Rebeca Silva - Diario de Pernambuco
Publicação: 30/03/2014 02:37
Meninos do KS Nervoso e Swing Quebraê se reúnem três vezes por semana para dançar. Eles dizem que é uma forma de reduzir a violência na área onde moram e tirar os jovens do mundo do crime. Fotos: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press |
O técnico de TV a cabo Josival Paulino Monte, 23, conhecido como Nino, e o amigo Jhonatan Farias, 22, são os coreógrafos do KS Nervoso. O grupo foi formado há três meses, com a união de duas equipes. Seus integrantes são de várias comunidades mas que, curiosamente, encontraram em Santo Amaro uma oportunidade de lazer e de fuga dos problemas e das drogas. A violência no bairro, inclusive, tem se reduzido. De acordo com a Secretaria de Defesa Social, de 2012 a 2013 foram 31,44% de diminuição, passando de 55 para 38 o número de vítimas de Crimes Violentos Letais Intencionais. “Se eu não estivesse aqui, estaria na vida louca, fazendo coisa errada. Convite não faltou. Comecei a dançar há dois anos e não quero mais parar”, disse Nino, que é morador do Coque.
Jovens transformam a noite de Santo Amaro em uma festa |
O grupo se encontra às terças, quintas e sábados. Os passos, conta Nino, são criados entre a interação das batidas da música e do corpo e priorizam a mistura de ritmos. “Preferimos o estilo travani, que é jogando o corpo e parando. Antes fazíamos só o rebolado. Focamos no que a música está pedindo e o corpo parece que funciona como um instrumento. Do nada o passo sai”, afirmou. O Swing Quebraê, que tem os estudantes Everson Tenório, 20, e Dayna Matias Cardoso, 16, como líderes, ensaia às segundas, quartas e sextas-feiras na Academia da Cidade de Santo Amaro, quando chove ficam na associação do bairro.
Preconceito é obstáculo
Além das drogas, os jovens, em especial os meninos, enfrentam o preconceito. Homem “rebolando” é para alguns, afirmam, sinônimo de homossexualidade. E é fugindo deste rótulo que muitos desistem da dança. Do grupo de 15 pessoas, apenas cinco são do sexo masculino. Um dos meninos saiu do grupo porque virou motivo de piada entre os amigos. No Swing Quebraê, só há um homem.
De cabelos oxigenados e óculos modernos, Jhonatan Farias ignora os julgamentos, que começaram quando ainda era criança. “Desde que comecei a dançar, ouvi falarem que isso era negócio de gay, mas eu nem ligava. É com a dança que ganho a vida e não fico fazendo besteira na rua. A música está no meu sangue”, afirmou Farias.
O estudante Brainner Nascimento Alves, 19 anos, também foi alvo de preconceito dos amigos. Mas seguiu em frente, em busca do bem-estar proporcionado pela dança e pelo ambiente de lazer nos ensaios. “Para mim é uma terapia, uma forma de tirar o estresse. Quando brigo com meu irmão e tenho problemas em casa, venho dançar e chego mais relaxado. Alguns amigos dizem que sou gay mas mas não ligo porque me sinto bem aqui”, disse. No grupo KS Nervoso há três meses, Brainner, que é morador do bairro de Afogados, a cerca de 8 km de Santo Amaro, precisa pegar metrô e ônibus. “Eu volto às 22h. Fica um pouco tarde e perigoso para eu voltar mas eu não quero desistir da swingueira”.
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