Entre as 92 pessoas que viajavam a bordo do avião militar russo que caiu este domingo no Mar Negro, cerca de 60 eram membros do coro do Exército Vermelho, um símbolo da Rússia que recebe aplausos por todo o mundo.
O seu repertório tem mais de 2.000 obras - canções folclóricas, composições em homenagem à URSS, música sacra e alguns sucessos internacionais -, que interpretam com as suas vozes potentes, acompanhadas de coreografias repletas de acrobacias.
O conjunto, um dos poucos que se apresentava no exterior durante a época soviética, fez também centenas de concertos na URSS, gravou dezenas de discos e impôs-se como uma presença habitual nas festas públicas.
Durante a II Guerra Mundial, os seus músicos não descansavam. Fizeram mais de 1.500 apresentações para os soldados soviéticos em zonas de combate e nos hospitais.
O seu fundador, o general e compositor Alexandre Alexandrov, dirigiu o coro durante 18 anos, sucedendo-lhe o seu filho Boris, que liderou o grupo entre 1946 e 1987.
O seu atual diretor, Valeri Khalilov, estava no avião que caiu este domingo no Mar Negro quando se dirigia à base aérea russa de Hmeimim, perto de Latakia, no noroeste da Síria, onde iam celebrar o Ano Novo com os soldados.
"Perda irreparável"
Khalilov "fez uma grande contribuição à cultura contemporânea como maestro e compositor", declarou a vice primeira-ministra russa Olga Golodets à agência oficial TASS, qualificando a sua morte de "perda irreparável".
"É uma grande injustiça", afirmou o pianista Denis Matsuyev, que lamentou a perda de um "maestro excelente". "O Conjunto Alexandrov é um cartão-de-visita da cultura russa", acrescentou, segundo a agência pública Ria-Novosti.
Ovacionado pelo público durante as suas numerosas digressões em mais de 70 países, tanto na Europa como na Ásia, o coro recebeu em 1935 a Ordem da Bandeira Vermelha, um dos maiores reconhecimentos soviéticos, pelos seus "méritos excepcionais na cultura".
"O Conjunto Alexandrov é um dos melhores do mundo. Apresentava-se em zonas de conflito (...). É uma terrível tragédia", disse Elena Chtcherbakova, diretora artística do Ballet Igor Moiseyev, à Ria-Novosti.
O coro do Exército Vermelho cantou para as tropas em diversas zonas de combate, do Afeganistão aos Balcãs.
"Eles iam para a Síria com uma grande missão, uma missão de paz", disse o primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev. "É impossível aceitar essa perda", acrescentou.
Assista abaixo uma apresentaçãol do coro:
O acidente
O avião militar russo - Tupolev Tu-154 - que caiu este domingo no Mar Negro desapareceu dos radares logo após a decolagem às 5h27 do aeroporto da cidade de Adler, ao sul do balneário de Sochi, no Mar Negro. Dirigia-se para a base aérea de Hmeimim, perto de Latakia, no noroeste da Síria.
"A zona da catástrofe do Tu-154 foi determinada. Não há sinais de sobreviventes", declarou o porta-voz do Exército russo, Igor Konanchenkov. Os destroços do avião foram encontrados a 1,5 quilómetros da costa, a cerca de 70 metros de profundidade.
O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou a formação de uma comissão de investigação liderada pelo primeiro-ministro Dmitri Medvedev para determinar as causas do acidente e anunciou que segunda-feira será dia de luto nacional pelas vítimas do acidente. "Amanhã será decretado dia de luto nacional", disse Putin na televisão russa. O chefe de Estado expressou "suas mais profundas condolências" e afirmou que será feita "uma investigação exaustiva" para apurar as causas do acidente e que "tudo será feito para apoiar os familiares das vítimas".
O presidente do Conselho da Federação para a Defesa e Segurança, Viktor Ozerov, afirma que não há nenhuma hipótese de ter sido um atentado, apontando para uma falha técnica ou erro humano como causas do acidente. "Nem considero a hipótese de um atentado. É um avião do Ministério da Defesa, estava no espaço aéreo da Federação da Rússia, tal cenário não é possível ", afirmou.
O avião levava 84 passageiros e oito tripulantes, de acordo com o ministério, que informou que equipas de resgate foram enviadas para a área para tentar localizar as vítimas. A lista de passageiros publicada pelo ministério além de incluir 64 membros do Conjunto Alexandrov, inclui também oito tripulantes, nove jornalistas, dois fu
ncionários civis e a diretora de uma organização de caridade respeitada na Rússia, Elizaveta Glinka. Conhecida como "Doutora Liza", ela levava medicamentos para o Hospital Universitário de Latakia, segundo o diretor do Conselho dos Direitos Humanos para o Kremlin, Mikhail Fedotov, em comunicado citado pela agência de notícias Interfax.
Investigação
Uma investigação criminal foi aberta para determinar se violações das regras de segurança da aviação provocaram o acidente, indicou o Comitê de Investigação da Rússia, órgão responsável pelas investigações mais importantes do país. Os investigadores estão interrogando os técnicos que prepararam a aeronave, segundo a mesma fonte.
Nenhuma hipótese é destacada como tendo maior probabilidade na queda deste avião, que opera há 33 anos. Segundo o ministério da Defesa, o avião tinha 6.689 horas de voo desde 1983.
Vários Tu-154, uma aeronave de concepção soviética, sofreram acidentes no passado. Em abril de 2010, um dispositivo deste tipo transportando 96 pessoas, incluindo o presidente Lech Kaczynski e autoridades polacas caiu ao tentar pousar perto de Smolensk (oeste da Rússia) e todos os seus ocupantes morreram.
Fonte: Sapo/Portugal
Nenhum comentário:
Postar um comentário