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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

IMPEACHMENT Brasil e Dilma ante uma sentença histórica


Uma destituição de Dilma Rousseff seria 'uma pena de morte política', disse o advogado de defesa Joaquim Cardozo
Publicado em 31/08/2016, às 12h42
Temer chegará à presidência com uma popularidade de 13% / NELSON ALMEIDA / AFP
Temer chegará à presidência com uma popularidade de 13%

NELSON ALMEIDA / AFP

AFP

A menos que ocorra um milagre, o Brasil terá um presidente novo na tarde desta quarta-feira (31), se o Senado votar pelo impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, uma decisão histórica que porá fim a um ciclo de 13 anos de governo de esquerda.


Dilma deverá fazer uma declaração à imprensa às 13h após a votação, segundo indicou um de seus assessores.
Imediatamente depois do voto dos 81 senadores, o vice-presidente e atual presidente interino Michel Temer assumirá a presidência de forma definitiva.

Temer prestará juramento e em seguida viajará para a China para participar da Cúpula do G20 já como presidente empossado.

"O Brasil passou por um período difícil de disputas políticas, mas a Constituição foi cumprida. Quando o presidente é afastado do cargo, assume o vice-presidente porque, no final, este é seu papel", indicou ao jornal O Globo.

Temer chegará à presidência com uma popularidade de 13%, tão baixa quanto a de sua antecessora.

A votação porá fim a uma sangria política que há nove meses domina a vida política da maior economia da América Latina, confrontada com sua pior crise em 80 anos e mergulhada em um mar de escândalos de corrupção.

Se o impeachment for aprovado, será um final inesperado para a primeira mulher a chegar à presidência brasileira, depois de ter sido suspensa em maio sob acusações de maquiar as contas públicas para assegurar sua reeleição em 2014.

"A possibilidade de Dilma não ser destituída é quase nula. Hoje as chances de que seja destituída são de 99%", opina Adriano Codato, professor e analista da Universidade do Paraná.

Temer, por sua vez, não terá muito o que celebrar depois de assumir a presidência.
Com o desemprego em níveis recordes, inflação roçando os dois dígitos (a maior em 13 anos) e um enorme déficit fiscal, a economia brasileira deve se contrair 3,27% este ano. O Brasil se encaminha para seu primeiro biênio recessivo desde a década de 30. 

Além disso, seu nome também aparece nas delações premiadas relativas ao Petrolão, mas ele nega qualquer ligação com o megaescândalo e ainda não teve acusações da justiça apresentadas contra ele.

Remédio 

Entre lágrimas, ofensas e referências a Deus, o Senado brasileiro expôs seus argumentos finais até a madrugada desta quarta-feira.

"O impeachment é um remédio constitucional ao qual nós precisamos recorrer quando a situação se revela especialmente grave, que é o que aconteceu", disse a advogada da acusação Janaína Paschoal.

"Foi Deus que fez que, ao mesmo tempo, várias pessoas percebessem o que estava acontecendo no país", acrescentou esta advogada em seus argumentos para provar que a primeira mulher a presidir o Brasil violou a Constituição ao manipular as contas públicas e que, por isso, deve deixar a presidência.

Mas o advogado de defesa da presidente, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, destacou que uma destituição de Dilma Rousseff seria "uma pena de morte política".
"Canalhas, canalhas, canalhas", criticou o senador Roberto Requião, do PMDB-PR, defensor de Dilma, que fez alusão ao golpe de Estado contra João Goulart em 1964.

A sessão do Senado foi encerrada por volta das 02H30 desta quarta-feira, após mais de 14 horas de discursos de senadores, e os trabalhos serão retomados às 11H00 para a votação final.

Em São Paulo, centenas de manifestantes protestaram contra o impeachment e voltaram a enfrentar a polícia, que deteve quatro pessoas.

Legitimidade


"Dilma vai entrar para a História como uma figura ambígua: será vista como uma vilã do ponto de vista da gestão, foi uma governante ruim, que errou muito, que não soube dialogar com o Congresso, que é responsável, em parte, pela economia e tudo isto será atribuído a ela", afirmou à AFP Michael Mohallem, analista da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro.
"Também vai haver uma leitura sobre o processo em si, que foi usado instrumentalmente para favorecer um grupo político, para levar Michel Temer e o PMDB ao poder de um modo não tão legítimo como seriam as urnas", acrescentou.

Os escândalos atingem toda a classe política e a elite brasileira, tanto de esquerda quanto de direita.

E neste julgamento político emergiram, mais do que nunca, as perguntas sobre a legitimidade que este Senado pode ter para emitir um veredicto, quando mais da metade dos seus membros estão envolvidos ou investigados por casos de corrupção.

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