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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A ESTRANHA HISTÓRIA DE ROBERTO FREIRE

Sebastião Nery
SEBASTIÃO NERY





Em 1970, no horror do Ai-5, o general Médici, mais feroz dos ditadores de 64, nomeou procurador do Incra o jovem advogado pernambucano Roberto João Pereira Freira, de 28 anos
O único político brasileiro da oposição (que se diz da oposição) que aplaudiu José Serra, o Elias Maluco eleitoral, por ter anunciado que agora é hora de destruir Lula, foi o senador Roberto Freire, presidente do Partido Popular Socialista (PPS, a sigla que sobrou do assassinato do saudoso Partido Comunista, melhor escola política brasileira do século passado). Disse: "Serra presta um serviço à democracia".
Para Roberto Freire, "desconstruir", destruir, eliminar o principal candidato da oposição e das esquerdas (com 42% nas pesquisas) é um "serviço à democracia". Gama e Silva nunca teve coragem de dizer isso. Armando Falcão também não. Nem mesmo Newton Cruz. Só o delegado Fleury. Ninguém entendeu. Porque não conhecem a história de Roberto Freire.
Aprovado pelo SNI
Em 1970, no horror do AI-5, quando tantos de nós mal havíamos saído da cadeia ou ainda lá estavam, muitos sendo torturados e assassinados, o general Médici, o mais feroz dos ditadores de 64, nomeou procurador (sic) do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) o jovem advogado pernambucano Roberto João Pereira Freire, de 28 anos.
Não era um cargozinho qualquer, nem ele um qualquer. "Militante do Partido Comunista desde o tempo de estudante, formado em Direito em 66 pela Universidade Federal de Pernambuco, participou da organização das primeiras Ligas Camponesas na Zona da Mata" (segundo o "Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro", da Fundação Getulio Vargas-Cpdoc).
Será que os comandantes do IV Exército e os generais Golbery (governo Castelo), Médici (governo Costa e Silva) e Fontoura (governo Médici), que chefiaram o SNI de 64 a 74, eram tão debilóides a ponto de nomearem procurador do Incra, o órgão nacional encarregado de impedir a reforma agrária, exatamente um conhecido dirigente universitário comunista e aliado do heróico Francisco Julião nas revolucionárias Ligas Camponesas?
Os mesmos que, em 64, na primeira hora, cassaram Celso Furtado por haver criado a Sudene, cataram e prenderam Julião, e desfilaram pelas ruas de Recife com o valente Gregório Bezerra puxado por uma corda no pescoço, puseram, em 70, o jovem líder comunista para "fazer" a reforma agrária.
Não estou insinuando nada, afirmando nada. Só perguntando. E, como ensina o humor de meu amigo Agildo Ribeiro, perguntar não ofende.
Sempre governista
Em 72, sempre no PCB (e no Incra do SNI!) foi candidato a prefeito de Olinda, pelo MDB. Perdeu. Em 74, deputado estadual (22.483 votos). Em 78, deputado federal, reeleito em 82. Em 85, candidato a prefeito de Recife, pelo PCB, derrotado por Jarbas Vasconcellos (PSB). Em 86, constituinte (pelo PCB, aliado ao PMDB e ao governo Sarney). Em 89, candidato a presidente pelo PCB (1,06% dos votos).
Reeleito em 90, fechou o PCB em 92, abriu o PPS e foi líder, na Câmara, de Itamar, com cujo apoio se elegeu senador em 94 e logo aderiu ao governo de Fernando Henrique. Em 96, candidato a prefeito de Recife, perdeu pela segunda vez (para Roberto Magalhães).
Agora, sem condições de voltar ao Senado, aliou-se ao PMDB e PFL de Pernambuco, para tentar ser deputado. Uma política nanica, sempre governista, fingindo oposição.
Agente de FHC
Em 98, para Fernando Henrique comprar a reeleição, havia uma condição sine qua non: impedir que o PMDB lançasse Itamar candidato a presidente. Sem o PMDB, a reeleição não seria aprovada. Mas o PMDB só sairia para a candidatura própria se houvesse alianças. E surgiram negociações para uma aliança PMDB-PPS, uma chapa Itamar-Ciro.
Fernando Henrique ficou apavorado. E Roberto Freire, agente de FHC, o salvou, lançando Ciro a presidente. Isolado, o PMDB viu sua convenção explodida pelo dinheiro do DNER, Itamar sem legenda e a reeleição aprovada.
Durante quatro anos, Roberto Freire saracoteou nos palácios do Planalto e da Alvorada, sempre fingindo independência, mas líder da "bancada da madrugada" (de dia se diz oposição, de noite negocia no escurinho do governo).
Quinta-coluna
No ano passado, na hora de articular as candidaturas a presidente, o PT (sobretudo o talento e a competência política de José Dirceu) começou a pensar numa aliança PT-PPS, para a chapa Lula-Ciro. Itamar disse que apoiava. O PSB de Arraes também. Fernando Henrique, o PSDB e Serra se apavoraram. Mas Roberto Freire estava lá para isso. Novamente lançou Ciro, para impedir uma aliança das oposições com Ciro vice de Lula.
Fora dos cálculos de FHC e Roberto Freire, Ciro começou a crescer. Mas, quando o PFL, sem Roseana, quis apoiar Ciro, dando espaços nos estados e na TV, Roberto Freire, aliado em Pernambuco de Marco Maciel, o líder da direita do PFL, vetou o PFL com Ciro. Como se chama isso? Uns, "agente". Stalin chamava "quinta-coluna".

