Da coluna de Guilherme Boulos na Folha:
Recebi nesta quarta-feira (8) uma ligação da direção da Folha dizendo que esta seria minha última coluna. Não estranhei. Estranhei, na verdade, que essa ligação tenha demorado tanto tempo para acontecer. Tenho posições antagônicas às do jornal e, principalmente, uma militância que incomoda a maior parte dos leitores e anunciantes que o mantém.
O argumento dado foi de uma renovação “natural”, uma rotatividade de colunistas. Pode ser. Porém, até pelo momento em que ocorre, me parece impossível não relacionar o gesto ao acampamento do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) na Paulista, com todas as reações de hostilidade que gerou em empresários e associações sediadas naquela avenida.
A gritaria de desqualificação da luta do movimento acaba dando o tom na maioria do leitorado da Folha, cada vez mais conservador. Sucumbir a esta grita é tentador.
Saio pela porta da frente, sem ter recuado em nenhuma de minhas posições nesses mais de dois anos escrevendo para o jornal. Devo dizer também que em nenhum momento houve intervenção no conteúdo do que publiquei.
Quando decidi aceitar esta coluna, numa decisão tomada junto com meus companheiros de militância, foi pelo esforço de dialogar com um público mais amplo do que aquele que está próximo dos movimentos sociais.
Funcionou, para o bem e para o mal. Frequentemente meus textos tornaram-se objeto da ruminação rançosa dos comentadores de internet. É o que sabem fazer. Como disse Criolo, cada um dá o que tem, quem tem ódio dá ódio. Mas os textos também chegaram em gente que lê com espírito aberto e ajudaram a quebrar preconceitos sobre a luta do movimento popular.
(…)
Nenhum comentário:
Postar um comentário