Porque você acorda num sábado pós-carnaval em Recife às 5h:
( ) para curtir um bloco de ressaca que sai às 6h.
( ) não acorda, pois ainda não dormiu.
( ) para ir ao banheiro fazer xixi e voltar a dormir.
(x) para ir ao Espaço Agroecológico das Graças!
Sim, foi isso mesmo que aconteceu hoje. Duro mesmo é chegar na feira às 5:50h e vários produtos já terem acabados, e algumas barracas já estarem desmontando. Da próxima vez chegamos mais cedo.
Além de ter a alegria de conversar com produtores e produtoras de alimentos, de saber um pouquinho de onde vem o produto que vai pra minha mesa e de saber que estou incentivando um modo de produção que não envenena os agricultores e não polui o meio ambiente, outra coisa me chamou a atenção.
Depois de um ano fora, há 3 semanas estive na feira do bairro de Fátima, no Rio de Janeiro, onde durante 5 anos da minha vida fiz as compras semanais de frutas, legumes, verduras e peixes. Fiquei chocado com o aumento dos preços, e também com a diminuição das porções. O molho de coentro e de manjericão foram reduzidos quase pela metade.
Hoje, na Feira das Garças, pude ter o prazer de desmentir a velha falácia de que os produtos orgânicos e agroecológicos são sempre mais caros do que os convencionais.
Em primeiro lugar, a pessoa que menos influencia o preço de um alimento é quem põe a mão na terra para produzi-lo. O preço é determinado basicamente pela quantidade de incentivos dados pelo Estado, e depois pela rede de intermediários que se colocam entre produtor e consumidor. Por conta da política de subsídios, a Alemanha, país mais rico da Europa, tem o custo de alimentos mais baixo do continente. O preço de um almoço em Bonn é quase o mesmo do Rio de Janeiro, mesmo considerando a atual cotação estratosférica do Euro. (Esta política de subsídios tem consequências bem perversas, como por exemplo a quebra da agricultura familiar na África, que acaba importando produtos da Alemanha, mas isso é outro papo.)
Na feiras orgânicas e agroecológicas, muitas vezes são os próprios agricultores ou familiares que comercializam o produto. Mesmo assim, os preços às vezes ainda são mais caros, justamente pela falta de incentivos de Estado para este tipo de produção.
Quando numa feira convencional se paga R$2,00 num alface, pode ter certeza de que o agricultor não recebeu nem 10% disso. E ainda teve que pagar pelos agrotóxicos, pelos fertilizantes, possivelmente pelo aluguel da terra. E ainda se envenena, a si e ao meio onde ele está.
Numa feira agroecológica, se o alface custar os mesmos R$2,00, o agricultor fica com tudo - no máximo desconta alguma taxa de manutenção da feira, e o transporte.
E a companheirada da Feira das Garças está de parabéns: oferecendo comida de verdade, de qualidade, cobrando barato por isso e possibilitando que a população se alimente adequadamente!
De acordo com o Mapa das Feiras Orgânicas do IDEC, Recife tem ainda 20 feiras deste tipo, que provavelmente também praticam preços justos.
Veja abaixo o preço dos produtos na Feira das Garças, no dia 13 de fevereiro de 2016. A comparação com a feira convencional no Rio é baseado em lembranças de algumas semanas, portanto não é tão precisa. E vale lembrar que esses dias fui no Mercado da Boa Vista, em Recife, e quiseram me cobrar R$8 num abacate! Portanto, não é só uma diferença de preço entre as cidades.
Produto | Feira do Bairro de Fátima com Agrotóxico (Rio de Janero) | Espaço Agroecológico das Graças (Recife) |
Abacate | R$3 a R$5 | R$1 |
Manga Rosa | +/- R$3 | R$0,50 |
Manga Espada | +/- R$2 | R$0,25 |
Milho | R$1,00 (não transgênico!) | |
Pastel | R$5, de carne moida, com muita gordura | R$4, de jaca, integral, delícia |
Bebida | Caldo de cana, R$3 | Suco de açai com limão, R$2,50 |
Mandioca | Uma boa de Santa Cruz, equivalente à daqui, sai por R$6/kg | R$4 /kg, macaxeira no caso |
Cebolinha | R$2 o micro-molho | R$2 o molho gigante |
Coentro | R$2 o micro-molho | R$2 o molho gigante |
Couve | R$2 o micro-molho | R$2 o molho gigante |
Meia duzia de ovo caipira | R$8 (quando tem) | R$5 |
Flores | R$3 o molho | |
Repolho | R$4 (grande) | |
Geléia de Açaí grande | R$8 | |
Pão Integral | R$7,50 | |
Maxixe | 10 por R$1 | |
Rúcula | R$2 maço grande | |
Banana | R$0,25 cada | |
Pimenta de cheiro | R$2,00 um saquinho cheio | |
Pitanga | (jamais! :) | R$2,00 um saquinho cheio |
Parabéns a todas as camponesas e camponeses que trazem seus produtos agroecológicos para as feiras do Recife, livre de agrotóxicos, de transgênicos, mas principalmente livres de exploração. Iniciativas como essa são fundamentais para romper o ciclo neo-liberal-tóxico-monopolista-concentrador do mercado capitalista de alimentos.
Todo poder às/aos produtoras/es!
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