A Cientista Social Ana Maria Prestes começou a sua militância no movimento estudantil secundarista, foi diretora da União da Juventude Socialista, integrou o Comitê Central do PCdoB e, atualmente, trabalha na Câmara dos Deputados; mãe de duas meninas, ela escreveu um livro em parceria com as filhas sobre o Dia Internacional das Mulheres e vai lança-lo via financiamento coletivo
Por Portal UNE
Sábado, 18 de junho de 2016
O século já é o de número 21, mas ainda assim há homens que digam que mulheres não deveriam estar na política. Ana Prestes, 38 anos, Mestra e Doutora em Ciência Política pela UFMG, influenciada pela trajetória da avó e influência para as próprias filhas, quer que esse pensamento seja coisa do passado. Para isso, ela aposta no futuro, nas futuras gerações de mulheres que hoje ainda são meninas e refletem sobre o mundo à sua volta.
A partir do movimento estudantil secundarista, Ana conheceu o grêmio da sua escola, em Goiânia (GO) e, ainda adolescente, fez parte da UBES, desviando-se da rota traçada pelo ideal de construção da “bela, recatada e do lar” do imaginário coletivo. Hoje, é filiada ao PCdoB, comunista convicta, conectada com as lutas atuais do país e, ao mesmo tempo com a história de sua própria família.
Ana é neta de Luiz Carlos Prestes e Maria do Carmo Ribeiro, militantes históricos do país e que têm suas vidas retratadas em livros, filmes, poemas, músicas e em outras partes do “folclore” da esquerda brasileira.
Ana nasceu em Moscou em 1977, época em que seus avós estavam exilados na ainda União Soviética por causa da perseguição da ditadura militar no Brasil. Foi lá que seu pai conheceu sua mãe, filha de Prestes. Ambos eram estudantes da Universidade Patrício Lumumba. Até os sete anos, Ana pode vivenciar a efervescência da “casa dos Prestes”, que recebida visitantes de todo o mundo por causa da figura do seu avô. Depois, voltou ao Brasil, para Goiânia, onde morou com a avó paterna.
“Nascer na `casa dos Prestes´ em Moscou foi algo que marcou toda minha trajetória. Acompanhei a vida do meu avô até os meus 12 anos, quando ele faleceu aos 92 no Rio de Janeiro. A casa era frequentada por artistas, intelectuais, dirigentes políticos de renome. Cresci muito admirada com todo aquele ambiente político e cultural no qual minha família estava inserida”, conta.
“Depois que meu avô faleceu, toda a minha admiração encontrou morada na figura de minha avó, Maria Prestes. Ela foi é minha maior referência de uma mulher de luta, feminista na essência”, relembra a sua maior inspiração. A avó de Ana virou uma referência também para as suas filhas: Helena, de dez anos, e Gabriela de seis. A bisavó é idolatrada pelas meninas, que têm um universo feminino e feminista bem forte em casa.
“Conversamos muito sobre mulheres que são referência nas artes, por exemplo, elas conhecem a biografia e a obra de Frida Kahlo, Tarsila do Amaral, Clarice Lispector. Também conversamos sobre quem foi Olga Benário e outras mulheres libertárias na política. Na escola, ambas são muito atentas e curiosas. Trazem várias questões para casa e debatemos, discutimos sobre tudo”, explica a mãe.
Foi a partir de uma discussão em sala de aula levada para a casa que surgiu a ideia de escrever um livro junto com as suas filhas. Helena, a mais velha, tinha um “dever de casa”: falar sobre o oito de março, o Dia Internacional das Mulheres. A reflexão de Ana e de Helena sobre a necessidade de transportar o feminismo para o mundo e a linguagem das crianças acabou em um projeto inesperado, o livro “Mirela”, escrito em conjunto pelas duas e pela irmã mais nova, com ilustração de Vanja Freitas.
Para levantar recursos e publicar a obra, elas recorreram ao financiamento coletivo por meio do site Catarse, onde pretendem arrecadar R$10mil e distribuir 500 cópias. Falta pouco. A meta está quase alcançada. Segundo Ana, caso ultrapasse o valor, a ideia é imprimir mais exemplares do livro. Torcemos!
