Decisão sobre chapa será em "total harmonia e consonância com o PTB" (Foto: Marcelo Montanini/Folha de Pernambuco)
















Por Marcelo Montanini
Da Folha de Pernambuco
Uma das principais lideranças do PT em Pernambuco, o senador Humberto Costa critica a postura do Governo de Pernambuco, que, segundo ele, não tem mostrado a participação da União nas obras e ações realizadas no Estado através de verbas e programas federais. O petista reclama, nesta entrevista à Folha de Pernambuco, que as obras são inauguradas sem representantes da gestão Dilma Rousseff (PT) e afirma, categórico: “Tudo aqui tem o dedo do Governo Federal”. Apesar do clima de animosidade que cresceu entre os dois partidos nos últimos meses, o parlamentar acredita que, num eventual segundo turno, a base do PSB tenderia a apoiar a reeleição da presidente, contra o candidato do PSDB, mesmo que Eduardo Campos diga apoiar Aécio.
Qual o balanço que o senhor faz do seu mandato no Senado até aqui?
Eu tenho procurado e conseguido atender às expectativas da população de Pernambuco. Tenho sido um parlamentar que participa das coisas mais importantes relativas ao Estado. Relator da medida provisória que permitiu que a Fiat viesse para cá, tive papel importante na negociação para que Suape não perdesse sua autonomia, tenho participação neste debate sobre a Transposição do Rio São Francisco, a temática do pacto federativo, além de continuar trabalhando em coisas que dizem respeito ao Brasil como um todo. A questão da saúde, da segurança pública e de combate à corrupção também. Acredito que tenho procurado e conseguido honrar o voto que tive do povo de Pernambuco.
Outrora, o PSDB criticava o programa Bolsa Família, agora, Aécio Neves (PSDB), já anunciou que quer transformá-lo em uma política de Estado. Como o senhor avalia isso?
Acho que é uma manifestação de desconhecimento de como o programa funciona. Ele pretende vincular o programa Bolsa Família à Lei Orgânica da Assistência Social. Só que o programa é uma coisa mais ampla, não apenas uma distribuição dos recursos para famílias mais pobres, mas passa pelo processo educacional, profissional e pelo incentivo ao empreendedorismo. E todas as garantias que ele (Aécio) quer dar, já existem. Eu acho que essa preocupação que ele tem hoje, pode ser por outra razão, talvez com receio que se use o fato de o PSDB sempre ter sido contra o programa.
No último encontro de prefeitos, gestores – muitos ligados ao PSB – reclamaram do Governo Federal. No entanto, até outubro, o partido fazia parte do Governo, no Ministério da Integração Nacional – área estratégica de combate à seca. Como o senhor recebe essas críticas?
Acho que é uma crítica injusta, até porque nós tivemos muitas políticas importantes, do Governo Dilma, para o Nordeste e para os municípios, por exemplo, se nós não tivéssemos todos os recursos que foram disponibilizados ao Nordeste, estaríamos vivendo as mesmas condições do passado, de fome, de êxodo rural. Nós tivemos muitas ações importantes, que não tiveram uma ligação direta com a seca, como no caso de distribuições de máquinas – um investimento de R$ 1,5 milhão por cada prefeitura e a grande maioria delas não teriam condições de comprar aquele tipo de máquina -, hoje cumprem um papel muito importante. É verdade que, de um lado, tivemos a desoneração do IPI, que reduziu estes recursos, mas o Governo fez a compensação de quase o correspondente a uma parcela do FPM, paga agora em setembro e a outra metade será no mês de abril. E o Mais Médicos é o programa que está dando o maior respaldo hoje aos prefeitos. Eles estão sendo os grandes beneficiários, porque eram também os mais cobrados por essa falta de acesso das pessoas ao atendimento médico. É uma avaliação injusta e tem uma conotação política.
A visita de Dilma Rousseff a Pernambuco pode ter sido por causa de uma agenda administrativa, mas, diante da atual conjuntura, não se pode negar que teve conotações política.
Dilma estava devendo uma visita ao Estado e por várias vezes convidamos, pedimos e ela achou melhor não vir para não parecer estar afrontando o governador. Afinal de contas, todos nós tínhamos uma esperança de estarmos juntos, não queríamos briga com ele, porém terminou acontecendo de Pernambuco ser o estado do nordeste que ela não havia visitado. O objetivo principal era a administrativa, mas, obviamente, que numa situação como essa que estamos vivendo, com o Governo sendo muito criticado, ela também tinha o interesse e a responsabilidade de prestar contas a Pernambuco, dizer que o Governo Federal ajudou fundamentalmente o Estado – tudo aqui tem o dedo do Governo Federal – e também dizer que o compromisso dela com o Estado independe de quem estiver no Governo.
Governo Estadual reclama a paternidade de um lado e o Federal de outro. Quem está certo?
Ninguém faz nada se não tiver os recursos. O Governo Federal tem como papel regulamentar, estabelecer como deve funcionar, financiar as políticas e em alguns casos até executar. Mas a execução deve ser de quem está mais próximo, da prefeitura, do Governo Estadual. O Governo Federal tem feito isso com todos os entes. Por exemplo, a maior obra do Governo de Jaboatão (dos Guararapes) foi a engorda da praia. Praticamente, todo recurso foi do Governo Federal, por volta de R$ 40 milhões, da mesma forma o Governo do Estado teve o repasse de recurso para muitas obras. O que nós reclamamos não é que o Governo Estadual diga que está fazendo, mas que diga que o Governo Federal está financiando e fazendo também. É isso que falta, o reconhecimento do papel, obras que são inauguradas sem a presença de representantes do Governo Federal, e Dilma veio para dizer que “somos parte deste sucesso também”. Qualquer que seja o desenho em Pernambuco, sendo dois candidatos da base de sustentação de Dilma ou sendo um só, é lógico que vamos mostrar tudo que foi feito pelo Governo Federal aqui, até porque fazemos parte deste projeto, mas é óbvio que a campanha não poderá ser só isso. Vamos ter que mostrar o que precisa melhorar e vamos mostrar também o que é que nós pensamos para Pernambuco.
