O músico francês modificou a produção contemporânea
Por: Nahima Maciel - Correio Braziliense
Publicado em: 06/01/2016 11:44
Pierre Boulez foi um polemista feroz e um compositor brilhante. Foto: Dieter Nagl |
Último nome da vanguarda da música erudita do século 20, o compositor francês Pierre Boulez, morreu nesta terça-feira (5/01), aos 90 anos, em Baden Baden, na Alemanha. Nascido em 1925, Boulez foi o mais famoso dos compositores responsáveis por testar os limites da harmonia clássica e deu novos contornos à sonoridade erudita contemporânea. Primeiro com o dodecafonismo e depois com o serialismo, Boulez revolucionou a música em vários aspectos e era o nome mais conhecido de uma linhagem que contava com György Ligeti, Karlhein Stochausen e Luciano Berio.
Músico de caráter intempestivo e polêmico, o francês não hesitava em erguer a voz para apontar, criticar e defender suas concepções musicais. Coerência, apesar de algumas brigas que ficaram para a história da música, sempre foi a marca do compositor. A atuação de Boulez nunca ficou restrita ao mundo da composição. Era também um teórico referencial, um professor generoso, um consultor respeitado e um gerente capaz de revolucionar a sonoridade de uma orquestra. Ele dirigiu ainda as orquestras da BBC e de Cleveland. Suas pesquisa envolviam desde a atonalidade com o uso de equipamentos eletroacústicos até as conexões entre as artes, especialmente entre a música e pintura. Nomes como Jackson Pollock e Paul Klee inspiraram o compositor.
No mundo das instituições, Boulez foi figura de proa. Em 1971, substituiu Leonard Bernstein na Filarmônica de Nova York e levou para o repertório a vanguarda que nunca interessou ao antigo maestro. Também foi ele quem fundou, em 1976, o Ensemble Intercontemporain, primeiro grupo inteiramente dedicado à música contemporânea. Ele foi ainda conselheiro para a construção da Ópera da Bastilha e da Cidade da Música, em Paris, ambos espaços essenciais da vida musical internacional, e ajudou a fundar o Instituto de Pesquisa e Coordenação Acústica/Musical (Ircam), laboratório de pesquisa mantido pelo Centro Georges Pompidou.
Uma de suas polêmicas mais conhecidas foi a briga com André Malraux em 1962. Então ministro da cultura, Malraux criou uma comissão para reconfigurar certos aspectos da política relacionada à música. Embora o grupo defendesse as ideias de Boulez, o ministro preferiu seguir caminho conservador apontado por outro músicor. O compositor rompeu com a França e foi morar em Baden Baden. Outra de suas brigas famosas envolveu o conterrâneo e colega Olivier Messiaen, nome importante da vanguarda musicla europeia. Messiaen deu aulas a Boulez, que acabou por romper com o mestre depois de apontar limitações musicais nas composições do professor.
No universo da composição, Boulez foi, muitas vezes, radical. Em peças como Le marteau sans maître (1953) e Le visage nuptial (1951), ele leva ao extremo a atonalidade e o serialismo. No final da década de 1970, concebe uma de suas obras mais polêmicas ao montar Lulu, de Alban Berg, para a Ópera de Paris. Com direção do cineasta Patrice Chéreau, a montagem foi um das maiores provocações enfrentadas até então pelo público da casa e causou muita polêmica, mas acabou se tornando um dos pilares do repertório do teatro.
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