Saiba mais sobre o livro:
Confira abaixo mais um pouco do bate papo com a cientista política Ana Maria Prestes:
A gente tem visto que outros livros para crianças lançados recentemente tratam do racismo e dos negros, da comunidade LGBT, do machismo e também das lutas populares. Ao mesmo tempo, isso gera uma reação conservadora, como ao livro distribuído pelo MEC que contemplava famílias de gays e lésbicas. Como você enxerga essa questão?
O que tenho observado, tanto através da minha profissão de cientista política e trabalhadora da Câmara dos Deputados, como da minha posição de mãe de aluna da escola pública, é um grande retrocesso. Existe uma onda conservadora que invadiu o Congresso Brasileiro e essa onda vem da sociedade. O aumento da influência de setores de igrejas pentecostais, por exemplo, e outras perspectivas conservadoras, que contaminam os debates sobre valores e costumes na sociedade chegou às escolas. Um exemplo disso foi a batalha para a aprovação do Plano Nacional da Educação em 2014 com o devido tratamento às abordagens escolares das questões de gênero. Prevaleceu o conservadorismo, infelizmente.
O que temos são bravas professoras e professores que tentam salvaguardar o espaço da sala de aula como um ambiente em que todos os debates e perspectivas são possíveis, sem segregacionismos e preconceitos. Temos também o movimento estudantil secundarista que enfrenta esta onda e trava uma batalha por respeito e igualdade dentro da escola.
A Internet, ao mesmo tempo em que ajuda um livro como o seu a chegar ao público é também um universo perigoso de destilação de ódio e ofensas racistas, machistas e LGBTfóbicas. Como você enxerga essa questão?z
A internet é a ágora dos tempos modernos, ela é a praça pública das pequenas cidades, ela é o espaço de interação social do nosso tempo. Portanto, nela entra tudo, do mais nobre ao mais vil. Penso que devemos aprender a lidar com ela e suas idiossincrasias. Sem exaltar demais suas vantagens ou nos amedrontar com suas ameaças. Um desafio grande é ensinar as crianças a lidar com este ambiente virtual e preservá-las dos perigos, tal como as preservamos dos acidentes de trânsito ou outras formas de vulnerabilidade nos ambientes presenciais.
O livro Mirela despertou em você uma vontade de escrever mais para esse público? Tem alguma nova ideia em mente?
Por enquanto estamos focadas na captação de recursos para publicar este livro. Minhas meninas brincam: “Mãe, você vai fazer o Mirela e o Dia do Trabalhador? Mirela e o Dia da Criança? Mirela e o 7 de setembro… Mirela e o Carnaval…” e elas se divertem com as hipóteses e soltam a imaginação dando largas risadas. Acho que será muito divertido quando estivermos com o livro da Mirela no próximo 8 de março em mãos e pudermos dialogar com as crianças.
A Mirela, personagem do livro, é branca, cabelos lisos, tem as feições de uma princesa. Acha que faltam mais personagens negros, gordos, até mesmo feios e fora de todos os estereótipos nas obras para as crianças?
Sim. Fiz esta mesma reflexão assim que a ilustração ficou pronta. Quando a Mirela nasceu na minha cabeça ela era uma menina qualquer, que poderia ser baixa ou alta, gorda ou magra, branca ou negra… não pensei muito nisso. Pensei nas reflexões que uma menina entre seus sete e nove anos faz ao ser perguntada sobre a origem do Dia Internacional da Mulher. Nossa ilustradora, a Vanja Freitas, percebeu que a Mirela tinha um vínculo muito forte comigo, com a Helena e a Gabriela e me pediu que enviasse fotos minhas de quando era criança e também fotos das meninas. Ela se inspirou em nós três para desenhar a Mirela, tanto é que lá em casa há disputa entre as meninas para saber com quem a Mirela se parece, mas a Mirela poderia ter mil outras feições. Eu penso que nos últimos anos o mercado editorial infanto-juvenil rompeu vários estereótipos e diversificou seus personagens de acordo com a diversidade da nossa sociedade. Avançamos muito nesse aspecto se compararmos com poucas décadas para trás, mas ainda há muito para avançar.
