Multidão em Monteiro saudou ex-presidente diante de obra da transposição do São Francisco
Dilma diz que petista não pode ser impedido de concorrer no "tapetão", em referência à Lava Jato
São Paulo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu um lugar carregado de simbolismo para lançar de vez sua pré-candidatura à presidência em 2018. O petista reuniu uma multidão neste domingo no sertão da Paraíba em uma espécie de comício para fazer uma "inauguração popular" de um trecho da transposição das águas do rio São Francisco, obra iniciada em 2007 em sua gestão e inaugurada oficialmente por Michel Temer dias atrás. No palanque, ao lado da ex-presidenta Dilma Rousseff, disse que há interessados em impedir que ele se candidate, numa referência velada às ações que responde na Justiça, incluindo as da Operação Lava Jato.
"Vocês sabem o que eles fizeram com a Dilma, vocês sabem o que eles estão tentando fazer comigo. Pois bem. Só queria dar um recado para eles: se eles quiserem brigar comigo, vão ter que brigar nas ruas deste país, para que o povo seja o senhor da razão nesta disputa", disse Lula, ovacionado na paraibana Monteiro, em discurso transmitido em tempo real por vários sites apoiadores. "Eles peçam a Deus para eu não ser candidato, porque, se eu for, é para ganhar e trazer de volta à alegria deste país", disse o ex-presidente, que recheou o discurso com memórias da seca e da fome na sua infância, em Pernambuco.
Lula lidera os cenários na disputa para 2018 e é particularmente popular no Nordeste, que viveu anos de crescimento chinês em seu Governo, mas agora também sofre com a recessão e o desemprego. O petista, no entanto, é também o nome que apresenta a maior rejeição, por volta de 50%, o que seria uma dificuldade em caso de segundo turno. Apesar do discurso de campanha, o petista fez questão neste domingo de lembrar que ainda é cedo para definição concreta de candidatura. No palco, citou outros nomes aliados e lembrados como presidenciáveis ou vices, como Ciro Gomes (PDT), que também lançou pré-candidatura, e o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT).
"Estou à espera de um empresário me denunciar, dizer que tem um real na minha conta. Duvido que algum deles seja melhor ou igual a mim. Duvido", disse o petista, réu em três ações no âmbito da Operação Lava Jato, acusado de receber vantagens indevidas das empresas do esquema de corrupção da Petrobras. Lula, que nega qualquer irregularidade, ainda responde a duas outras ações. Se for condenado em segunda instância até disputa de 2018, ele ficaria impedido de concorrer pela lei da Ficha Limpa.
Antes de Lula, foi a vez da ex-presidenta Dilma Rousseff ser ainda mais explícita sobre o que vê como tentativas de impedir que ele seja candidato. "Nos encontramos em outubro de 2018. 2018 é logo ali. É logo ali. Vamos exigir que os competidores não sejam impedidos de competir. No tapetão, não!", disse ela, citando o jargão no futebol para uma decisão polêmica via judicial, e não em campo.
Lula dedicou parte de seu discurso de 26 minutos a criticar a proposta da reforma da Previdência enviada por Temer ao Congresso, como já havia feito em ato na av. Paulista no dia 15. Apesar de ter promovido ele mesmo uma reforma em 2003, endurecendo as regras de aposentadoria para servidores, uma base tradicional petista, ele disse que a atual proposta é equivocada e penalizará mais os pobres. "A solução para a Previdência é mais emprego. Se eles, diplomados, não sabem fazer isso, peçam um conselho que eu sei como é que faz".
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