Delação de ex-diretor da Petrobras sobre a compra de Pasadena vai contra a ideia de que a presidente é uma pessoa ‘honrada’ sendo injustiçada
POR EDITORIAL
presentada ao país pelo presidente Lula como a “mãe do PAC”, a gerente inflexível e eficiente, Dilma Rousseff governou no Planalto durante cinco anos e de lá foi afastada pelo processo de impeachment em andamento no Senado com a imagem profissional bastante abalada.
Lula conseguiu elegê-la como garantia de continuidade dos bons momentos do seu governo. Mas nada de importante deu certo: a gerente não conseguiu destravar os investimentos públicos, listados no Programa de Aceleração do Crescimento, e a economista de formação conduziu um dos maiores desastres da história do país, devido à aplicação do mirabolante “novo marco macroeconômico”.
Restou de patrimônio para Dilma a imagem de “mulher honrada”, como brada seu advogado no processo de impeachment, José Eduardo Cardozo. Mas este ativo também já havia sofrido arranhões. Afinal, como a presidente do Conselho de Administração da Petrobras desde janeiro de 2003 não tomara conhecimento do bilionário esquema de superfaturamento de contratos com empreiteiras para financiar políticos do PT, PP e PMDB? A pergunta sempre pairou sobre Dilma, e agora, a partir da divulgação pelo Supremo da delação premiada do ex-diretor da estatal Nestor Cerveró, ela desaba de vez sobre a presidente afastada.
Diretor da área internacional da empresa quando da compra mais que suspeita da refinaria de Pasadena, no Texas, pela estatal, Cerveró foi responsabilizado por Dilma, presidente da República, pelo mau negócio — prejuízo de US$ 792,3 milhões à estatal. Na delação liberada pelo STF, ele é direto: Dilma tinha conhecimento de todos os detalhes da compra da refinaria. Negócio que gerou propinas, já comprovadas.
Cerveró admite que ela deveria saber que políticos recebiam dinheiro desviado da Petrobras. Ele não tem provas. Evidências, porém, não faltam, e há pelo menos um testemunho de que a presidente da República tentou obstruir a Justiça na Operação Lava-Jato.
Segundo o senador Delcídio Amaral, a presidente tratou com ele da barganha na indicação de um ministro para o STJ, Marcelo Navarro, em troca da aceitação do pedido de habeas corpus do empreiteiro Marcelo Odebrecht. Acrescente-se o telefonema grampeado pela Justiça em que Dilma e Lula tratam do termo de nomeação do ex-presidente para a Casa Civil, a fim de protegê-lo da Lava-Jato com o foro privilegiado do STF. Outra obstrução.
A antiga imagem de Dilma sofre, também, com a revelação, pelo GLOBO, de que dinheiro do petrolão, portanto surrupiado da estatal, financiou gastos pessoais da presidente, como o deslocamento de São Paulo para Brasília do cabeleireiro Celso Kamura para atendê-la.
E fica ainda mais degradada depois de reportagem de “Época”, em que o lobista Benedito Oliveira Neto diz que Giles Azevedo, assessor próximo de Dilma, teria pagado dívida de campanha com dinheiro da Secretaria de Comunicação.
O PT não quer um desfecho rápido para o impeachment, por apostar no desgaste do presidente interino Michel Temer. Mas revelações que começam a surgir, e não só na Lava-Jato, também não ajudam a presidente afastada.
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