Veio à tona, recentemente, um crime que fez reacender o debate sobre a cultura do estupro e a cultura do machismo. Como você viu esse caso e as reações machistas de algumas pessoas que culparam a vítima. Acha importante a escola debater também assuntos com a cultura do estupro?
O caso do estupro coletivo da jovem Beatriz funcionou como uma faísca em um palheiro. Fez explodir uma pauta que é latente na sociedade brasileira. Revelou como nossas instituições estão permeadas pela cultura do machismo. Revelou como nossa sociedade ainda precisa avançar em termos de reconhecimento da vulnerabilidade da mulher nas relações sociais, familiares, religiosas, nos ambiente de trabalho, estudo, lazer. A busca de justificativas, quase inconsciente por vezes, demonstra um tecido cultural formado por séculos de patriarcado, em que se “organizou” o lugar da mulher na sociedade. Nesta “organização”, reforçada pelo sistema de ensino, pelas religiões, pelas construções sociais, a mulher precisa seguir um código de conduta sob a pena de ser “expulsa do paraíso” caso busque sua emancipação e sua liberdade em relação ao seu corpo e sua vida.
O ambiente escolar precisa debater a cultura do estupro! O ambiente escolar precisa debater a cultura do machismo! Se já é difícil conversar com crianças sobre a sexualidade, imagine conversar sobre o que é estupro. É muito difícil sim introduzir este tema com crianças que ainda estão em formação do seu corpo, de sua identidade e sua individualidade. No entanto, não podemos deixar as crianças como se vivessem em bolhas e nem relegar aquelas que estão expostas à vulnerabilidade social como “estranhos no ninho”. Elas precisam saber que a violência sexual existe, tanto com meninas como com meninos. Elas precisam saber que existe uma violência direcionada à mulher e que precisamos lutar contra ela.
No último domingo, eu levei minhas filhas para uma marcha em Brasília na qual depositamos flores na estátua da justiça em frente ao STF, como demonstração de nossa indignação frente aos crimes bárbaros como o da menina Beatriz. Eu não precisei entrar em detalhes com elas sobre o que a Beatriz sofreu ou sobre o que é o estupro na prática, mas disse pra elas que estávamos lá para lutar por um país sem violência contra a mulher. Minha caçula, Bibi, de 6 anos, voltou pra casa cantando: “mexeu com uma, mexeu com todas, mexeu com uma…”
A partir do movimento estudantil secundarista, Ana conheceu o grêmio da sua escola, em Goiânia (GO) e, ainda adolescente, fez parte da UBES, desviando-se da rota traçada pelo ideal de construção da “bela, recatada e do lar” do imaginário coletivo. Hoje, é filiada ao PCdoB, comunista convicta, conectada com as lutas atuais do país e, ao mesmo tempo com a história de sua própria família.
Ana é neta de Luiz Carlos Prestes e Maria do Carmo Ribeiro, militantes históricos do país e que têm suas vidas retratadas em livros, filmes, poemas, músicas e em outras partes do “folclore” da esquerda brasileira.
Ana nasceu em Moscou em 1977, época em que seus avós estavam exilados na ainda União Soviética por causa da perseguição da ditadura militar no Brasil. Foi lá que seu pai conheceu sua mãe, filha de Prestes. Ambos eram estudantes da Universidade Patrício Lumumba. Até os sete anos, Ana pode vivenciar a efervescência da “casa dos Prestes”, que recebida visitantes de todo o mundo por causa da figura do seu avô. Depois, voltou ao Brasil, para Goiânia, onde morou com a avó paterna.
“Nascer na `casa dos Prestes´ em Moscou foi algo que marcou toda minha trajetória. Acompanhei a vida do meu avô até os meus 12 anos, quando ele faleceu aos 92 no Rio de Janeiro. A casa era frequentada por artistas, intelectuais, dirigentes políticos de renome. Cresci muito admirada com todo aquele ambiente político e cultural no qual minha família estava inserida”, conta.
