Jornalista cubano Iroel Sánchez diz que os poucos que a conhecem no país "a chamam de mercenária, argumentando que serve, em troca de dinheiro e privilégio, à agressão dos Estados Unidos contra o país onde nasceu"; relato direto de Havana do correspondente Alexandre Haubrich, especial para o 247
20 DE FEVEREIRO DE 2013 ÀS 12:46
Por Alexandre Haubrich, direto de Havana, especial para o 247 - Em visita ao Brasil, a blogueira cubana Yoani Sánchez tem enfrentado protestos por onde passa. Já aconteceu na Bahia, já aconteceu no Rio Grande do Norte, e em Brasília, onde desembarcou no início da tarde desta quarta-feira, houve bate-boca ao ser recebida no Congresso. Alguns parlamentares reclamavam de sua presença e da interrupção dos trabalhos na Casa. Yoani, pouco conhecida em Cuba, é a principal fonte cubana de toda a mídia internacional empenhada em desconstruir as conquistas da Revolução. Não é diferente no Brasil.
Em uma das fotos referentes aos protestos, Yoani é escoltada por Demétrio Magnoli, articulista dos Instituto Millenium, organização que tem como mantenedores figuras como Armínio Fraga, João Roberto Marinho, Jorge Gerdau, Nelson Sirotsky e Roberto Civita e, entre as instituições parceiras, o Movimento Endireita Brasil. Entre os "especialistas" vinculados ao Instituto Millenium, uma das poucas estrangeiras é justamente Yoani.
Direita se mobiliza em defesa de Yoani
Em Feira de Santana, na Bahia, o prefeito da cidade, do DEM, pediu ajuda da Polícia Militar para garantir a segurança da cubana. Ao mesmo tempo, o PP e o PSDB convidaram-na nesta terça-feira à Câmara de Deputados. Na segunda-feira, o senador do PSDB Álvaro Dias baseou-se em texto da revista Veja para pedir esclarecimentos ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e ao embaixador de Cuba, Carlos Zamora Rodrigues, sobre suposto dossiê sobre Yoani que teria sido elaborado antes da visita.
A blogueira cubana, que viveu na Suíça durante dois anos antes de voltar a Cuba, criou em 2007 o blog Generación Y, onde tece críticas ao governo cubano, especialmente a partir de problemas cotidianos enfrentados na ilha. Segundo documentos divulgados pelo Wikileaks, porém, a blogueira mantém relações estreitas com o Escritório de Interesses dos Estados Unidos em Cuba, espécie de embaixada estadunidense com algumas limitações diplomáticas. Conforme relata, de Cuba, o jornalista Iroel Sánchez, que mantém o blog La Pupila Insomne e colabora com o EcuRed, espécie de Wikipédia cubano, "Yoani Sánchez aparece 124 vezes em Wikileaks, é o personagem colaborador do Escritório dos EUA que mais vezes aparece no Wikileaks".
Em Cuba, uma desconhecida
Iroel garante que em Cuba Yoani não é conhecida, para o que baseia-se em documentos do Wikileaks: "Há um telegrama que deu a conhecer o Wikileaks, trocado entre diplomatas estadunidenses em Cuba. Há uma pesquisa que fez o Escritório de Interesses dos Estados Unidos em Cuba, onde perguntam pelo conhecimento que tem a população cubana sobre alguns dos personagens que têm vínculos com esse Escritório. Uma pesquisa feita com pessoas que vão ali pedir visto para ir aos EUA. E mesmo assim só 2% conheceram a Yoani Sanchez". O jornalista diz que os poucos que a conhecem "a chamam de mercenária, argumentando que serve, em troca de dinheiro e privilégio, à agressão dos Estados Unidos contra o país onde nasceu". É o que ele próprio pensa: "ela é um instrumento da política dos Estados Unidos contra Cuba", diz.
Elaine, que constantemente tece críticas ao governo, incomoda-se com o espaço dado a Yoani: "já não penso nada sobre ela, ou seja, me é tão, mas tão indiferente que me incomoda a centralidade que meu país e meu governo dão às coisas que ela diz ou faz". Mantendo a crítica, Elaine não concorda com a postura assumida por Yoani: "é meu país, o que vou fazer? Trato de mudá-lo, não de ir à embaixada dos Estados Unidos. É uma atitude diferente frente à vida", explica.
