Em palestra na Expo Money, pesquisador apresenta conceito de cérebro reptiliano, responsável por nosso instinto consumista
Publicado em 26/05/2013, às 10h45m
Do JC Online
A fatura do cartão só aumenta. Cada ida ao shopping vira uma volta com sacolas no braço. O mês acabou e nada de poupança. Muito menos há sinal de uma previdência privada. A culpa é do seu cérebro. Para ser mais exato, a estrutura mais antiga e primitiva do principal órgão do corpo, o chamado cérebro reptiliano. Ele é o responsável pelos instintos e pelo desejo. E, infelizmente, é mais forte que as áreas com a responsabilidade de planejar o futuro. É difícil fugir: nosso cérebro é programado para gastar.
O conceito foi apresentado pelo doutor em finanças, pós-doutor em psicologia cognitiva e consultor de finanças pessoais do Itaú Unibanco, Jurandir Sell Macedo. A sua palestra na Expo Money, na semana passada, foi uma das mais concorridas. “Fazer escolhas é muito difícil. Escolher nos cansa. Por isso, tentamos não escolher, deixar como está, como se isso não fosse uma escolha”, resume o pesquisador. Em outras palavras, o cérebro reptiliano resolve logo dúvidas como: gastar grande parte do salário na noite do sábado ou guardar para uma viagem daqui a seis meses? A resposta dele costuma ser torrar o dinheiro na balada.
Ele tem um aliado forte. Trata-se de outra parte do cérebro, o sistema límbico, onde reside o controle das emoções. No mundo do consumo, é essa estrutura que nos empurra para sair com os amigos, mesmo quando foi feita a promessa de que o mês seria de economia. Fala mais alto a necessidade de convívio social. É também o sistema límbico que faz fervilhar a vontade de ter a calça de marca, beber o uísque 12 anos e comer no restaurante badalado. Em suma, a necessidade de obter status social pelo consumo.
Na batalha neurológica, o cérebro símio (córtex insular) e, principalmente, o córtex frontal – senhor da razão, dono da capacidade de traçar estratégias e pavimentar o futuro – são os que mais apanham. “O córtex frontal é uma máquina muito mais sofisticada que o cérebro reptiliano. Mas é mais lento. O jacaré pula muito antes na nossa frente”, brinca Macedo.
Ele cita em sua palestra uma pesquisa que fez com seus alunos. “Perguntei quem queria ganhar uma viagem de 15 dias para Nova Iorque, classe econômica, com US$ 80 por dia para gastar já no próximo fim de semana. E quem gostaria de usufruir de uma viagem para o mesmo destino, com US$ 200 dia e na primeira classe, mas só em 2017. A pesquisa mostrou que 81% quiseram ir agora.”
Nem só de biologia vive o consumismo. Há um componente histórico forte na equação. “Poupar para a aposentadoria é uma necessidade muito recente na nossa vida, para a qual não estamos bem preparados. Em 1850, no mundo, a expectativa de vida era de 30 anos. Em 1950, era de 63 anos. No Brasil, ainda era 48 anos. Hoje, no País, está em 72 anos. Tem que se preparar para essa nova fase”, explica. É bom começar a driblar o jacaré.
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