Do Globo:
No cartório do 2º Registro de Imóveis do Rio de Janeiro, o número oficial da casa de seis suítes da Rua Sergio Porto, no alto da Gávea, Zona Sul da cidade, é 171. Porém, durante os nove anos que ocupou o imóvel, um inquilino não quis associar o número da residência ao artigo do Código Penal pelo qual são conhecidos os estelionatários. Preferiu dar ao lugar uma numeração fantasia — 173. À revelia da prefeitura, fixou na porta uma plaquinha que encobria a original. A dona da casa, a advogada aposentada Regina Gonzalez Pinheiro Machado, de 78 anos, disse que o morador, que viveu ali de 1998 a 2006, jamais pediu o seu consentimento para apagar o número 171.
Ao mudar-se dali para a Barra “sem nunca ter devolvido as chaves”, garante a proprietária, Eduardo Cunha, afastado da presidência da Câmara na quinta-feira, levou também a plaquinha com o número 173. Hoje, de vestígio do antigo inquilino, só restaram as marcas do número falso. Mas, na memória de Cunha, o endereço não deve ser de boas lembranças. Foi ali, na casa com piscina, pomar e garagem para oito carros que o político enfrentou o primeiro de uma coleção de escândalos: a denúncia de favorecimento da obscura construtora Grande Piso na construção de unidades habitacionais populares, quando presidia a Cehab.
— Ele vivia sempre assustado e cercado de seguranças — recorda-se um antigo vigilante da rua, que se identificou como “Zé”.
Antes da temporada na Gávea, Cunha já havia comandado a Telerj no governo Collor. Economista formado pela Cândido Mendes, com uma rápida passagem pela empresa de auditoria Arthur Andersen (1978 a 1980), ele teria encantado alguns políticos pela facilidade de lidar com números e finanças. Até chegar ao quartel-general da campanha de Collor a presidente, em 1989, teria testado a expertise nas eleições disputadas por Eliseu Resende em Minas (1982) e Moreira Franco no Rio (1986).
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