Equipamentos culturais do Brasil buscam alternativas para driblar a crise e captar recursos
Tomaz Silva/ Agência Brasil
Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, é exemplo da reconfiguração dos espaços
Em tempos de crise, só a criatividade proverá. Ao menos é o que sugere o presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Carlos Roberto Brandão. “Temos que buscar alternativas para captação de recursos como a Lei Rouanet, leis de captação estadual, como o Funcultura, crowdfundings e parcerias”, sugere o presidente, que esteve no Recife esta semana para discutir a política nacional dos equipamentos culturais, em evento na Fundação Joaquim Nabuco, no Museu do Homem do Nordeste, com a participação de gestores de diversas instituições da capital pernambucana.
Segundo ele, a legislação em relação à liberação dos editais vem se aperfeiçoando. O Ibram é a entidade que trabalha políticas públicas nos 3.500 museus em todo o País, ao lado do Ministério da Cultura e do Governo Federal, dividindo essas atribuições com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e gere diretamente 29 instituições. No Recife, o Museu da Abolição está nessa lista.
Ao mesmo tempo em que sugere outras opções para as instituições conseguirem dinheiro - já que admite serem os próximos dois anos de vacas magras em relação a verbas governamentais -, Carlos Roberto reconhece que o próprio poder público causa empecilhos para a geração de renda. “Há museus que cobram ingressos, oferecem serviços e geram renda própria até maior do que a que é repassada pelo governo. Mas esse montante vai para a União. É um absurdo”, admite.
Outro problema é o fato de alguns museus serem administrados por pessoas despreparadas e colocadas ali por questões políticas, o que acarreta problemas, desde cuidar do acervo e da infraestrutura, até garantir a visitação. O Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), na Boa Vista, segundo o presidente, o arquiteto Luiz da Mota Menezes, carece de público. “Estou com salas bem montadas, belas exposições, mas falta o interesse das escolas pelo museu. Os estudantes que vão ficam encantadíssimos, porém são poucos, pois não há ônibus para levá-los”, queixa-se o arquiteto.
Já a coordenadora do Museu de Arqueologia da Unicap, Maria do Carmo Costa, conseguiu atrair o público criando aulas complementares a serem ministradas no museu. “Assim o professor de História e Ciências, por exemplo, se interessa e complementa o conteúdo”, justifica a coordenadora.
Na contemporaneidade, os museus ganharam um sentido bem mais amplo, colaborativo e menos autoritário. São espaços de memória. Sendo assim, até jardins botânicos são considerados museus. Seguindo essa definição, novas propostas muitas vezes são difíceis de classificar. “Visitei um museu na Croácia chamado Museu das Relações Partidas, e ele se expressa a partir de objetos doados e depoimentos. Uma das peças era um hambúrguer de plástico com a mensagem: ‘o seu cachorro deixou melhores lembranças do que você’”, recorda Carlos Roberto.
A ausência de matéria e excesso de recursos virtuais, como no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, são novas realidades. Mas os equipamentos tradicionais não perderão espaço. “Tanto oMuseu do Amanhã quanto o de Belas Artes sempre terão têm sua importância”, garante o presidente do Ibram.
Há também instituições que não se reconhecem como museus. Daí a importância de eventos como o Circuito dos Museus, que acontecerá na 14ª Semana Nacional dos Museus, de 16 a 22 de maio. Com o tema “Museus e Paisagens Culturais”, a semana comemora do Dia Internacional de Museus (18 de maio). Uma oportunidade para o acesso à cultura e um espaço de compartilhamento, além de ser uma chance para os museus se reconhecerem como tais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário