico local e a queda da função portuária em nível regional, mas também soma-se a estes aspectos a revolução cultural que bem marca essa década”, explica Sevy.

Rogério França/Arquivo Folha

Porto Digital completou ressignificação do bairro, com foco no mercado de tecnologia da informação

Já no fim da década de 1980, o poder público começou a reordenar o espaço urbano da área. As casas de prostituição começaram a ser fechadas e a área passou por uma época de revitalização dos casarios e das fachadas. Esse renascimento fez emergir uma vida cultural e noturna pela qual o local ainda hoje é conhecido e frequentado.

Foi nesse ambiente de ressurgência do bairro no mapa recifense que o Porto Digital chegou, em julho de 2000, para diversificar não apenas a economia da região, mas também a população que trabalha na área. O Bairro do Recife se tornou sinônimo de inovação e setor produtivo de tecnologia.