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domingo, 22 de dezembro de 2013

ARQUEOLOGIA Passado judaico perto da revelação

Peças ritualísticas encontradas em escavação na comunidade do Pilar, no Bairro do Recife, somam-

se a 51 esqueletos já desenterrados e apontam para existência de cemitério de judeus

Publicado em 22/12/2013, às 05h55

Cleide Alves

cleide@jc.com.br

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O cemitério histórico descoberto no antigo istmo do Bairro do Recife, este ano, ainda não se revelou por completo para os arqueólogos. Mas, cada punhado de areia retirado do terreno reforça a hipótese de ali ter existido sepultamentos com rituais judaicos nos séculos 16 ou 17. Uma peça de metal encontrada na área da escavação, com o desenho da Estrela de Davi e de uma menorá (o candelabro de sete braços, símbolo do Estado de Israel), pode ser o primeiro vestígio material dessa teoria.
Feita de alpaca – liga de cobre, níquel e zinco–, a peça apareceu misturada com a terra, no lugar onde os arqueólogos desenterraram 51 esqueletos humanos, desde janeiro. Não há sinais de roupa, sapato e acessórios (botão, fivela, anel, brinco) ou de caixões em nenhuma das ossadas e 50 delas estão na mesma posição, com os pés voltados para o mar, apontando para Jerusalém. Outro costume judaico identificado nos sepultamentos são os braços estendidos ao longo do corpo.
Judeus são enterrados envoltos apenas em panos. A ausência de restos de vestimentas é o indício mais forte de um cemitério israelita, diz a antropóloga da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Tânia Kaufman. Presidente do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, ela desenvolveu pesquisa sobre os achados a pedido de professoras do Departamento de Arqueologia da UFPE que coordenam as escavações.
A localização dos esqueletos confirma a área, na comunidade do Pilar, como um cemitério institucionalizado e não um local provisório de sepultamentos, afirma a antropóloga no artigo Cemitério no Arrecife dos Navios?, que ela assina com o pesquisador do Arquivo Judaico José Gustavo Ayres. O trabalho será publicado na Revista Clio da UFPE – Série de Arqueologia – em janeiro.
Dos 51 esqueletos, 13 passam por estudos em laboratório, onde é possível estimar idade, sexo e origem. São dez jovens adultos de 20 a 30 anos, dois adolescentes de 15 a 19 anos e um adulto de 45 a 50 anos. Todos são homens brancos europeus. “Até que ponto a origem europeia dos esqueletos aproxima-se de uma possível procedência judaica?”, reflete Tânia Kaufman.
No século 17, diz a pesquisadora, havia um cemitério para mortos de origem judaica, próximo do Rio Capibaribe, no bairro dos Coelhos. Porém, a partir de 1644, durante a Insurreição Pernambucana, os holandeses usavam a paliçada que protegia o cemitério para se defender do avanço das tropas luso-brasileiras, observa. “É possível que, em vista desse bloqueio, os enterros tenham acontecido no Bairro do Recife”, pondera a antropóloga.

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