Cansado de não conseguir ir às aulas, estudante de 12 anos fez música relatando as agruras pelas quais passa na Zona Rural
14 de Abril de 2015
LUANA CARVALHO
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Estevão toca oito tipos de instrumentos, fez sucesso com o cavaquinho, mas diz que o forte mesmo dele é a bateria (Euzivaldo Queiroz)
Cansado de faltar aulas e perder provas por causa das condições precárias do transporte escolar da zona rural do Município de Iranduba (a 27 quilômetros de Manaus), o estudante Estevão de Andrade, de 12 anos, aproveitou seu talento musical para compor uma música de protesto relatando a sofrida rotina que os alunos da Escola Municipal Dona Mieko, na estrada do Caldeirão, enfrentam para estudar.
Ele mora a cinco quilômetros da escola e acorda diariamente sem a certeza de que conseguirá assistir aula. A viagem que dura cerca de dez minutos desde o ramal Monte Castelo - onde o estudante mora - até o colégio, muitas vezes é interrompida na metade do caminho.
“Todo dia, principalmente quando chove, a preocupação de todos que moram nos ramais é se o ônibus vai passar. Ninguém sabe. Às vezes o ônibus tá subindo uma ladeira e ‘dá prego no motor’. Sempre ficamos esperando e o ônibus não passa. Muita gente perde aula por causa disso”.
Estevão está no 7º ano do Ensino Fundamental e conta que pelo menos 30 crianças do ramal onde ele mora dependem do transporte escolar. Além disso, o ônibus também atende estudantes dos ramais Minas Gerais, do Areal, do ‘13’ e do ‘14’ e da estrada do Jandira.
“Eu espero que depois dessa repercussão o prefeito nos atenda. Se eu pudesse falar com ele eu pediria para trocarem os ônibus, pois o ônibus velho aguenta muito menos que um novo. E se puder, também vou pedir para asfaltarem nossos ramais”.
A música
Estevão compôs a música com a ajuda da mãe, a produtora rural Lialdeci de Andrade, 32 . “Eu ia cantando e ela escrevia para eu não esquecer a letra. Ela me ajudou com alguns versos e a outra metade da música eu terminei na escola. Quis pedir a opinião dos meus colegas para saber o que eles gostariam de reivindicar”.
Além do cavaquinho, o estudante toca outros oito instrumentos. Sem acesso à internet, o pequeno músico aprendeu a tocar os instrumentos sozinho. “Meu forte é a bateria. Minha mãe conta que quando eu tinha três anos ficava batucando as latas de leite. Mas há três anos meu avô, que toca violão, me deu um cavaquinho de presente. Eu pedi para ele me ensinar e ele disse que não podia porque eram instrumentos diferentes. Mas eu olhava ele tocando e tentei as mesmas notas no meu instrumento e assim aprendi”.
Ônibus sem monitores
A produtora rural Lialdeci de Andrade, 32, comentou sobre a aflição das mães em relação ao transporte escolar. “Meu filho já andou mais de dois quilômetros para voltar para casa porque o ônibus quebrou. A diretora passou a liberar os alunos às 16h30 por medo de escurecer e eles ficarem na estrada sem terem como voltar”.
Segundo ela, as mães se revezam como monitoras de transporte escolar. “Todo dia uma mãe acompanha as crianças e depois volta de mototáxi”.
Além disso, a construção da quadra poliesportiva da escola está atrasada. As obras iniciaram em março do ano passado e deveriam ser concluídas em junho. O prefeito de Iranduba, Xinaik de Medeiros, informou que a obra é uma parceria do município com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). “O governo federal não repassou o restante da verba para a construção”. Ele afirmou, ainda, que a troca dos ônibus será feita imediatamente.
Viral
O vídeo ‘viralizou’ na internet e até o início da tarde de ontem tinha mais de 70 mil visualizações. O pai do estudante, Joaquim Carvalho, 59, comentou sobre a repercussão. “Ele está vendendo ‘biribás’ em frente de casa para comprar um celular e aproveita para tocar a música dele. Alguma pessoa gravou e quando percebemos, já estava fazendo sucesso”.
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