“Depois que meu avô faleceu, toda a minha admiração encontrou morada na figura de minha avó, Maria Prestes. Ela foi é minha maior referência de uma mulher de luta, feminista na essência”, relembra a sua maior inspiração. A avó de Ana virou uma referência também para as suas filhas: Helena, de dez anos, e Gabriela de seis. A bisavó é idolatrada pelas meninas, que têm um universo feminino e feminista bem forte em casa.
“Conversamos muito sobre mulheres que são referência nas artes, por exemplo, elas conhecem a biografia e a obra de Frida Kahlo, Tarsila do Amaral, Clarice Lispector. Também conversamos sobre quem foi Olga Benário e outras mulheres libertárias na política. Na escola, ambas são muito atentas e curiosas. Trazem várias questões para casa e debatemos, discutimos sobre tudo”, explica a mãe.
Foi a partir de uma discussão em sala de aula levada para a casa que surgiu a ideia de escrever um livro junto com as suas filhas. Helena, a mais velha, tinha um “dever de casa”: falar sobre o oito de março, o Dia Internacional das Mulheres. A reflexão de Ana e de Helena sobre a necessidade de transportar o feminismo para o mundo e a linguagem das crianças acabou em um projeto inesperado, o livro “Mirela”, escrito em conjunto pelas duas e pela irmã mais nova, com ilustração de Vanja Freitas.
Para levantar recursos e publicar a obra, elas recorreram ao financiamento coletivo por meio do site Catarse, onde pretendem arrecadar R$10mil e distribuir 500 cópias. Falta pouco. A meta está quase alcançada. Segundo Ana, caso ultrapasse o valor, a ideia é imprimir mais exemplares do livro. Torcemos!
Saiba mais sobre o livro:
Confira abaixo mais um pouco do bate papo com a cientista política Ana Maria Prestes:
A gente tem visto que outros livros para crianças lançados recentemente tratam do racismo e dos negros, da comunidade LGBT, do machismo e também das lutas populares. Ao mesmo tempo, isso gera uma reação conservadora, como ao livro distribuído pelo MEC que contemplava famílias de gays e lésbicas. Como você enxerga essa questão?
O que tenho observado, tanto através da minha profissão de cientista política e trabalhadora da Câmara dos Deputados, como da minha posição de mãe de aluna da escola pública, é um grande retrocesso. Existe uma onda conservadora que invadiu o Congresso Brasileiro e essa onda vem da sociedade. O aumento da influência de setores de igrejas pentecostais, por exemplo, e outras perspectivas conservadoras, que contaminam os debates sobre valores e costumes na sociedade chegou às escolas. Um exemplo disso foi a batalha para a aprovação do Plano Nacional da Educação em 2014 com o devido tratamento às abordagens escolares das questões de gênero. Prevaleceu o conservadorismo, infelizmente.
O que temos são bravas professoras e professores que tentam salvaguardar o espaço da sala de aula como um ambiente em que todos os debates e perspectivas são possíveis, sem segregacionismos e preconceitos. Temos também o movimento estudantil secundarista que enfrenta esta onda e trava uma batalha por respeito e igualdade dentro da escola.
A Internet, ao mesmo tempo em que ajuda um livro como o seu a chegar ao público é também um universo perigoso de destilação de ódio e ofensas racistas, machistas e LGBTfóbicas. Como você enxerga essa questão?z
A internet é a ágora dos tempos modernos, ela é a praça pública das pequenas cidades, ela é o espaço de interação social do nosso tempo. Portanto, nela entra tudo, do mais nobre ao mais vil. Penso que devemos aprender a lidar com ela e suas idiossincrasias. Sem exaltar demais suas vantagens ou nos amedrontar com suas ameaças. Um desafio grande é ensinar as crianças a lidar com este ambiente virtual e preservá-las dos perigos, tal como as preservamos dos acidentes de trânsito ou outras formas de vulnerabilidade nos ambientes presenciais.
O livro Mirela despertou em você uma vontade de escrever mais para esse público? Tem alguma nova ideia em mente?
