16 de Maio de 2017 - 11h01
Quando o golpe de Estado que tirou a presidenta Dilma Rousseff do poder estava sendo gestado a maior promessa dos golpistas era a de que o Brasil voltaria a crescer. Alguns incautos caíram na conversa e acreditaram que o mesmo grupo que havia levado o Brasil à lona tantas vezes cumpriria essa promessa.
Passado um ano a situação econômica do Brasil é desoladora. O desemprego bate recordes, cada vez mais famílias habitam as ruas das grandes cidades, a desesperança só cresce. A tentativa patética da grande mídia de achar alguma réstia de recuperação econômica só demostra que o golpe nos levou ao fundo do poço.
É nesse cenário que Armínio Fraga, ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso, declara que o problema da economia nacional é a ameaça de que Lula volte a ser presidente da República. Assim, subentende-se, tirar o ex-presidente do caminho é a linha para que o país volte a crescer.
Há na declaração de Fraga dois elementos inseparáveis: o primeiro é uma empulhação, típica do discurso econômico neoliberal, o segundo é uma confissão que só faz com essa desfaçatez quem tem ao seu lado uma mídia amestrada como blindagem.
A empulhação é a ideia de que a haverá crescimento com a política de austeridade e cortes levadas a cabo por este governo. Sem investimento público, sem indução da atividade econômica por parte do Estado, não há possibilidade de retomada do desenvolvimento econômico, como a história não cansa de demonstrar. Uma leitura superficial dos periódicos que tratam de economia com alguma decência é suficiente para verificar que mesmo organismos como o Fundo Monetário Internacional têm sustentado que as políticas de austeridade foram longe demais. No Brasil a turma de Armínio acha é pouco e, mantida no poder, levará o país à liquidação completa.
Outro fato já demonstrado, mas que não interessa a quem está a serviço dos interesses da grande finança, é que sem a retomada do desenvolvimento as contas públicas não serão estabilizadas. Como tem demonstrado a economista Laura Carvalho, o problema fiscal no Brasil não está relacionado aos gastos, mas às receitas. Ou seja, a questão é que a ausência de crescimento econômico derrubou a arrecadação e os cortes realizados pelo governo golpista só agravam a situação, porque deprimem ainda mais a economia.
Esse quadro, já dramático, só se agravará com o corte de direitos em curso, tanto no que respeita à reforma trabalhista, quanto à previdenciária. A diminuição da renda dos trabalhadores provocará mais depressão econômica e, portanto, mais desemprego e miséria.
Entretanto, o que mais chama atenção na declaração de Fraga não é a empulhação da escola econômica de que ele faz parte, com a qual todos já estão acostumados, mas a confissão que sua declaração traz. Ao afirmar que a possibilidade de Lula vencer as eleições assusta o mercado e impede o crescimento, ele revela a incompatibilidade crescente entre a democracia e o capitalismo neoliberal. Se a soberania popular, expressa, neste momento, no amplo apoio ao nome de Lula é contrária à vontade do deus mercado, às favas com ela.
Este processo de incompatibilidade crescente é mundial, assumiu contornos próprios nos diferentes países, mas tem um sentido geral único: o capitalismo em crise já não pode se dar ao luxo de conviver com franquias democráticas como o sufrágio universal, mesmo com todo o poder que o grande capital tem nas eleições. Hoje, qualquer divergência não é funcional a um sistema que precisa, para sobreviver, levar a exploração do trabalho de volta ao século 19.
A entrevista do ex-ministro sinaliza que o mercado já tocou o dobre de finados para a democracia no Brasil. Mostra, ainda, de onde vêm os ventos que sopram de Curitiba.
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