Há alguma possibilidade de dividir o palanque com Eduardo Campos no 2º turno?
Primeiro, vamos lutar para tentar vencer a eleição no 1º turno, não é impossível, mas reconhecemos que é difícil. Segundo, eu entendo que não é apenas a cúpula que decide o posicionamento do partido. Acho muito pouco provável que, num eventual 2º turno, a força orgânica do PSB, caso o partido não estiver, deixe de apoiar o PT. Isso é uma coisa natural, o PSB tem uma origem de esquerda, tem relacionamento conosco e muitos integrantes gostariam de estar numa aliança com o PT, pode até o candidato dizer que apoia Aécio, mas acho que a base do partido vem toda para apoiar Dilma.
A aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos desperta alguma preocupação ao PT?
Lógico que, num primeiro momento, deu uma dimensão de conhecimento sobre a candidatura do PSB, abriu caminhos e espaços, mas tudo também tem um preço. Estamos assistindo a dificuldades nas alianças estaduais, nos debates da questão programática. Até o presente momento, a aliança não redundou numa transferência de intenção de votos mais expressiva de Marina para Eduardo. Não existe vice forte, o vice pode ser bom para ser uma cereja no bolo, mas o que pesa mesmo é candidato e este será Eduardo.
O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) é um dos maiores críticos do PT. Há a especulação de que, se ele não tiver o apoio de Eduardo, iria junto ao PTB. Ainda assim, o PT tentaria se alinhar ao PTB?
Nosso empenho é que o PMDB-PE apoie a candidatura de Dilma. Já foi dito ao presidente do PMDB (senador Valdir Raupp) e ao vice-presidente da República (Michel Temer), que não faz sentido o PMDB querer cobrar posições do PT no Rio de Janeiro, no Maranhão e em outros lugares, se em Pernambuco o PMDB tem não só uma postura de oposição frontal a presidente Dilma. Nossa expectativa ainda é que o PMDB tome conta da situação de Pernambuco. Nesta condição, discutir uma aliança em termos locais se torna possível, mas nas condições atuais não vejo como isso caminhar.
Por que alguns petistas pernambucanos ainda não deixaram os cargos na gestão do PSB?
Porque não estão cumprindo uma decisão partidária. O PT reuniu o Diretório Estadual, definiu que o partido não tinha condições de permanecer no Governo do Estado e nem nas prefeituras de Recife e de Paulista, essa é uma posição que deveria ter sido respeitada e cumprida por todos. Houve alguns que acharam que deveriam recorrer dessa decisão. Eu espero que essa decisão se tome o mais rapidamente possível. E posso dizer sem nenhum medo de errar que a posição nacional vai ser de que eles devem sair dos governos (do PSB).
A militância e uma ala do PT deseja a candidatura própria ao Governo do Estado, porém, nos bastidores, corre que a cúpula do partido já teria dado o aval ao senador Armando Monteiro Neto (PTB). A decisão será horizontal ou vertical?
Essa é uma decisão que tem que ser o máximo possível consensual. Uma candidatura própria teria boas razões para acontecer – o PT colocando a cara depois de passar por este processo de crise tão grande, ter mais de uma candidatura facilita a condição de ter 2º turno são coisas que falam a favor da candidatura própria e temos nomes – eu defendo o do ex-prefeito João Paulo. Por outro lado, uma chapa única desde agora tem também coisas importantes, ajudaria na campanha de Dilma, que não teria que se dividir entre dois palanques, melhoraria as condições nossas de enfrentamento na chapa proporcional, de manter e crescer nossas bancadas estaduais e federais e fatalmente também o PT reivindicaria uma vaga no Senado. O que eu acho importante é que essa discussão no PT seja amadurecida e consensual e que seja uma decisão tomada em total harmonia e consonância com o PTB, de Armando Monteiro Neto.
O senhor já disse que a derrota na eleição municipal de 2012, ensinou ao PT muita coisa. Por que não houve ainda uma autoavaliação com todos os envolvidos?
Tem certos momentos que é melhor olhar para frente. Não quer dizer que os problemas do passado foram apagados ou que a gente desconhece, mas neste momento há coisas mais importantes para a gente fazer. Essa avaliação um dia, em breve, será feita. Talvez em algum momento que ela não seja feita de maneira apaixonada pelos protagonistas do processo, mas hoje o importante é olhar para frente.
Após a derrota da CNB, coma candidatura a prefeito, em 2012 e, agora, no PED, sua liderança foi abalada?
Não. Não houve derrotados nem vencedores. Nesta disputa o PT venceu. Tivemos (a CNB) votação expressiva e fizemos uma aliança interna que, até então, não havia acontecido, tomamos algumas atitudes simbólicas importantes e esse entendimento quebrou um clima de animosidade que havia anteriormente, acho que todo mundo ganhou. Nós (da CNB) ganhamos na maior parte das cidades, perdemos no Recife. Perdemos em termos, 58 votos não é vitória ou derrota numa disputa como esta. Temos que levar em consideração que a CNB, dentro deste ataque que foi feito ao PT, foi o que mais perdeu, nós tínhamos o deputado Isaltino (Nascimento), o deputado Maurício Rands e outras lideranças que tinham peso e saíram do partido. Ao contrário, a CNB, apesar de ter sofrido todo esse processo de esvaziamento, ainda conseguiu disputar palmo a palmo esse PED, foi uma demonstração de força.