COMENTÁRIOS

104 comentários em "A estranha história de Roberto Freire"
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dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247


  1. Cesar Tayar 23.09.2013 às 12:04
    Apenas um esclarecimento sobre o ótimo artigo do Sebastião Nery: O PCB não foi fechado por Roberto Freire. Ele apenas saiu do partido para montar o PPS. O PCB continuou existindo e está em franco crescimento, apesar de não aparecer na mídia. O Partidão completou, em 2013, seus 91 anos de vida com a história política mais rica do país. O PCB vai continuar com sua militância para construirmos um país justo, igualitário e fraterno.
  2. A verdade 22.09.2013 às 06:56
    Esse ai, e o cachorrinho vira-latas do Serra, moleque de recado sem nenhuma credibilidade. Espiao da ditadura.
  3. Malu F 21.09.2013 às 01:17
    Nery!!!! Há quanto tempo!!!! Não faz ideia da alegria que senti em "vê-lo" por aqui nessas páginas do 247. Com um artigo impecável sobre o quinta coluna ai de cima. Que se arvora em ainda destilar sua danosa hipocrisia em textos que, só mesmo um cara de pau da pior espécie se aventura. Essa "estranha(?) história desse sujeito deve ser repercutida á exaustão. Até que ele ----corajoso que é quando se trata de botar os cachorros atrás do governo e do Pt, adquira vergonha na cara e faça sua réplica. Vá ser cara de pau assim lá em Pernambuco. E não viver ainda recebendo salário da Sabesp. Está explicado toda essa maracutaia.
  4. Suzana 20.09.2013 às 17:53
    perfeito o texto. esse Roberto Freire nunca me enganou. To doida que abram o baúzinho das trapaças dele. Agradecida Nery pela clareza do texto.
  5. Suzana 20.09.2013 às 17:53
    perfeito o texto. esse Roberto Freire nunca me enganou. To doida que abram o baúzinho das trapaças dele. Agradecida Nery pela clareza do texto.
  6. eurico 20.09.2013 às 11:12
    Saisfação enorme em ve-lo de volta a uma das paginas mais representativas do pensamento politico moderno, sua contribuição é de grande valia quando pensamos o passado e refletlimos o futuro de nosso país. Endosso totalmente as suas palavras a respeito deste pulha objeto de sua reflexão, em boa hora, ha que se dizer, pois a despeito do "homenageado" ser um canalha da maior qualidade, ainda encontra espaços na midia para fazer apologia de sua ideias sombrias.
  7. PALADINO 20.09.2013 às 08:35
    NÃO EXISTE UM POLÍTICO DIFERENTE DO OUTRO, SÃO TODOS IGUAIS, OS QUE FORAM, OS QUE SÃO E OS QUE VIRÃO. UMA VELHA RAPOSA POLÍTICA SEMPRE DIZIA: "O POLÍTICO QUE SE PREZA TEM QUE SER INESCRUPULOSO, MAL CARÁTER E PERFÍDIO, DO CONTRÁRIO NÃO SERÁ POLÍTICO"
  8. Mandruvá Fora do Eixo 20.09.2013 às 07:19
    Bob Adict é um doente, coitado. Viciado no carteado, vive nas mesas de jogo gastando o que não tem. E é ruim de jogo ainda. Chirico descobriu isso e cobre as despesas do presidente do PPS. A família Maluf fazia o mesmo com Costa e Silva. O que não faz um viciado por sua dose de adrenalina? Bob faz de um tudo pelo financiador de seu vicioso prazer. Dentro do PPS há um grande desconforto com a submissão do grande líder Bob Adict às vontades malucas de Chirico, outro viciado doente, por recur$o$ público$...
  9. Graça Silveira 19.09.2013 às 19:01
    Isso é muito pouco desse vendilhão. E, seus filiados têm o mesmo compromisso. Desestabilizar, parecendo oposição. Está com todos os Governos, em todo o País, ou seja, Estados e muitos Municípios, até a hora da eleição. Se o Governo for popular, ficam, se ao contrário, pulam fora, como em Niterói, por exemplo, com o Comte Bittencourt, sempre no muro, mas mamando nas tetas das "viúvas", por alianças espúrias, pra manter-se no poder e quintuplicar suas fortunas. Socialista? De que, onde e quando?
  10. Reinaldo Soares de Souza 19.09.2013 às 18:48
    Observem que esta página é patrocinada pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL.

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