Campos garante não ter dúvida de que ganhou 2013 (Foto: Raul Buarque/SEI)
Entrevista com Eduardo Campos (PSB), Governador de Pernambuco
Por Carol Brito, Patrícia Raposo, Pedro Ivo Bernardes, Renata Bezerra de Melo e Ricardo Barreto
Da Folha de Pernambuco
Prestes a se desincompatibilizar do cargo, o governador Eduardo Campos (PSB) concedeu, na quinta-feira passada, a sua última entrevista de balanço anual como gestor do Estado. De olho na disputa de 2014, ele entrou numa maratona de tirar o fôlego. Na manhã daquele dia, foi a Salvador acompanhar o lançamento da chapa do PSB ao governo estadual. À tarde, já de volta ao Recife, deu sucessivas entrevistas à imprensa local. Sua agenda avançou pela noite: ele foi o anfitrião de uma confraternização com empresários. Eduardo Campos é um homem determinado. Na busca pelo seu objetivo, não poupa críticas à administração da presidente Dilma Rousseff (PT), sua provável adversária. O socialista faz questão de deixar claro que há uma descontinuidade entre os avanços conquistados no Governo Lula e a administração atual. Por outro lado, aposta nos números positivos do Estado porque sabe que Pernambuco é a vitrine do seu projeto presidencial. Mas, se a conjuntura nacional está definida, o mesmo não se pode dizer do cenário local, onde ele se esquiva dos questionamentos sobre o candidato à sua sucessão e das críticas feitas pelos ex-aliados do PT e PTB. A fita verde do Senhor do Bonfim, que trouxe da Bahia atada ao seu pulso esquerdo, guarda seus mais profundos desejos. Alguém arrisca apontá-los?
Do balanço do seu governo, que áreas deixaram a desejar e onde poderia ter feito mais?
Eu acho que o ano deixa a desejar ao Brasil e à economia nacional. Ela (Dilma) poderia ter nos propiciado um ano melhor, até porque o mundo está melhorando e o Brasil, não. Isso terminou por impactar a vida de estados e municípios que tiveram perdas de receitas porque a atividade econômica não respondeu. Por outro lado, somos sócios de uma renúncia de receitas feitas pelo Governo Federal. Mas Pernambuco se antecipou. Somos o único Estado que fez uma política transversal transparente, clara e republicana, seja qual for o partido ou região. Graças ao Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (FEM), foram feitas obras nos diversos municípios. Essa é que é a pedra de toque hoje do futuro do País. É poder recolocar o País numa narrativa de longo prazo que também legue ao Brasil a retomada do crescimento econômico. Tivemos um crescimento na casa dos 4% em 2010 e crescimento na casa dos 2%, nos últimos três anos e o mundo aqui do lado crescendo na casa dos 3,5%. Nós estamos meio que andando de lado. Precisamos que o Brasil se reencontre. Nós somos a 10ª economia, mas depois de São Paulo, Minas e Rio quem mais investe é Pernambuco. Então, nosso legado e contribuição estão aí.
O investimento foi maior que o da Bahia onde o governador é do PT?
De janeiro a agosto, são os dados oficiais, Pernambuco teve R$ 2 bilhões, a Bahia teve R$ 700 milhões. Investimos três vezes mais.
Faltaram projetos na Bahia?
Eu só posso responder pelo meu governo. Nós fechamos em 2012 assim, vamos repetir em 2013 e em 2014, de novo. E isso por termos projeto, planejamento, que é algo que a gente resgatou no programa de governo em 2006. Estávamos com um projeto e colocamos em discussão no Todos por Pernambuco, que foi premiado pela ONU. Fizemos um modelo de gestão para a gente poder desenhar uma visão de Estado para políticas públicas. Na Saúde, não era só construir três hospitais, como era nosso compromisso. É pensar estrategicamente a atenção básica, a alta complexidade. É uma coisa estruturante que fica além do governo, não é para o governo. Além de três hospitais, fizemos 14 UPAs, 12 UPA-e, cinco hospitais na Mata Sul, recuperamos o hospital de Nazaré da Mata, assumimos o do câncer, estruturamos uma rede de cardiologia, de nefrologia e a materno-infantil. No transporte urbano, começamos em 2006. Fizemos pesquisas de origem e destino em 2008, usamos as janelas de oportunidade de financiamentos. Veio a Copa, conseguimos os financiamentos de organismos internacionais, o que gerou o legado de um conjunto de obras que terá em 2014 um grande impacto.
