Não perca nenhum detalhe: tudo o que você precisa saber sobre a Operação Carne Fraca.
Por: Flávia Alves Figueirêdo Souza 28/03/2017 - 10:55
Foto: Ilustração / Carne
Da noite para o dia, você descobre que a carne que está na sua mesa do almoço e do jantar não é própria para consumo. E não é só isso, fica sabendo de uma Operação realizada pela Polícia Federal que vem investigando a qualidade da carne que nos é produzida e vendida. Não há garantias, não há confiança. Mas, o que é mesmo essa tal Operação Carne Fraca? E quem denomina essas Operações da Polícia?
A Operação Carne Fraca da Polícia Federal brasileira objetiva a destruição de um esquema forte de corrupção - que dessa vez não envolve traficantes ou políticos - com fiscais da agropecuária e donos de frigoríficas no país.
O que está acontecendo?
Segundo a Polícia Federal, o pessoal investigado recebia propina das empresas do ramo para emitirem certificados que atestassem a qualidade da carne que iria para o mercado, com isso, produtos vencidos, cheios de componentes que os "maquiassem" e com composição duvidosa no meio da carne vinham passando sem nenhum crivo direto para a mesa do consumidor. A coisa toda é maior do que pensamos: segundo o processo aberto, há dois funcionários do próprio Ministério da Agricultura que lideravam o esquema de corrupção - será que na casa deles tem carne na mesa? Além desdobramentos dessa prática, em que líderes autônomos atuam em diferentes lugares do país.
Quais são as empresas investigadas?
Frigorífico Oregon S.A.;
Frango Dm Indústria e Comércio de Alimentos Ltda;
Seara Alimentos Ltda, de Lapa;
Peccin Agro Industrial Ltda;
BRF S.A.;
Frigorífico Argus Ltda;
Frigomax Frigorífico e Comércio de Carnes Ltda;
Indústria e Comércio de Carnes Frigosantos Ltda;
Peccin Agro Industrial Ltda;
JJZ Alimentos S.A.;
Balsa Comércio de Alimentos;
Madero Indústria e Comércio S.A.;
Frigorífico Rainha da Paz Ltda;
Indústria de Laticínios SSPMALtda;
Breyer e Companhia Ltda;
Frigorífico Larissa Ltda;
Central de Carnes Paranaense Ltda;
Frigorífico Souza Ramos;
E H Constantino e Constantino Ltda;
Fábrica de Farinha de Carnes Castro Ltda;
e Transmeat Logística, Transportes e Serviços Ltda.
Em que ponto a Operação está?
Até ontem, foram 27 mandatos de prisão preventiva, 77 de condução coercitiva - a mesma que tirou o Lula de sua casa para depor à Operação Lava Jato, 194 de busca e apreensão e 11 mandatos de prisão temporária. Até agora, a lista chega a 21 estabelecimentos sob investigação. Sob responsabilidade do Ministério da Agricultura, mais de 30 fiscais foram desarticulados de suas atividades, por exoneração ou afastamento.
Como tudo começou?
Depois da denúncia de um dos fiscais em 2015 - estamos comendo carne com papelão desde muito antes disso, provavelmente - de que alguns de seus colegas estavam sendo desviados de suas funções originais para servirem a interesses particulares de grandes empresários, uma investigação foi aberta e se tomou conhecimento de um esquema de corrupção muito mais complexo que envolvia outros fiscais e a própria chefia do Ministério da Agricultura no Paraná. Com isso, intercepções telefônicas e quebra de sigilio fiscal e bancário dos suspeitos foram autorizadas, o que só confirmaram a denúncia original.
O que manda a lei?
A fiscalização de produtos de origem animal carece obrigatoriamente de que eles tenham um certificado do Serviço de Inspeção Federal, emitido pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, do Ministério da Agricultura, que os avaliza a serem comercializados nacional e internacionalmente. Para sua aquisição, a empresa tem de cumprir toda recomendação técnica e de higiene, permitindo que a carne seja vistoriada em todas as etapas de sua produção.
Existe ainda o serviço estadual que é necessário para o comécio da carne dentro dos estados, bem como o certificado municipal, válido para o consumo da carne na cidade.
E a gente com isso?
O consumidor brasileiro foi desrespeitado e está mais receoso quanto ao consumo da carne. Lá fora, a exportação da carne brasileira foi suspensa em 14 países e na União Europeia, embora o governo tenha se esforçado em travar diálogos internacionais que acalmem as autoridades estrangeiras. Propagandas comoventes e a declaração do presidente Michel Temer de que a carne nacional é a melhor do planeta são tentativas de abafar o susto e recuperar o crédito que a carne costumava ter entre os brasileiros, mas parece que as coisas não são tão simples assim.
O que as empresas investigadas dizem a respeito?
A BRF e a JBS recorreram às propagandas em horário nobre, mas foram motivo de piada. A BRF ainda negou todas as denúncias e repudiou a acusação de que usava papelão em sua carne moída, dizendo que foi um erro de interpretação da Polícia Federal. Argus se declarou inocente no Facebook. A JJZ Beef diz que, em todas as páginas do processo, só foi citada eventualmente em um parágrafo. O Rainha da Paz se diz inocente e ainda prometeu colaborar com a Polícia, as demais citadas não se manifestaram.
E agora?
A Polícia Federal, depois de criticada pelo seu modus operandi, declarou que esse tipo de irregularidade é uma exceção no mercado brasileiro. Os mandatos seguem renovados ou expirados e não há previsão de que os frigoríficos suspeitos voltem a funcionar.
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