Por enquanto estamos focadas na captação de recursos para publicar este livro. Minhas meninas brincam: “Mãe, você vai fazer o Mirela e o Dia do Trabalhador? Mirela e o Dia da Criança? Mirela e o 7 de setembro… Mirela e o Carnaval…” e elas se divertem com as hipóteses e soltam a imaginação dando largas risadas. Acho que será muito divertido quando estivermos com o livro da Mirela no próximo 8 de março em mãos e pudermos dialogar com as crianças.
A Mirela, personagem do livro, é branca, cabelos lisos, tem as feições de uma princesa. Acha que faltam mais personagens negros, gordos, até mesmo feios e fora de todos os estereótipos nas obras para as crianças?
Sim. Fiz esta mesma reflexão assim que a ilustração ficou pronta. Quando a Mirela nasceu na minha cabeça ela era uma menina qualquer, que poderia ser baixa ou alta, gorda ou magra, branca ou negra… não pensei muito nisso. Pensei nas reflexões que uma menina entre seus sete e nove anos faz ao ser perguntada sobre a origem do Dia Internacional da Mulher. Nossa ilustradora, a Vanja Freitas, percebeu que a Mirela tinha um vínculo muito forte comigo, com a Helena e a Gabriela e me pediu que enviasse fotos minhas de quando era criança e também fotos das meninas. Ela se inspirou em nós três para desenhar a Mirela, tanto é que lá em casa há disputa entre as meninas para saber com quem a Mirela se parece, mas a Mirela poderia ter mil outras feições. Eu penso que nos últimos anos o mercado editorial infanto-juvenil rompeu vários estereótipos e diversificou seus personagens de acordo com a diversidade da nossa sociedade. Avançamos muito nesse aspecto se compararmos com poucas décadas para trás, mas ainda há muito para avançar.
Veio à tona, recentemente, um crime que fez reacender o debate sobre a cultura do estupro e a cultura do machismo. Como você viu esse caso e as reações machistas de algumas pessoas que culparam a vítima. Acha importante a escola debater também assuntos com a cultura do estupro?
O caso do estupro coletivo da jovem Beatriz funcionou como uma faísca em um palheiro. Fez explodir uma pauta que é latente na sociedade brasileira. Revelou como nossas instituições estão permeadas pela cultura do machismo. Revelou como nossa sociedade ainda precisa avançar em termos de reconhecimento da vulnerabilidade da mulher nas relações sociais, familiares, religiosas, nos ambiente de trabalho, estudo, lazer. A busca de justificativas, quase inconsciente por vezes, demonstra um tecido cultural formado por séculos de patriarcado, em que se “organizou” o lugar da mulher na sociedade. Nesta “organização”, reforçada pelo sistema de ensino, pelas religiões, pelas construções sociais, a mulher precisa seguir um código de conduta sob a pena de ser “expulsa do paraíso” caso busque sua emancipação e sua liberdade em relação ao seu corpo e sua vida.
O ambiente escolar precisa debater a cultura do estupro! O ambiente escolar precisa debater a cultura do machismo! Se já é difícil conversar com crianças sobre a sexualidade, imagine conversar sobre o que é estupro. É muito difícil sim introduzir este tema com crianças que ainda estão em formação do seu corpo, de sua identidade e sua individualidade. No entanto, não podemos deixar as crianças como se vivessem em bolhas e nem relegar aquelas que estão expostas à vulnerabilidade social como “estranhos no ninho”. Elas precisam saber que a violência sexual existe, tanto com meninas como com meninos. Elas precisam saber que existe uma violência direcionada à mulher e que precisamos lutar contra ela.
No último domingo, eu levei minhas filhas para uma marcha em Brasília na qual depositamos flores na estátua da justiça em frente ao STF, como demonstração de nossa indignação frente aos crimes bárbaros como o da menina Beatriz. Eu não precisei entrar em detalhes com elas sobre o que a Beatriz sofreu ou sobre o que é o estupro na prática, mas disse pra elas que estávamos lá para lutar por um país sem violência contra a mulher. Minha caçula, Bibi, de 6 anos, voltou pra casa cantando: “mexeu com uma, mexeu com todas, mexeu com uma…”
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