O desconhecimento do povo com relação a Yoani não se deve, ao contrário do que dizem os admiradores da blogueira, a um suposto bloqueio governamental à internet. O acesso em Cuba é dificultado pela proibição, pelos EUA, de utilização por Cuba dos cabos submarinos que abastecem a região com sinal de internet. Mesmo assim alguns cubanos conseguem utilizar a rede – graças, inclusive, à parceria com a Venezuela que tem levado novos cabos à ilha – enquanto outros recebem informações via intranet. Elaine Diaz, jornalista cubana e professora da Universidade de Havana, garante: "os cubanos que têm acesso à internet (não à intranet, um tipo de internet para acessar sites de domínio .cu, unicamente) podem, sim, acessar o seu site atualmente".
Iroel fala no mesmo sentido: "Seu blog não está bloqueado em Cuba". E explica a atuação de Yoani: "Ela não escreve para os cubanos. Ela escreve para os grandes jornais que lê a classe média no mundo, no Brasil, na Espanha, no México, na Argentina. Ela disse que os cubanos passam fome, porque não há tangerina no mercado. Bom, é verdade, não há tangerinas no mercado, mas isso não significa que estamos passando fome. Ou diz que estragou o elevador do edifício. Bom, isso não diz nada para uma favela em Buenos Aires, não diz nada para o povo mapuche. Ela não escreve para 80% do povo latino-americano. Escreve para a grande mídia que exclui no Brasil, na Argentina...É uma aliada dos que excluem as maiorias. É fabricada e paga pela maquinaria que exclui a opinião da maioria".
Os protestos no Brasil
Os meios de comunicação estatais, segundo Elaine, não têm feito qualquer cobertura da vinda da blogueira ao Brasil. A jornalista tem se informado a respeito pela internet, pelas redes sociais. E tem gostado do que tem visto: "Aprecio muito o que está fazendo a UJS no Brasil", comemora, e completa: "Estive duas vezes no Brasil, e só sinto agradecimento pelo infinito carinho com que me receberam". Para Iroel, os protestos "demonstram que apesar do favor que lhe faz a grande mídia, ela (Yoani) carece de popularidade no Brasil, são mais os que a rechaçam do que os que a aplaudem. Algo muito diferente do que acontece quando líderes políticos da Revolução Cubana vistam o Brasil".
COMENTÁRIOS
42 comentários em "Jornalistas cubanos sobre Yoani: “Instrumento dos EUA contra Cuba”"
- MERVAL, O ROLA-BOSTA 20.02.2013 às 21:56Yoani, minha filha, passa aqui amanhã no Jornal O Globo para receber suas diárias.
- Alceu Dispor 20.02.2013 às 21:45Lembro-me de quando ingressei no PT, recebi muito material de estudo e entre tantos conceitos socialista que adquiri, tem uma frase que nunca esqueço e que norteou e norteia momentos específicos da minha vida. É assim, "Posso não concordar com o que você diz, mas sou capaz de lutar até a morte para que você tenha o direito de dizer o que pensa." O que houve com o PT??? É essa democracia petista?? Se for essa, eu não quero não!!!
- Zbgniew Brzezinski 20.02.2013 às 21:43Olha só, eu fiz uma pesquisa para saber quem é o pseudo-jornalista Iroel Sánchez e o que descobri? Descobri que ele trabalha no ministério da Informática e das Telecomunicações e já foi presidente do Instituto Cubano do Livro. Ou seja, o sujeito de "jornalista" não tem nada, é um mero lambe-botas e baba-ovo de Fidel, com toda a imparcialidade de quem trabalha para o governo. E ainda falam que Yoani é financiada pela CIA e pela "imprensa conservadora". Conservador, para mim, é quem não respeita a imprensa livre, isso sim! Os detratores de Yoani são tão "democráticos" que chegam a dizer que ela "sequer deveria ser ouvida". E este site, que cada vez menos se dá ao respeito, ainda coloca um facínora cretino e vendido como ele para escrever um artigo. Cada vez pior!!!