O Governo Federal está “roubando” seus projetos?
Não. Está usando os bons projetos, o que é uma coisa boa. Gosto muito quando recebo um prefeito que me traz um bom projeto. Fizemos um bom projeto do Arco Metropolitano, que é, claramente, a nova BR-101. Caberia, em tese, ao DNIT fazê-lo. Quando estávamos discutindo o plano de mobilidade urbana da RMR, os técnicos dessa área começaram a afirmar que a BR-101 passou a ser a quarta perimetral da cidade, ou seja, a primeira é a Agamenon. Quando foi no início deste ano, já com a Fiat em construção, eu disse à presidente Dilma que tinha projetos novos que devem ser incorporados e que eu gostaria de apresentar. Eu disse que não sabia se ela teria o dinheiro, mas que poderíamos fazer uma parceria ou PPP. Ela disse: “Você está colocando dinheiro na BR-101 urbana do Estado, lá é uma BR e está levando dinheiro para um corredor de ônibus, não é justo. Isso é uma BR nova, era obra típica do DNIT. Vamos dar um jeito do DNIT fazer”. Passamos cinco meses dialogando até que eles lançaram na segunda-feira. É uma obra muito importante e vai ajudar muito a vida da cidade.
O tempo do PT no País acabou?
Eu acho que nós estamos vivendo no País um processo que precisa ser bem compreendido. Vivemos um tempo muito delicado no qual, há três anos, perdemos altura no crescimento da economia; os serviços públicos estão colocados em xeque pela própria cidadania; o mercado vem exigindo mais eficiência e no serviço público a eficiência não é encontrada. Essa atitude toda reclama outro padrão e esse padrão do crescimento que não vem. Dá a sensação de que a gente pode perder o que acumulou. Nós podemos perder, se a inflação volta, fragiliza as instituições. Nesse ambiente, é hora de colocar o Brasil em debate. O PSB, a Rede e o PPS desejam oferecer ao Brasil a possibilidade de fazer esse debate.
A presidente pôs esse ponto final?
As circunstâncias históricas do ponto de vista econômico e social e político, nas quais a presidente está inserida, indicam que há na sociedade brasileira um grande desejo de mudança. Se você pega pesquisa de opinião pública em qualquer lugar no Brasil verá que o recorte entre os jovens é que 80% desejam fazer um câmbio no Governo Federal. Em 2010, 75% queriam continuidade e nós tivemos 44% dos votos no primeiro turno. Agora você tem 66% na média geral e vai até na casa dos 80% (querendo mudança).
O que é a nova política e como fazer as pessoas entenderem isso?
A nova política é um movimento que vem no Brasil de algum tempo. Muitos intelectuais e artistas vêm puxando isso. A própria Marina Silva puxou isso antes da Rede. É a perspectiva de a gente fazer uma releitura das instituições políticas, do chamado presidencialismo de coalizão. É uma crítica às alianças que vão de um extremo a outro sem o debate do estratégico. A nova política é a tentativa de fazer a democracia melhorar, de o povo não ser ouvido só na eleição. Não ter o mundo oficial distante do real, de colocar jovem, artista para dentro da política, recriar o ambiente da política como ambiente inovador. Esse é o ambiente da nova política e o novo não é a negação da política. O novo você não constrói em cima do nada, você constrói em cima do que já existe.
Não é contradição o senhor falar em novo quando pode ter Marina Silva na vice, já que ela tem um perfil conservador. Ela é contra o aborto, por exemplo. A legalização do aborto faz parte de uma nova política, concorda?
Não há ainda decisão sobre chapa (se Marina será vice). Eu acho que é preciso ver quais são os novos valores que devem ser fortalecidos num ciclo em que a gente não vai ter consenso sobre absolutamente tudo. Tem algumas questões que são essenciais. É preciso melhorar a eficiência e transparência na gestão publica. É preciso pensar na ideia de que se tem um código do consumidor e que é preciso ter um código do serviço público. Não tem que ter? Tem que ter coisas efetivamente inovadoras. Se na época de derrubar o Collor fôssemos escolher os apoios, não teríamos derrubado Collor. Se Lula não tivesse se aliado com um empresário como José de Alencar, talvez não tivesse vencido o preconceito e fosse eleito presidente da República.
