O colunista Reinaldo Azevedo pediu demissão
da revista Veja nesta terça-feira (23) após a divulgação do
áudio de uma conversa grampeada com Andrea Neves na
qual ele faz críticas à publicação por uma capa contra Aécio
Neves e a irmã do senador afastado.
Veja a conversa entre o colunista e Andrea Neves:
Andrea Neves - Agora, que está acontecendo na Veja,
o que o pessoal fez…
Reinaldo Azevedo - Ah, eu vi. É nojento, nojento. Eu vi.
Andrea Neves - Assinaram
todos os jornalistas e vão
pegar a loucura desse cara
para esquentar a maluquice
contra mim.
Reinaldo Azevedo - Tanto é
que logo no primeiro
parágrafo, a Veja publicou no
começo de abril que não sei
o que, na conta de Andrea
Neves. Como se o depoimento do cara endossasse isso.
E ele não fala isso.
Andrea Neves - Como se agora tivesse uma coleção de
contas lá fora e a minha é uma delas.
Reinaldo Azevedo - Eu vou ter de entrar nessa história
porque já haviam me enchido o saco. Vou entrar
evidentemente com o meu texto e não com o deles.
Pergunto: essas questões que você levantou para mim,
posso colocar como se fosse resposta do Aécio?
Andrea Neves - Nós mandamos agora para a Veja uma nota
para botar nessa matéria.
Reinaldo Azevedo - Não quer mandar para mim também?
Andrea Neves - Mando.
Leia na íntegra a nota divulgada por Reinaldo Azevedo:
Andrea Neves, Aécio Neves e perto de uma centena de
outros políticos são minhas fontes.
Trechos de duas conversas que mantive com Andrea, que
estava grampeada, foram tornadas públicas. Numa delas,
faço uma crítica a uma reportagem da VEJA e afirmo que
Rodrigo Janot é pré-candidato ao governo de Minas e que
estava apurando essa informação. Em outro, falamos dos
poetas Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto.
Fiz o que deveria fazer: pedi demissão — na verdade,
mantenho um contrato com a VEJA e pedi o rompimento,
com o que concordou a direção da revista.
Abaixo, segue a resposta que enviei ao BuzzFeed, que vai
fazer ou já fez uma reportagem a respeito. Volto para
encerrar. Mesmo!
Comecemos pelas consequências.
Pedi demissão da VEJA. Na verdade, temos um contrato,
que está sendo rompido a meu pedido. E a direção da
revista concordou.
1: não sou investigado;
2: a transcrição da conversa privada, entre jornalista e sua
fonte, não guarda relação com o objeto da investigação;
3: tornar público esse tipo de conversa é só uma maneira de
intimidar jornalistas;
4: como Andrea e Aécio são minhas fontes, achei, num
primeiro momento, que pudessem fazer isso; depois, pensei
que seria de tal sorte absurdo que não aconteceria;
5: mas me ocorreu em seguida: “se estimulam que se grave
ilegalmente o presidente, por que não fariam isso com um
jornalista que é crítico ao trabalho da patota?;
6: em qualquer democracia do mundo, a divulgação da
conversa de um jornalista com sua fonte seria considerada
um escândalo. Por aqui, não;
7: tratem , senhores jornalistas, de só falar bem da Lava Jato,
de incensar seus comandantes;
8: Andrea estava grampeada, eu não. A divulgação dessa
conversa me tem como foco, não a ela;
9: Bem, o blog está fora da VEJA. Se conseguir hospedá-lo
em algum outro lugar, vocês ficarão sabendo;
10: O que se tem aí caracteriza um estado policial. Uma
garantia constitucional de um indivíduo está sendo agredida
por algo que nada tem a ver com a investigação;
11: e também há uma agressão a uma das garantias que
tem a profissão. A menos que um crime esteja sendo
cometido, o sigilo da conversa de um jornalista com sua
fonte é um dos pilares do jornalismo.
EncerroNo próximo 24 de junho, meu blog completa 12
anos. Todo esse tempo, na VEJA. Foram muitos os
enfrentamentos e me orgulho de todos eles. E também sou
grato à revista por esses anos.
Nesse tempo, sob a direção de Eurípedes Alcântara ou de
André Petry, sempre escrevi o que quis. Nunca houve
interferência.
O saldo é extremamente positivo. A luta continua.
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