Com faixas e um carro de som posicionado próximo ao Congresso, vaqueiros e empresários do setor negam que a prática signifique maus tratos aos animais e afirmam que, além de elemento da cultural, a atividade é fonte de geração de emprego e renda; o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recebeu representantes da atividade e prometeu instalar uma comissão para analisar a prática
Yara Aquino - Repórter da Agência Brasil
Uma manifestação contra a proibição das vaquejadas reúne hoje (25), na Esplanada dos Ministérios, vaqueiros e cavalos vindos de diversos estados.
Com faixas e um carro de som posicionado próximo ao Congresso Nacional, vaqueiros e empresários do setor negam que a prática signifique maus tratos aos animais e afirmam que, além de elemento da cultural, a atividade é fonte de geração de emprego e renda.
A organização do evento diz que cerca de 700 caminhões de transporte de animais e 6 mil pessoas vieram a Brasília para a manifestação. São dois mil animais, principalmente cavalos.
No último dia 6, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucional uma lei do Ceará que regulamentava a vaquejada no estado. Com o entendimento do STF, a prática passou a ser considerada ilegal, relacionada a maus-tratos de animais.
No último dia 6, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucional uma lei do Ceará que regulamentava a vaquejada no estado. Com o entendimento do STF, a prática passou a ser considerada ilegal, relacionada a maus-tratos de animais.
O vaqueiro Clayton Araújo, 35 anos, vive em Paratinga (BA) e quer o retorno da vaquejada que ele conta fazer parte da história de sua família e diz ser um elemento cultural para muitos nordestinos. Segundo Clayton, a vaquejada mudou ao longo dos últimos anos e hoje são tomados cuidados para evitar maus-tratos aos animais.
“Existe toda uma vida por trás disso. Eu nasci e me criei dentro dela, meu avô era vaqueiro, meu pai é vaqueiro. Não envolve só o emprego, envolve toda uma cultura, raiz, criação. Já houve maus-tratos; quando comecei a correr existia a pista dura que maltratava o boi, hoje a pista é de areia, existia chiar o boi que era derrubar e arrastar e isso hoje não acontece mais. E também existia correr bezerro e hoje, na vaquejada regularizada, isso é proibido. Agora usamos o protetor de cauda”, disse.
Vaquejadas sustentam famílias
Ele diz que a vaquejada é uma forma de sustento para muitos e proibir a prática vai causar impacto em pequenas e grandes cidades a trabalhadores como tratadores, vaqueiros e motoristas.
De acordo com a Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (Abqm) e a Associação Brasileira de Vaquejadas (Abaq), anualmente, são realizadas cerca de 4 mil vaquejadas no país, a maioria no Nordeste, que geram 700 mil empregos diretos e indiretos.
As associações afirmam que, nos últimos 10 anos, a atividade passou por regulamentação para garantir a segurança dos competidores e dos animais e defendem que, ao invés de vedar a regulamentação da prática, o caminho é adotar medidas que garantam a continuidade da vaquejada.
O proprietário do Parque Leão de Vaquejada, em Brasília, Raul Leão, diz que medidas adotadas nos últimos anos - como o uso do protetor de cauda e da cama de areia onde o animal é derrubado - evitam sofrimento. Para Leão, o que deve ser combatida é a prática clandestina da atividade que ocorre sem a adoção da regulamentação necessária.
O empresário diz que o impacto econômico que o fim da atividade gera atinge toda uma cadeia produtiva como de produção de selas, rações e medicamentos.
“Esperamos que o Supremo seja sensibilizado pelos efeitos que essa decisão vai causar a esses 700 mil empregos. Foi lamentável ter ocorrido esse julgamento sem ter uma audiência pública para debater o que a vaquejada representa para o país”, disse Raul Leão.
Os caminhões que transportaram os animais passam o dia estacionados nas faixas ao longo dos meios fios da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e provocaram engarrafamento na região central da cidade pela manhã.
Ao longo do dia, os integrantes do movimento participam de uma missa na Catedral de Brasília e de uma audiência pública na Câmara dos Deputados. As atividades vão terminar com um show à noite, na Esplanada.
Leia mais na reportagem da Agência Câmara:
Rodrigo Maia promete instalar comissão para analisar PEC sobre vaquejada
Afirmação foi feita em evento na Câmara que reuniu representantes da atividade e parlamentares que defendem a prática
O presidente da Câmara Rodrigo Maia disse que irá instalar a comissão especial da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 270/16), apresentada hoje, que define a prática de rodeios e vaquejadas como expressão artística e cultural e como patrimônio imaterial brasileiro e transforma a atividade em modalidade esportiva. Maia participou de evento nesta terça-feira (25) no salão nobre da Câmara com representantes da atividade e parlamentares que defendem a vaquejada.
No início do mês, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou a vaquejada ilegal por entender que a prática seria crime ambiental devido aos maus tratos com os animais.
Rodrigo Maia afirmou que vai buscar diálogo com os ministros do STF para que embargos que contestem o parecer da Corte possam reverter a decisão que tornou ilegal a atividade. "Vamos construir um acordo, um marco legal para resolver o problema e dar clareza para sociedade e explicar que não há maus tratos aos animais", afirmou o presidente.
Críticas
O deputado Hugo Motta (PMDB-PB) criticou a decisão do Supremo. Para ele, foi uma posição radical e que vai afetar a vida de milhares de pessoas que dependem da atividade para sobreviver. Segundo Motta, é importante a aprovação da PEC para garantir a prática, que é comum no Nordeste e Centro-Oeste.
O deputado Hugo Motta (PMDB-PB) criticou a decisão do Supremo. Para ele, foi uma posição radical e que vai afetar a vida de milhares de pessoas que dependem da atividade para sobreviver. Segundo Motta, é importante a aprovação da PEC para garantir a prática, que é comum no Nordeste e Centro-Oeste.
O deputado Jovair Arantes (PTB-GO) explicou que a vaquejada é uma prática que envolve cerca de 800 mil empregos, com uma ampla cadeia de produção que vai desde os produtores de cela, aos produtores de animais, de reação até veterinários. "A PEC vai constitucionalizar a atividade como tradição cultural brasileira e consolidar como prática esportiva", defendeu o parlamentar.
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