A reportagem da Folha de Pernambuco acompanhou os protestos em Fortaleza
19/06/2013 17:26 - Gustavo Paes, enviado especial da Folha de Pernambuco
Jedson Nobre/Folha de Pernambuco
Após uma longa caminhada, chegamos ao ponto do cerco. Os policiais nos mandaram retornar para trás de uma linha imaginária, que só existia na imaginação dele. Questionei o motivo da determinação. “Queremos garantir a segurança de vocês”, disse um oficial de sobrenome Azevedo, uma exceção, pois estava identificado, ao contrário de vários colegas.
Perguntei o nome de quem comandava a operação. “Não sei”, respondeu o policial. Apontei a obviedade: não seria possível ele não saber. “Eu sei, mas não tenho autorização para dizer”, disse. Simples assim.
Seguimos para o outro lado do cerco. Havia insistência por parte da mídia para que pudéssemos chegar ao outro lado. Alguns manifestantes que estavam dentro do “cordão”, também solicitavam. “É por conta e risco de vocês”, disse o policial, que, enfim, deu a ordem para que pudéssemos chegar ao outro lado.
O primeiro conflito de grandes proporções já havia acontecido, por conta do que ficou esclarecido como uma “aproximação excessiva” entre manifestantes e polícia. No momento em que a reportagem chegou, o clima estava controlado. Mas havia muito a ser dito.
Foi quando encontrei Warceila Miranda. Ela ironizava. Dizia que estaria arrumada se fosse assistir ao jogo, o qual revelou que desistiu de acompanhar e doou o ingresso para participar da manifestação. “Escutei piadinhas de vários policiais. Porque estou de short. Isso é inacreditável. Gosto de futebol, mas acredito que existam coisas mais importantes”, ressaltou.
Foi quando um grupo se aproximou novamente do Batalhão de Choque. Vários policiais riam. Até que um deles, em um ato sádico, pois ainda havia uma distância para lá de segura, disparou o spray de pimenta no rosto de vários manifestantes, atingindo até o escriba que vos relata.
Então, o caos generalizado. O revide veio na forma de pedradas. Não tinha mais jeito. As balas de borracha eram disparadas, a multidão corria e caia pelas ruelas de Fortaleza, tomando cuidado para não tropeçar em outros manifestantes ou chutar bombas de gás lacrimogênio, que a essa altura já eram distribuídas aos montes. Sem critérios. Torcedores que não participavam do protesto e queriam ter acesso ao estádio também receberam a sua cota.
Os moradores das vielas tentavam ajudar os manifestantes, distribuindo água e abrigo para várias pessoas, principalmente adolescentes, que passavam mal por conta das armas de efeito moral. Depois de correr para longe, a possibilidade de retornar pela via principal estava descartada.
Encontrei um grupo de mexicanos, que atônitos, me perguntavam uma alternativa para chegar ao estádio sem ter que passar pela zona de conflito. Com um GPS em mãos, ele tentava buscar uma alternativa, junto a policiais.
Mas a resposta não era animadora: teríamos que seguir por aquele caminho, ou fazer um contorno desumano até acessar outra via. Foi quando surgiram os táxis. Brancos, tais quais devem ser possíveis anjos da guarda. Mas cobrando caro. Me despedi dos mexicanos e, finalmente, consegui retornar ao Castelão, faltando 20 minutos para o jogo. Brasil e México, era o que dizia o cartaz. Evento Fifa.
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