O estudante catarinense Vitor Rodrigues Fregulia diz que tentou afastar artefato jogado pelos policiais. PM diz que versão não procede
26/05/2017 11:16
Uma das imagens mais chocantes da manifestação que terminou em quebra-quebra na Esplanada dos Ministérios na tarde dessa quarta-feira (24/5) foi a de um jovem com a mão direita dilacerada. O vídeo feito durante o protesto ganhou as redes sociais e mostra o rapaz sendo conduzido por um outro manifestante com a mão ensanguentada.
Vitor Rodrigues Fregulia, 21 anos, é quem protagoniza a cena chocante. Ele perdeu três dedos. Passou por uma cirurgia no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) e segue internado, sem previsão de alta. A versão inicial é de que ele se feriu gravemente depois de jogar um rojão contra os policiais. Ao Metrópoles, o estudante nega. Diz que tentou se livrar de uma das bombas lançadas pelos PMs, quando ocorreu a explosão.
O rapaz veio de Santa Catarina com mais 35 pessoas para participar da manifestação na Esplanada. Viajaram 36 horas até chegar à capital do país. Ingrid Leitemberg é coordenadora do grupo e ficou em Brasília para acompanhar o jovem no Hospital de Base. Os outros manifestantes já voltaram para Florianópolis.
Ela confirma a versão do estudante. “Fomos atingidos e ele, no momento, tentou afastar aquela bomba que estava perto de todos ali. Infelizmente, fez isso com a mão e aconteceu o estrago”, disse. Ingrid afirma que estava no alto do carro de som, logo atrás, e viu quando a PM jogou bombas na direção do grupo.
Cirurgia de reconstrução
Estudante de física do Instituto Federal de Araranguá, Vitor mora com o pai no município, que fica a 200km da capital catarinense. Segundo Ingrid, o jovem passou por uma cirurgia de reconstrução, após perder parte dos dedos indicador, anelar e polegar da mão direita.
Estudante de física do Instituto Federal de Araranguá, Vitor mora com o pai no município, que fica a 200km da capital catarinense. Segundo Ingrid, o jovem passou por uma cirurgia de reconstrução, após perder parte dos dedos indicador, anelar e polegar da mão direita.
Vitor está entre as 49 pessoas que ficaram feridas durante a manifestação, sendo oito policiais. Ao todo, 45 foram atendidas nos Hospital de Base e Regional da Asa Norte (Hran). Quatro continuam internadas no HBDF.
Apesar da gravidade do ferimento na mão direita, Vitor está estável, respira sem a ajuda de aparelhos. Segundo Ingrid, o estudante está bem psicologicamente. Ela ficará com Vitor até que seja liberado do Hospital de Base.
De acordo com a Polícia Militar, a versão é “praticamente impossível”. A corporação afirma que apenas um dos dois tipos de bombas utilizadas durante a manifestação pode causar lesões. O ferimento, no entanto, seria improvável porque os artefatos explodem muito rápido, com 1,5 segundo ou 3 segundos após serem lançadas, diz a PMDF. Ainda segundo a corporação, o outro tipo de bomba usada não poderia causar dano porque não explode.
Entre os feridos, o estado mais grave é de um rapaz que levou um tiro no maxilar. De acordo com a Secretaria de Saúde, o homem, identificado apenas com as iniciais C.G.S, está sedado no Centro de Trauma do Hospital de Base, respirando com a ajuda de aparelhos, mas seu quadro é estável.
Nesta quinta, o secretário de Segurança Pública e da Paz Social do Distrito Federal (SSP-DF), Edval de Oliveira Novaes Júnior, informou que os policiais que usaram armas de fogo durante a manifestação de quarta (24), na Esplanada dos Ministérios, foram identificados. O inquérito policial já foi instaurado.
“A regra é a utilização de armamento não letal e de uso progressivo da força. Isso foi uma exceção, não estava previsto (o uso de arma letal), e estamos apurando rigorosamente”, disse o secretário. Ele acrescentou que esses PMs serão responsabilizados.
A manifestação contra reformas e pelo impeachment do presidente Michel Temer (PMDB/SP) foi organizada por centrais sindicais e, segundo a PM, reuniu 45 mil pessoas na Esplanada. Começou pacífica, mas a situação fugiu ao controle duas horas depois.
Prédios públicos foram destruídos. O prejuízo é grande. Somente no Ministério do Planejamento, passa de R$ 300 mil. A PM tentou conter os manifestantes, sem sucesso. Temer publicou um decreto pouco depois autorizando as Forças Armadas ocuparem o DF. Diante de críticas de congressistas, recuou e revogou a medida nesta quinta.
Confira a nota da Polícia Militar na íntegra:
Na operação de ontem foram utilizados instrumentos de menor potencial ofensivo para restabelecer a ordem e a paz social. Dentre esses instrumentos existem granadas explosivas (bombas) e fumígenas (com gás lacrimogêneo ou coloridas).Ao tentar afastar qualquer dessas granadas a possibilidade do cidadão se machucar existe pois como já dito anteriormente podem ser explosivas e nas fumígenas ocorre o processo de sublimação o qual possui alta temperatura. As granadas explosivas possuem dois tempos possíveis para explodir: 1,5 segundos ou 3 segundos após serem lançadas.Logo, conseguir pegar tais granadas explosivas na mão para arremessá-las contra os policiais, torna-se praticamente impossível. Caso o cidadão tenha pegado na mão uma granada fumígena, não teria como ocorrer dilaceração da mão pois não há explosão esperada.
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