*Lenivaldo Aragão
Época do mecenas James Thorp, o filho de inglês, caixa alta na White Martins, homem que gastou uma fortuna no Santa Cruz, ora como diretor de futebol, ora como presidente. Sua chegada diariamente ao Arruda causava um frisson. Sempre aparecia com um carro diferente, geralmente importado, pois possuía uma frota. A preferência era por um Mercedes Benz. Não tinha um pingo de preconceito e às vezes ficava nas arquibancadas, com o estádio ainda em construção, conversando com o povão. Era chamado de Seu Jime, ou O Galego. Às vezes tratavam-no como O Inglês.
Gastava a rodo no Santa e seu talão de cheques abriu caminho para o Tricolor sagrar-se pentacampeão (1969 a 1973). No ano do bicampeonato (1970), ele deu um Fusca zerinho a cada jogador que não tinha carro. Eu fiz a cobertura para o Diário de Pernambuco, da saída dos Volks, da agência Sael, na Avenida Cruz Cabugá, diretamente para o Arruda. À frente do desfile, Jorginho, o ponta-esquerda supercampeão de 1957, homem deconfiança de James. A explicação do Inglês para tamanha extravagância:
“Eu acho muito chato ver os jogadores do Santa Cruz chegando ao clube a pé, enquanto nossos adversários andam de carro”, explicou.
James não se esperava de um charuto, que tragava, sofregamente.
O técnico Gradim, responsável pelo primeiro título do Penta, em 1969, certa vez repreendeu o dirigente Negib Correia Lima por ter entrado fumando no vestiário, depois de um jogo. Negib humildemente acolheu a reclamação do treinador e apagou o cigarro.
Instantes depois aparece James, feliz da vida, charuto espalhando fumaça para todos os lados, e abraçando todo o mundo. Alguém chegou perto de Gradim e apontou:
“Chefe, olha o ‘homem’ fumando também.”
O técnico tricolor, com sua voz mansa, nem olhou. Com sua voz mansa, respondeu:
“Mas esse pode…”
*Colaborador