Publicação: 24/11/2013 09:00 Atualização 23/11/2013 02:50
Pedro Henrique Cunha - Especial para o Diario
Até a metade do século passado, eram considerados estabelecimentos oficiais onde as famílias abasteciam as despensas: farinha, feijão, açúcar… Tudo ficava disposto em sacarias, prontos para venda a granel. Coisa típica de bairros residenciais. Mesmo com a chegada dos modernos mercados, repleto de gôndolas variadas, as bodegas, também chamadas de mercearias, não foram extintas. Lá se encontra de tudo: desde produto de limpeza a miudezas como linha, agulha e dedais... Sorte a nossa. A simpatia dos donos – que quase sempre moram nas lojinhas – faz com que a clientela siga fiel e se renove. O Diario visitou alguns desses lugares, espalhados pelos bairros do Recife e Olinda, e conta que, graças ao hábito boêmio do pernambucano, as bodegas não fecharam as portas de vez.
Há 41 anos no Poço
O bairro que parece uma pequena cidade de interior também tem uma bodega para chamar de sua. Quem circula em frente à Igreja de Nossa Senhora da Saúde, no Poço da Panela, avista a Mercearia de Seu Vital. Em frente ao templo religioso, a tradição da boemia. Uma das vendas mais conhecidas do Recife é uma espécie de “patrimônio” do Poço. “Tem de tudo um pouco. Sempre que falta alguma coisa em casa de urgência, passo aqui”, admitiu Maria Josefa, 56, enquanto esperava, numa tarde nublada de quarta-feira, com uma sacola na mão, o atendimento. No balcão, uma bagunça organizada: salgadinhos, bolachas e uma velha balança (que ainda é utilizada) dividem espaço com garrafas de bebida.
Vital Bezerra, 71, considera-se um homem tímido e de poucas palavras. Comprou o estabelecimento há 41 anos. De lá para cá, muita coisa mudou: “Hoje eu vendo mais pães, cerveja e refrigerante”, revela. A vizinhança, frequentadora assídua do local, entrega que ele abre um largo sorriso quando vê os amigos. Já o papagaio Dudu não puxou nada ao dono: diz oi, dá tchau, assobia para as moças... Se dentro é mercearia, fora a bodega é um bar improvisado. À noite, as mesinhas saem e pessoas começam a chegar.
O charme da Nabuco
A poucos quilômetros do Poço da Panela, conhecida por preservar sua arquitetura, uma das mercearias mais charmosas é a Nabuco, em Casa Amarela. O prédio, de 90 anos, tem a fachada, o gradil e as portas de madeira preservados. As cadernetas utilizadas na década de 1970 ainda registram as contas dos clientes. O ambiente acolhedor, no entanto, é velho conhecido. Isso graças ao proprietário: Artur Araújo, 71, que, com a mulher, Lindalva Araújo, 67, se dedica ao negócio há 43 anos.
O comerciante faz questão de calcular a compra no papel e caneta, sem direito a calculadora. O público que frequenta o lugar é bem seleto. A maioria é morador dos arredores do bairro. O local também é bastante visitado por turistas e famoso por vender pastéis de carne e bacalhau. “Desde que comprei a bodega, não tive férias”, diz Artur, sem lamentar. As amizades prendem o casal ali. Ao contrário de outros negócios, nas mercearias, o cliente é que tem que conquistar o dono: “Fiado e entrega em domicílio, só para quem conheço”, atesta Lindalva.
Parada para turistas
Ao entrar pelas portas de madeira da Bodega do Véio, em Olinda, um gostinho de passado vem à tona. Difícil não olhar para os armários apinhados com uma variedade de mais de mil produtos, como touca de cabelo, brilhantina, pião de madeira, corda, colher de pau, funil e até penico. De sorriso e semblante tranquilo, Edival Hermínio da Silva, 52, conhecido como Véio, dono do negócio há 32 anos, conta que muitas das coisas que estão nas estantes são colocadas para atrair os turistas, que vêm de todos os cantos do mundo.
“E para as donas de casa da vizinhança, que também correm muito aqui para fugir da fila do supermercado e dos preços altos. Mas meu rendimento maior é com a cerveja e os frios”, reconhece. Véio mora e trabalha na bodega com a família, interagindo o tempo todo com os clientes, principalmente os mais assíduos.
Cartão de crédito e caderneta
“Só fecho no dia 1º de janeiro. Durante o resto do ano, estou aqui”, diz o comerciante Eduardo Oliveira, 43. Seu negócio, a Bodega do Eduardo, é também sua casa. A mercearia, no bairro da Encruzilhada, já se rendeu à modernidade do cartão de crédito, mas ainda preserva o hábito da caderneta. No cardápio, um diferencial: variedade de cervejas, acompanhadas de salada de bacalhau. A estrutura do prédio, no entanto, é a mesma há cem anos, época em que foi construído.
As bodegas que resistiram ao tempo e ao progresso, e até hoje atraem a clientela, é a prova de que o pernambucano não troca a mercearia do bairro por nada. Seja para comprar algo de última hora, tomar uma gelada ou papear com o dono.
Há 41 anos no Poço
Seu Vital oferece de tudo um pouco a clientela. Fotos: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press |
Vital Bezerra, 71, considera-se um homem tímido e de poucas palavras. Comprou o estabelecimento há 41 anos. De lá para cá, muita coisa mudou: “Hoje eu vendo mais pães, cerveja e refrigerante”, revela. A vizinhança, frequentadora assídua do local, entrega que ele abre um largo sorriso quando vê os amigos. Já o papagaio Dudu não puxou nada ao dono: diz oi, dá tchau, assobia para as moças... Se dentro é mercearia, fora a bodega é um bar improvisado. À noite, as mesinhas saem e pessoas começam a chegar.
O charme da Nabuco
Ponto em Casa Amarela preserva arquitetura |
O comerciante faz questão de calcular a compra no papel e caneta, sem direito a calculadora. O público que frequenta o lugar é bem seleto. A maioria é morador dos arredores do bairro. O local também é bastante visitado por turistas e famoso por vender pastéis de carne e bacalhau. “Desde que comprei a bodega, não tive férias”, diz Artur, sem lamentar. As amizades prendem o casal ali. Ao contrário de outros negócios, nas mercearias, o cliente é que tem que conquistar o dono: “Fiado e entrega em domicílio, só para quem conheço”, atesta Lindalva.
Parada para turistas
Em Olinda, a Bodega do Véio tem a cara do passado e atrai clientes com sua variedade |
“E para as donas de casa da vizinhança, que também correm muito aqui para fugir da fila do supermercado e dos preços altos. Mas meu rendimento maior é com a cerveja e os frios”, reconhece. Véio mora e trabalha na bodega com a família, interagindo o tempo todo com os clientes, principalmente os mais assíduos.
Cartão de crédito e caderneta
No cardápio do lugar os diferenciais são as cervejas e a salada de bacalhau |
As bodegas que resistiram ao tempo e ao progresso, e até hoje atraem a clientela, é a prova de que o pernambucano não troca a mercearia do bairro por nada. Seja para comprar algo de última hora, tomar uma gelada ou papear com o dono.
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