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domingo, 9 de junho de 2013

MEMÓRIA POLÍTICA A face oculta por trás do mito Prestes

Maria Prestes vem ao Recife, esta semana, lançar a nova edição do seu livro de memórias Meu Companheiro - 40 Anos ao lado de Luiz Carlos Prestes

Publicado em 09/06/2013, às 07h05m

Ayrton Maciel

Capa do livro de memórias de Maria Prestes, que conviveu quatro décadas com o

Capa do livro de memórias de Maria Prestes, que conviveu quatro décadas com o "Cavaleiro da Esperança"

Reprodução JC

História número um: o homem sem rosto. Dez anos na clandestinidade, desde que o TSE cassou o registro e jogou na ilegalidade o PCB, em 1947, o líder comunista Luiz Carlos Prestes, viveu sem voz e sem vida pública. Não podia ir à janela, nem falar em tom normal em casa, para não chamar a atenção dos vizinhos, nem ir à rua tomar sol.
História número dois: a face por trás do mito. Altamira Rodrigues Sobral, nascida no Recife, em 1932, usou por décadas a certidão de nascimento falsa como Maria do Carmo Ribeiro, de Itajubá (MG), mas adotou nome e incorporou o sobrenome de Maria Prestes. São a mesma pessoa. Em 1950, foi cumprir uma tarefa. Acabou esposa e mãe, também.
A judia e comunista alemã Olga Benário, escalada pela União Soviética (URSS) para ser guarda-costa do líder do PCB, havia acompanhado Prestes no retorno do exílio, em Moscou, em 1934 – para preparar a revolução no Brasil –, tornou-se sua mulher e mãe de Anita Benário Prestes. Presa com Prestes após a derrota da Intentona Comunista de 1935, Olga é deportada em 36, por Getúlio Vargas. Morreria numa câmara de gás de um campo de extermínio alemão, enviada para lá por Hitler.
Libertado com o fim do Estado Novo, em 45, senador cassado com o PCB em 47, Prestes volta à clandestinidade. Em 1950, para dar segurança a seu maior líder, o antigo “Partidão” designa uma jovem de 18 anos, nascida no Recife, filha de um camponês de Poção, no Agreste pernambucano, que havia participado da Intentona. Prestes tinha, então, 52 anos. Maria foi a guardiã por dez anos, tornou-se a segunda mulher e mãe de sete filhos do mítico Cavaleiro da Esperança.
Em 1959, Prestes decide abandonar a tática das casas clandestinas, sair à rua. Maria assume o papel oficial de mulher do revolucionário e aos filhos deixa de apresentar Prestes como “o tio”. Essas e outras histórias de amor e cumplicidade estão no livro Meu Companheiro - 40 Anos ao lado de Luiz Carlos Prestes, de Maria Prestes, 81.
A companheira até a morte (1990) do capitão do Exército, líder da Coluna Prestes, “o velho” para os revolucionários do PCB, lança a terceira edição da obra, terça-feira (11), às 19h, no Teatro Mamulengo, Recife Antigo.
“O dirigente partidário reagiu perplexo e indignado, em fins de 1950, ao tomar conhecimento que Prestes vivia com uma mulher e com ela tinha vários filhos. O segredo mantido pelo partido a sete chaves caiu como um bomba. Prestes não era um cavaleiro solitário, não se dedicava 24 horas por dia à causa revolucionária. ‘Ele tem uma mulher!? E filhos!?’, repetia o dirigente em estado de choque”, conta o escritor Dias Gomes, do PCB, no prefácio reeditado – por Maria – da primeira edição do livro, de 1992.
O testemunho de Maria Prestes tem, agora, a apresentação da presidente Dilma Rousseff (PT). “Esta é uma história de vida que merece ser conhecida”, avalia. Maria e Prestes retornaram do segundo exílio do “velho”, em 1979, com a Anistia. “Decidi não mais atuar no PCB. Não existe. Não se escuta ninguém falar mais no PCB”, diz.

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