Mães da primeira geração de crianças nascidas após o crescimento da microcefalia superam dificuldades para vencer os desafios de uma era
Por: Alice de Souza - Diario de Pernambuco
Publicado em: 08/05/2016 11:38
Viver a maternidade, para Iris, tem sido uma experiência de redenção com a criança e consigo mesma. Foto: Rafael Martins/Esp.DP |
Ser mãe é a principal – e às vezes única – função das mulheres cujos filhos têm microcefalia e outras manifestações associadas. Elas são majoritariamente jovens, 56% delas têm entre 18 e 29 anos. Um terço teve os filhos após cruzar a faixa dos 30 anos. Em comum, além da condição dos rebentos, têm a pobreza como determinante social. Dentre aquelas inseridas no CADúnico, cadastro nacional que identifica famílias de baixa renda, 99% recebem menos de meio salário mínimo por mês. E mais de seis em cada 10 estão na linha da extrema pobreza.
Crédito: editoria de arte/DP |
É comum a 83% das mulheres sofrer de alterações de humor após o nascimento de um filho. Uma tristeza leve, um sentimento de incapacidade. Aquelas que enfrentam circunstâncias não esperadas durante a gestação têm maior propensão a desenvolver doenças mentais. Dentre aquelas que têm filhos especiais, 63% chegam a essa situação. O contraditório é porque as crianças geradas nesse contexto são as que mais precisam do apoio materno.
Crédito: editoria de arte/DP |
Esse apoio, em Pernambuco, também vem da união entre essas mulheres. Por meio da União de Mães de Anjo (Uma), grupo que começou no whatsapp e virou associação com o apoio das veteranas nessa batalha das Aliança de Mães e Famílias Raras (Amar). São mais de 290 mulheres que trocam mensagens de carinho, dúvidas sobre a criação dos filhos e buscam direitos.
Iris, conquistada por um sorriso da filha
Os sonhos pulsavam no coração adolescente quando Iris Santos se enamorou do vizinho. Terminar os estudos, viajar, casar e ter filhos. Exatamente nessa ordem. Ela, aos 15 anos, e ele, aos 19, subverteram o caminho pela urgência da paixão juvenil. Com dois meses de relacionamento, Iris estava grávida. A novidade não foi bem aceita por parte da família e confundiu a cabeça da menina. Ainda mais após o nascimento da criança, com síndrome congênita do zika. Rejeitar foi a primeira reação. Viver a maternidade, para Iris, tem sido uma experiência de redenção com a criança e consigo mesma.
As circunstância nunca foram fáceis para Iris e Alicia. A bebê nasceu em um parto de alto risco, em seguida passou 15 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde teve uma parada cardíaca. Um total de dois meses e cinco dias dentro de um hospital. Afundada em questionamentos de o “porquê ela e eu? Iris chegou a perder 10kg em apenas uma semana. “Questionava a tudo e a todos. Pensava que ela nunca ia me chamar de mãe”, explica. No princípio, ser mãe parecia um terreno de solidão.
O horizonte começou a se colorir de um jeito inusitado. A sogra de Iris, Jaqueline Martins, 40, conheceu através do trabalho a mãe de um bebê com a síndrome. Contou a história da neta, pediu para entrar no grupo do whatsapp criado pelas mulheres. Despretenciosamente, buscou informações para a nora e deixava o telefone ao lado, para Iris acompanhar as atualizações. A menina recebeu por duas vezes visitas de outras mulheres em casa e deixou, aos poucos, de se sentir a exceção.
Começou a pegar a filha no colo com mais frequência, acalmar diante do choro e sair com a criança para as praças do bairro. O dia determinante para a relação maternal chegou aos cinco meses do nascimento, na sala de casa. Em uma sessão de selfies, Alicia deu o primeiro sorriso. “Antes disso, quando eu não aceitava, ela nunca sorriu. Era como se sentisse”, lembra Iris. O choque inicial foi substituído pela esperança. De ver a filha crescer, de superar os preconceitos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário