O crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2017 ganhou repercussão na imprensa estrangeira, que mantém, contudo, ceticismo em relação a uma retomada da economia, especialmente diante do agravamento do quadro político. Analistas de mercado ouvidos pela mídia internacional mostraram-se igualmente reticentes, contrariando o discurso oficial do governo.
Por Olímpio Cruz
Lula Marques
O britânico Financial Times informa que o Brasil “se arrasta” para fora da recessão graças à safra recorde de soja, fato que não deve ter continuidade pela frente. A turbulência política continua a ser um risco para a maior economia da América Latina, uma interpretação de analistas ouvidos pela reportagem.“Os resultados do primeiro trimestre são leituras de antes desses eventos políticos [acusações contra o presidente Temer]”, afirma Campos Neto, da Consultoria Tendências, acrescentando que o escândalo “dificulta a recuperação econômica”. O texto assinala ainda que o PIB continuou a diminuir em relação ao ano anterior, contraindo 0,4% no primeiro trimestre.
O francês Le Monde chama de “falsa partida da economia brasileira” o resultado do PIB, destacando ainda a declaração de Temer de que o Brasil encontrou o caminho do crescimento. “Está longe disso”, aponta a correspondente Claire Gatinois. Em tom irônico, a jornalista destaca que “a maioria dos brasileiros, crivada de dívidas ou paralisada pelo desemprego, não tinha consciência”, mas a recuperação “estava ali à mão”. Entretanto, o crescimento do PIB de janeiro a março em comparação com os últimos três meses de 2016, chegou a 1% e, entretanto, “já parece obsoleto”.
Menos pessimista, o francês La Croix diz que, em meio à crise política, o Brasil emerge da recessão. E, embora o crescimento seja insuficiente, foi saudado por Temer.
Reuters traz despacho com o ministro das Finanças brasileiro, Henrique Meirelles, dizendo que é “normal” que o Banco Central sinalize que retardará o corte da taxa de juros de referência do país em meio à crise política, lembrando que a instituição já havia reduzido significativamente a taxa nos últimos meses. A agência EFE também destaca o crescimento da economia brasileira após oito quedas.
Associated Press também destaca o crescimento do PIB brasileiro, com Temer vendendo o fim da recessão. A reportagem, entretanto, diz que os dados compilados pelo IBGE são menos animadores. O PIB do primeiro trimestre ainda está 0,4 por cento abaixo do nível do ano anterior. O setor de serviços permaneceu estável e a indústria cresceu apenas 0,9 por cento. E reproduz análise do economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC: é “extremamente prematuro” falar no fim da recessão. O texto foi replicado pelo NYTimes e 2.620 veículos da mídia global.
O espanhol El País ressalta que todos os indicadores de consumo do mercado interno permanecem “encalhados no vermelho” pelo segundo ano consecutivo. O consumo das famílias, por exemplo, caiu de 1,9%. “Basta dar uma olhada na taxa de desemprego: - 14 milhões de pessoas para explicar”, pontua a reportagem. O investimento das empresas também diminuiu, como vem acontecendo em todos os trimestres dos últimos quatro anos. A taxa de investimento chegou a 15,6% do PIB, menor que no primeiro trimestre de 2016 (16,8%). É a menor desde 1995.
Em texto analítico, o correspondente da Bloomberg, David Biller, aponta que o escândalo de corrupção pode descarrilar as reformas e a recuperação da economia neste ano. “A recessão pode retornar como uma vingança pelo escândalo que abala o país”, aponta o título. O jornalista assinala também que o Brasil emergiu da recessão principalmente devido à agricultura.
Avaliações do mercado corroboram: “É apenas uma recuperação da agricultura”, disse Jankiel Santos, economista-chefe da Haitong. “Não podemos basear a recuperação da economia brasileira apenas na agricultura, não funciona assim. Precisamos de maior contribuição dos serviços e do consumo”.
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