- Cancão de Fogo 20.02.2013 às 21:10Todos sabemos que não existe jantar de graça! Quem banca a senhora Yoani? A resposta é simples: Os que tem interesse em envia-la pelo mundo para criticar o regime cubano. O jornalista francês, Salim Lamrani colocou ela no canto da parede e derrubou todas as histórias que ela andou publicando no seu blog. Mostrou que ela disse que foi agredida e no mesmo dia foi entrevistada sem aprsentar nenhuma prova física de sua agressão. Quis saber como ela deixou a Suissa, terra do leite de vaca malhada e chocolate de 1ª linha para voltar a Cuba. Mostrou que a situação de Cuba de Fidel, ao contrário do que ela diz, é muito melhor do que a Cuba de Batista. Perguntou porque ela não fazia uma campanha pelo desbloqueio da ilha e ela tergirversou. Leiam a entrevista e vejam se é possível acreditar nessa senhora. Tudo indica que ela voltou da Suissa como agente da CIA ou dos cubanos de Miami para tentar desestabilizar o governo cubano. Ocorre que não consegue porque o povo cubano é 100% alfabetizado e não engole suas mentiras. Agora a turma do PSDB/DEM/PPS e o PIG que diuturnamente pensam num golpe paraguaio/hondurenho contra Lula/Dilma, já que não conseguem ganhar através do voto, aceita utilizá-la para seus objetivos.
- BOB 20.02.2013 às 19:59É MULHER E MÁRTIR!!!
- jardel lopes 20.02.2013 às 19:21E Cuba realmente não é o paraíso de todo o mundo. Mas como a revolución cubana é permanente, com o povo participando e dando sustentação ao projeto revolucionário, dificilmente aquele país voltará aos tempos do Batista Fulgêncio. Uma ditadura corrupta bancada pelo império que fazia da ilha o seu grande bordel. O povo cubano tem consciência, participa ativamente do direção de seu país e não permitirá nenhum retrocesso. E esta mercenária haverá de pagar todo o mal que faz ao próprio país. Agora está fazendo turné pelo mundo. E a nova cara estadunidense. Arruma alguém com cara de santinha e sai por aí difamando. Os exemplos recentes não podem ser esquecidos: Iraque, Paquistão e tantos outros países onde suas bases militares estão implantados. Na América Latina são 77. No Brasil o buraco agora é mais embaixo. Aqui temos um governo soberano.
- jardel lopes 20.02.2013 às 19:14É impressionante como os tucanos se unem a tudo quanto é coisa ruím no mundo para sustentar suas propostas neo-liberais em todo o mundo. OFHC quando tentou vender todo o Brasil para as multinacionais só não completou sua tarefa (Bco do Brasil, Petrobrás, Caixa Econômica Federal) porque o povo não é bobo e elegeu o Lula. Agora vem esta blogueira mercenária a mando estadunidense e recebe todo este apoio daqueles que sempre querem o pior para o Brasil e o mundo. Aqui não mané !!!
- Luiz Fernando 20.02.2013 às 19:12Quê liberdade defende o Instituto Millenium? Todos sabemos é aquela liberdade que Pinochet deu em 1973 no Chile, a liberdade do capital, para acabar com a democracia. Instalando o terror, no Chile os Liberais mataram mais de 30 mil, na Argentina a mesma cifra. Caso houvesse os Militares da Venezuela realmente consolidado o Golpe, e lá houvesse uma Ditadura, essa Instituto Fajuto, teria aberto um escritório lá. Essa gente manda as favas mesmo a Democracia Burguesa, para defender seus lucros, matam, estupram, exterminam. Essa jovem, que sai a difamar o seu país, é um triste exemplo para a nossa juventude. Fora Yoanis, ou sei la como se chama, uma mercenária.
- Artur 20.02.2013 às 18:06Essa mocinha nunca assinou e nem vai assinar um documento condenando o cruel embargo americano ao seu pais. Financiada pela CIA e aliada a uns poucos imbecis pelo mundo vive na bôa vida dos dólaes americanos.
- Abeu 20.02.2013 às 18:05Quem está pagando essa viagem da Yoani? Como disse um famoso economista, pai do Neoliberalismo, Milton Friedman: "Não há almoço grátis!"
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