Reunião foi pedida após o naufrágio no qual entre 700 e 950 pessoas poderiam ter
morrido ao largo da costa líbia
20/04/2015 17:11 - AFP
A União Europeia convocou uma cúpula de chefes de Estado e de Governo e revelou nesta segunda-feira (20) um plano de ação para tentar dar respostas ao drama dos imigrantes no Mediterrâneo, depois da morte de centenas de pessoas em recentes naufrágios.
O plano de ação apresentado pela Comissão Europeia possui dez pontos, que incluem reforçar as operações de controle e resgate para responder à situação de crise migratória. Este plano será apresentado na quinta-feira aos chefes de Estado e de governo da União Europeia durante a cúpula extraordinária, informou a Comissão em um comunicado.
"Não podemos continuar assim, não podemos aceitar que centenas de pessoas morram tentando atravessar o mar para chegar à Europa", afirmou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, ao anunciar esta reunião extraordinária dos chefes de Estado e de governo. A reunião foi pedida no domingo pelo chefe do Governo italiano, Matteo Renzi, com apoio de outros dirigentes, após o naufrágio no qual entre 700 e 950 pessoas poderiam ter morrido ao largo da costa líbia no domingo.
O plano apresentado também propõe a apreensão e destruição de embarcações utilizadas para transportar os migrantes, o reforço da cooperação entre as organizações europeias e um programa para deportação rápida dos candidatos à imigração não autorizados a permanecer na UE.
"Não temos mais álibi", lançou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, durante uma reunião conjunta com os ministros das Relações Exteriores e do Interior da UE em Luxemburgo. "As tragédias registradas nos últimos dias, nesses últimos meses, nos últimos anos, é demais", ressaltou.
O novo naufrágio em frente à costa líbia provocou comoção em todo o mundo. Sobreviventes relataram que centenas de pessoas, até 950, incluindo 50 crianças e 200 mulheres, morreram quando a embarcação virou com a aproximação de um cargueiro português que veio socorrê-las.
A Guarda Costeira italiana, que recuperou 24 corpos e 28 sobreviventes, não confirmou este balanço. Os corpos das vítimas chegaram nesta segunda-feira na ilha de Malta. Os sobreviventes são esperados esta tarde em Catane, na Sicília.
Verdadeira política migratória
A urgência se tornou ainda mais evidente após a Organização Internacional para as Migrações (OIM) anunciar que recebeu um pedido de socorro de uma embarcação com mais de 300 pessoas a bordo que estaria afundando no Mediterrâneo.
Matteo Renzi indicou pouco depois que a Guarda Costeira italiana havia lançado um apelo de ajuda às embarcações mercantes para auxiliar neste novo resgate. Neste contexto, a chanceler alemã, Angela Merkel, declarou que a UE "fará tudo para impedir que novas vítimas morram em frente à nossa porta da maneira mais cruel".
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, pediu para que a Europa aumente seus esforços para enfrentar a crise e evitar "o mar de miséria". "O Mediterrâneo se transforma rapidamente em um mar de sofrimento para milhares de imigrantes", declarou Ban na abertura de uma reunião da ONU para preparar uma cúpula humanitária prevista na Turquia no próximo ano.
O papa Francisco apelou, por sua vez, a comunidade internacional a "agir com decisão e rapidez". "Precisamos de medidas imediatas da parte da UE e dos Estados membros", assegurou Mogherini, citando o reforço da operação de vigilância marítima Triton, além de uma melhor repartição do acolhimento dos imigrantes, enquanto a Itália, Grécia, Malta e Espanha, carregam praticamente todo o fardo.
Os europeus estão relutantes em reforçar o salvamento no mar e em acolher mais pessoas, temendo que isso incentive mais pessoas a se lançar nesta empreitada. De acordo com o Alto Comissariado para os Refugiados, 35 mil imigrantes chegaram de barco no sul da Europa desde o início do ano, e 1.600 estão desaparecidos.
"A reputação da União Europeia está em jogo", considerou o chefe da diplomacia italiana, Paolo Gentiloni. No curto prazo, um reforço da Triton está sendo planejado. Os europeus também analisam a possibilidade de cooperação com os países de origem e de trânsito para melhor regular o fluxo. Assim, pesam todas as suas forças para a formação de um governo de unidade na Líbia para acabar com o caos no país, onde a organização Estado Islâmico (EI) tem se estabelecido.
A estabilidade na Líbia parece ser a única forma de deter permanentemente a saída de imigrantes africanos e de refugiados sírios reunidos em suas margens. A UE promete um "apoio", mas é vago sobre as opções propostas.
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