Investigação quer saber se o ex-presidente recebeu vantagens econômicas indevidas para influenciar agentes públicos estrangeiros notadamente na República Dominicana, Cuba e Angola
Por: Eduardo Militão
Publicado em: 20/05/2016 14:40
Os mandados da Operação Janus, deflagrada nesta sexta-feira pela Polícia Federal, têm como objetivo investigar se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticou tráfico internacional de influência a favor da Construtora Norberto Odebrecht. O petista não foi alvo dos mandados, mas Taiguara Rodrigues, amigo de seu filho e sobrinho da sua primeira mulher, foi conduzido coerticivamente em Santos (SP) para prestar depoimento.
Em Santos, os policiais cumprem as demais ordens do juiz da 10ª Vara Federal de Brasília, Vallisney Oliveira: quatro mandados de busca, dois de condução, cinco de intimação e quebras de sigilos bancários, fiscais e de dados telemáticos, como mensagens de celular e email, de nove investigados.
A apuração mais ampla da Procuradoria da República no Distrito Federal quer saber "se o ex-presidente recebeu vantagens econômicas indevidas para influenciar agentes públicos estrangeiros notadamente na República Dominicana, Cuba e Angola." Outra linha é checar se ele facilitou ou apressou procedimentos de financiamentos da Odebrecht no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Também são analisadas possíveis irregularidades em outros financiamentos do BNDES para a empreiteira no exterior, como o Porto de Mariel, em Cuba, do Metrô de Caracas, na Venezuela, e obras no Panamá.
O Correio apurou que a conexão Lula-Taiguara é considerada uma das mais promissoras para os investigadores tentarem confirmar essas suspeitas. O ex-presidente é mencionado no inquérito do chamado "sobrinho de Lula". Taiguara rejeita esse rótulo.
O Ministério Público entende que já reuniu "fortes indícios de irregularidades e de condutas, em tese delituosas, no sentido de, no mínimo, dissimular e ocultar valores de origem ilícita." Esses valores foram pagos a empresas subcontratadas pela Odebrecht para a realização de obras no exterior.
O Institulo Lula não prestou esclarecimentos ao Correio ainda. Mas, a entidade já negou que o petista tenha interferido em negócios no BNDES ou feito lobby em favor da Odebrecht no exterior.
Viagens ao Panamá
Taiguara Rodrigues é sobrinho do petista por parte de sua primeira mulher, já falecida, e dono da empresa Exergia Brasil. É amigo de um dos filhos de Lula, com que já viajou para o Panamá, atesta relatório da Operaçao Lava-Jato.
Ele fechou contratos com a Odebrecht em Angola na usina hidrelétrica de Cambambé. O empresário disse à CPI do BNDES, em outubro de 2015, que recebeu US$ 1,8 milhão a US$ 2 milhões da empreiteira por contratos no país africano. Nas contas da PF, fez serviços nas obras de Cambambé por R$ 3,5 milhões. A obra recebeu US$ 464 milhões de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Os policiais investigam se esses contratos da Odebrecht com a empresa de construção civil de Taiguara foram usados para pagar propinas. A apuração começou de um Procedimento de Investigação Criminal do Ministério Público para a PF que tentava descobrir se a construtora Odebrecht pagou subornos entre 2011 e 2014 para obter “facilidades” em conseguir empréstimos no BNDES.
Agora, a PF quer esclarecer os contratos da empreiteira fechados entre 2012 e 2015 com a pequena empresa de construção de Santos ligada ao parente de Lula. A Polícia Federal investiga a prática dos crimes de tráfico de influência e lavagem de dinheiro .
Mas Taiguara negou à CPI do BNDES que Lula petista tenha interferido para que ele conseguisse contratos com a Odebrecht ou que a empreiteira tivesse obtido o financiamento bancário.
Sociedade
Outro alvo de condução coercitiva foi José Emmanuel de Deus Camano Ramos. Ele foi sócio de Taiguara até 2012 na empresa Projetai Exportadora. De 2012 a 2013, trabalhou na Exergia Brasil Projetos de Engenharia Ltda, outra firma do empresário ligado a Lula. Em 2014, Camano voou com Taiguara em duas ocasiões para o Panamá.
O pai de Taiguara, Jacinto “Lambari” Ribeiro Santos, era "muito amigo" do ex-presidente da República, segundo ele contou em depoimento à CPI do BNDES ano passado.
Na comissão, o empresário se disse amigo de um dos filhos do petista, Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha. Relatório da Operação Lava-Jato aponta que os dois viajaram no mesmo avião em novembro de 2014. O voo CM 0724, da Copa Airlines, saiu de São Paulo para a Cidade do Panamá, no Panamá, em 1º de novembro. Ele voltaram no voo CM 0701 em 7 de novembro.
Na companhia deles, estava ainda o empresário Fernando Bittar, sócio de Lulinha na G4, e um dos donos do sítio Santa Bárbara, em Atibaia. A PF suspeita que essa propriedade pertença a Luiz Inácio Lula da Silva, que nega a acusação.
Taiguara disse à CPI do BNDES que, apesar de sua tia ter sido casada com Lula até falecer, não se considera sobrinho do ex-presidente. Em outubro de 2015, a bancada do PT na comissão divulgou comunicado em que considerou que “o vínculo de parentesco amplamente divulgado pelo semanário foi desmentido pelo Ministério Público”.
O Correio não localizou a defesa de Taiguara e de Camano. Um telefone registrados em nome de Camano não atendeu nesta sexta-feira. A Odebrecht disse que não comentaria o caso.
Janus ou Jano é um deus romano, uma divindade latina de duas faces, que olha para o passado e o futuro. O nome da operação é uma referência a como as investigações devem se ater a todos os aspectos do que está sendo apurado.
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