A jornalista Joana Côrtes mergulhou em documentos e na história dos próprios pais para compor
a obra
Publicado em 24/11/2015, às 05h42
Do JC Online
A autora, Joana Côrtes, com a sua família
Divulgação
A história de militância política e de resistência dos próprios País não era tão conhecida assim pela jornalista sergipana Joana Côrtes. Ela sabia que o pai, Bosco Rolemberg, havia sido preso pela ditadura e ficado na Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá. Os detalhes do período, no entanto, eram ignorados. Ao mergulhar cada vez mais no passado afetivo – de caráter coletivo – da sua família, ela foi desenvolvendo uma vontade de conhecer mais sobre o assunto. No mestrado em História Social, na PUC de São Paulo, terminou criando a pesquisa que gerou o livro Dossiê Itamaracá: Cotidiano e Resistência dos Presos Políticos da Penitenciária Barreto Campelo (Arquivo Nacional).
A obra, vencedora do Prêmio de Pesquisa Memórias Reveladas de 2012, ganha lançamento nesta terça (24/11) no Recife, a partir das 19h, na Livraria Cultura do Paço Alfândega – Joana conversa com Pamela Almeida, autora de Os Vigilantes da Ordem. “O tema foi chegando a mim aos poucos. Aos 13 anos, achei em casa um documento sobre o processo que minha mãe respondeu em liberdade. Ela dizia que tinha sido obrigada a desfilar nua na carceragem do Dops (Departamento de Ordem Política e Social)”, relata Joana.
Como jornalista, ela foi fazendo trabalhos sobre os 40 anos do Dops e o aniversário do AI-5. “Estava comendo pelas bordas. Quando fiz uma exposição com obras do seu pai, tive contato com as suas correspondências e com fotos deles. Percebi que era uma história que eu não podia guardar, que era uma história de todo o Brasil. Eu fui lamber as minhas feridas”, comenta a autora.
No livro, ela conta a história dos presos da Penitenciária Barreto Campelo através de relatos, documentos, fotografias e cartas. Episódios como o da greve de fome dos presos, em 1978 – que depois se espalhou para o Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Ceará e Minas Gerais – são contados no volume. “Fazer o livro foi uma espécie de quebra-cabeça afetivo e histórico. Ele conta um pouco a história, mostra a cara e a coragem dessas pessoas”, define. Ela ressalta que as mulheres tiveram um papel fundamental nesses episódios, levando recados, brigando por justiça e criando uma rede de apoio aos presos.
Além disso, o Dossiê Itamaracá não poderia sair em momento importante, em que manifestantes pró-impeachment pedem a volta da ditadura ou defendem o seu legado. “É importante debater o assunto, mostrar o que foi a ditadura sem medo. Só recentemente a gente começou a fazer um pequeno esforço para entender a nossa história, com a Comissão da Verdade”, defende. “A busca da mãe de Fernando Santa Cruz (desaparecido da ditadura) pelo destino do filho e a da esposa de Amarildo pela verdade sobre a morte do marido mostra o que a ausência de debate e de justiça produziu no campo da tortura.”
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