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terça-feira, 17 de maio de 2016

"Era um cantor perfeccionista", diz apresentador da Rádio Nacional sobre Cauby

16/05/2016 15h40
Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil*
Cauby Peixoto
Cauby PeixotoArquivo/Agência Brasil
Um dos ídolos da chamada era de ouro do rádio, o cantor Cauby Peixoto teve a Rádio Nacional como um dos grandes momentos de sua trajetória. Na entrada e saída do Edifício A Noite, onde ficavam os auditórios e estúdios da rádio que projetou seu nome para todo o país na década de 50, o cantor foi muitas vezes cercado por fãs, que recebiam presentes e até rasgavam parte de sua roupa na ânsia de ficar um pouco mais perto do astro.

O artista morreu na noite desse domingo (15), aos 85 anos, em São Paulo. Ele estava internado desde o dia 9 de maio no Hospital Sancta Maggiore, no Itaim Bibi, na zona sul de São Paulo, com um quadro de pneumonia.

Na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, veículo que hoje faz parte da Empresa Brasil de Comunicação, Cauby deixou amigos como o comunicador e locutor Gerdal dos Santos, que apresenta o programa Onde Canta o Sabiá, e concedeu entrevista à TV Brasil. Gerdal lembra a chegada de Cauby à rádio, em 1954, e descreve o cantor como "perfeccionista".

"Era um ótimo caráter, um homem bom. Como artista, além de ter aquela voz privilegiada, era um cantor perfeccionista, porque ele sabia tirar a entonação da canção, a melodia, e ensaiava muito", contou Gerdal. Segundo ele, o ídolo se destacava por ter muita dedicação, além de sua genialidade: "Ele se esmerava muito na forma de estudar a música, de cantar e de gravar".

O apresentador lembra que quando Cauby chegou à rádio tinha uma vida modesta em Niterói, onde nasceu, mas, por orientação de seu empresário, o cantor se mudou para um hotel no centro do Rio de Janeiro.

"Eu fazia parte do cast [elenco] de radioteatro, novelas e programas, e Cauby era o cantor do momento. Presenciei, entrando na rádio, ele ser procurado pelas fãs na porta. Elas corriam no Edifício à Noite e tiravam dele uma lembrança, um lenço, uma carteira, o que viesse. Puxavam a manga do terno e saiam com ela na mão".
Rovena Rosa/Agência Brasil
São Paulo - A cantora Angela Maria participa do velório do cantor Cauby Peixoto na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, no Parque do Ibirapuera Rovena Rosa/Agência Brasil
Assim como boa parte dos fãs, Gerdal soube da morte de Cauby na manhã de hoje e lamentou a perda do cantor, que era um dos nomes que a Rádio Nacional pretendia homenagear na comemoração de seus 80 anos de fundação. "É uma perda muito grande para a música brasileira, pela figura humana que ele foi e representa de exemplo a todos nós que trabalhamos no rádio."

Em entrevista, na manhã de hoje, ao programa Nacional Brasil, também da Rádio Nacional, o pesquisador Ricardo Cravo Albin disse que Cauby foi ídolo da juventude de sua época, e que seu sucesso foi um fenômeno muito parecido com o que provocou Roberto Carlos anos depois.

"Foi a última cigarra da música popular, porque morreu cantando. Poucos exemplos podem se fazer dentro da opulenta história popular como a do Cauby Peixoto, 65 anos pelo menos cantando e encantando o Brasil", disse o musicólogo, que também apontou o papel da Rádio Nacional na divulgação do artista: "Quem não atingia o microfone da Rádio Nacional simplesmente não existia, ou não se consolidava".

Famoso por interpretações como Blue Gardênia, New York, New York e Mil Mulheres, Cauby gravou Conceição no auge do samba-canção e a música se tornou a principal referência ao seu trabalho.

"Se qualquer outro cantor tivesse gravado Conceição, não haveria a dramaticidade, essa inteireza", analisa Cravo Albin, que também destaca que a música atendia ao gosto estético da época por seu tom trágico. "

[Conceição] Era um personagem perfeito, trágico, que saiu do morro porque queria o sucesso da cidade. Viveu na cidade, e ela a maltratou, e voltou para o morro".

*Colaboraram as repórteres Tâmara Freire, do Radiojornalismo da EBC, e Thais Araújo, da TV Brasil

Edição: Maria Claudia

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