José Fucs ,
O Estado de S.Paulo
O Estado de S.Paulo
24 Fevereiro 2017 | 05h00
Passados sete meses do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o PT e outros partidos e organizações de esquerda ainda tentam encontrar o melhor caminho para se reerguer. Mas, embora cambaleante, a esquerda está se deleitando nas redes sociais com as divergências que pipocaram nos últimos dias entre grupos de direita e alguns de seus simpatizantes, em relação aos protestos em defesa da Lava a Jato e contra a corrupção, marcados para 26 de março.
“Está divertidíssimo acompanhar a polêmica, ou melhor, o barraco”, escreveu o jornalista Altamiro Borges, responsável pelo Blog do Miro e um entusiasmado defensor da tese do golpe, num post reproduzido pelo site Brasil 247, um dos mais populares entre os grupos de esquerda.
O bate-boca, que descambou para o campo das ofensas pessoais e poderá chegar à Justiça, envolve dois jornalistas identificados com a “nova direita” que surgiu no País nos últimos anos, à margem dos partidos políticos tradicionais, mas extrapola as idiossincrasias das redações. De um lado, está Reinaldo Azevedo, colunista do site da revista Veja e profissional de outros veículos de comunicação, que vem se manifestando de forma veemente contra a realização dos novos protestos. De outro, Joice Hasselmann, ex-âncora da TVeja, o canal de vídeo da revista, que apoia as manifestações, convocadas pelos principais grupos que organizaram os protestos pelo impeachment – o Vem pra Rua, o Movimento Brasil Livre e o Revoltados Online.
Diante da posição de Azevedo, que chamou apoiadores das manifestações de “direita xucra” e afirmou que eles vão favorecer o reerguimento da esquerda e a candidatura de Lula à Presidência, em 2018, Joice Hasselmann publicou um vídeo de oito minutos no Facebook em que perguntava o que tinha acontecido com “o nosso Reinaldo”. No vídeo, Joice cobrava uma mudança de posição do ex-colega da Veja, que teme a transformação dos protestos num “fora Temer”.
Azevedo reagiu por meio de um vídeo de 24 minutos publicado no site da rádio Jovem Pan. Ele reforçou sua posição contrária às manifestações, disse que sentia “vergonha” dos tempos em que participava de programas da TVeja ao lado de Joice e chamou-a de “doida”, “bruta”, “ser obscuro” e “coitada intelectual”. “Você é uma pessoa muito física, que gosta de encurtar distância”, afirmou.
Depois disso, novos golpes foram desferidos, de um lado e de outro. O vídeo de Joice tinha, até esta quarta-feira, 22, 226 mil visualizações. O de Azevedo, 210.490. Joice, assim como Azevedo, não respondeu aos contatos do Estado, mas afirmou, em mensagem no Twitter: “Agora é Justiça”, dando a entender que levará o caso aos Tribunais.
O economista Rodrigo Constantino, presidente do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e defensor em tempo integral das ideias do livre mercado, com pitadas de conservadorismo, saiu em apoio a Joice, no Facebook e no Twitter. Há meses, Constantino vem publicando posts em que faz o mesmo tipo de questionamento de Joice, um deles, publicado no início de fevereiro, intitulado Você está bem, Reinaldo Azevedo?. “A questão que ele levanta em relação às manifestações é importante, mas poderia ter respondido com elegância”, disse ao Estado.
O editor Carlos Andreazza, da editora Record, responsável pela publicação de alguns dos livros de Azevedo e de outros autores da “nova direita”, declarou apoio às suas ideias . Em artigo publicado no jornal O Globo, intitulado A quem interessa o 26 de março?, Andreazza mostrou sua preocupação com “a criminalização da atividade política” e reafirmou os argumentos de Azevedo, de que isso tende a beneficiar Lula e as esquerdas. “Num cenário de terra arrasada, em que os partidos são comparados ao PCC, em que todos são bandidos, só quem pode se fortalecer é o pior entre os piores”, afirmou. “Concordo com a síntese do Reinaldo Azevedo: se todos os políticos são iguais, Lula é o melhor.”
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