A indefinição do papel de Marina Silva não dificulta o seu caminho para 2014?
Pelo contrário, Marina Silva tem um papel muito claro que é ajudar a consolidar esse projeto. Há 90 dias, ela criava um partido e era candidata. Domingo passado, fui para o Congresso Nacional da Rede com toda a Rede unida dizendo que foi certo o que foi feito. Estamos fazendo cada coisa ao seu tempo. Agora é tempo de pensar o programa de governo. Nesses 90 dias, eu ouvi muita coisa. Os que não gostaram começaram a desenvolver teses, que pessoas da Rede são complicadas e com estilo diferente do PSB. Então, fizemos os seminários e começamos a discutir nossas diferenças e semelhanças. A outra que Marina e Eduardo não iam dar certo porque Eduardo tem ‘x’ e Marina tem ‘y’, inclusive nos jornais eu disse que não tem problema nenhum entre mim e Marina. Essa tese desapareceu. Depois que os problemas regionais iam ser insuperáveis. Quando vemos no mapa, temos 20 lugares em que a situação está resolvida. A outra que a gente ia ficar isolado, aí veio o PPS.
O senhor fará um ato de oficialização da sua candidatura em fevereiro, mas que só se desincompatibiliza do cargo em abril. Não fica um espaço muito grande de diferença?
Eu acho que essa discussão é irrelevante, se vai ser cinco dias para frente, dez para trás. Entre fevereiro e março será um tempo de muitas definições Brasil a fora. O fato é que estou pronto para decidir o que for melhor para o Brasil em 2014.
O senhor ganhou 2013?
Eu acho que ninguém duvida disso. Por onde eu ando Brasil a fora, não vejo ninguém duvidando disso. Você concluir o ano com tantas entregas do ponto administrativo e, do político, nosso partido crescendo, sendo respeitado pela sociedade brasileira… Você não pode dizer que não ganhamos 2013. Só se for muita má vontade dizer que não ganhei. Acho que nem os que estão com medo do PSB nesse instante são capazes de admitir. Essa é a leitura da mídia inteira. Para quem faz análise política, nós surpreendemos.
O senhor até pouco tempo fazia parte da base de Dilma e hoje está mais próximo do concorrente Aécio Neves. Como explicar isso?
Nós ajudamos a construir essa caminhada e não foi de hoje. Nossa caminhada não começou em 1989, não. Nosso partido é de 1947. Mas a última vez que estive num palanque nacional com Aécio foi na campanha de Tancredo Neves, em 85, eu tinha 20 anos. De lá para cá, sempre estive em outro conjunto político, mas não estive só nas horas boas, não. Estive em todas as horas, sobretudo, nas mais difíceis. Apoiamos todas as lutas da Frente Brasil Popular. Agora, o que é melhor para o Brasil neste momento? O que fazer com o Nordeste, que ainda tem 28% da população e 13% das riquezas? Em sete anos, reduzimos a violência. Você ter redução de mortalidade infantil… Nós éramos acima do Nordeste e do Brasil, e chegar a ser a mais baixa do Nordeste e estar abaixo do Brasil… Fazer na Segurança o que fizemos, na Educação o que fizemos, na Saúde. Na economia, reduzir o desemprego à metade. Dizer que a gente não tem o direito de fazer esse debate com o Brasil? É claro que nós temos. Esse direito não ofende o direito de ninguém.
Lula lhe pediu para não sair candidato em troca de apoio em 2018?
Nunca tive com o presidente nenhuma conversa nesses termos. Eu tenho muito respeito por Lula. Tenho uma relação não só política, mas pessoal que quero preservar e ele também. Ele vai respeitar minha posição política e vou respeitar a posição política dele. Vou continuar dizendo que ele é um grande brasileiro, que foi o melhor presidente da República para os pernambucanos e ter presidente pernambucano foi bom para Pernambuco e para o Brasil. E que bom que o Brasil poderá ter um presidente pernambucano eleito em 2014.