Sobrevivente da cena política, ele transitou pelos governos de Fernando Collor, FHC, Lula e, agora, Dilma, sendo sempre capaz de resistir à avalanche de denúncias sem perder o equilíbrio
2 DE FEVEREIRO DE 2013 ÀS 09:11
Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA, 1 Fev (Reuters) - Um sobrevivente da cena política brasileira, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) assume mais uma vez a presidência do Senado, após um período de discrição forçada por denúncias que o levaram a renunciar ao mesmo cargo em 2007.
Após a sucessão de escândalos, o senador nascido em Murici (AL), mudou sua tática e submergiu, passando a atuar mais nos bastidores. Voltou ao foco, ao postular o cargo que o tornará também presidente do Congresso, o que consequentemente o colocou novamente na posição de alvo das mesmas denúncias que o forçaram a renunciar à presidência há pouco mais de cinco anos.
Da juventude no movimento estudantil --quando tinha ligações com o então clandestino PCdoB-- aos dias atuais, Calheiros sempre esteve envolvido com a política e é tido por colegas como um "habilidoso" negociador e conciliador, por ter "fígado de aço".
"Renan é um homem de bom senso. Eu nunca vi ninguém tão firme nas coisas, tão equilibrado, receber críticas e não piscar um olho", disse à Reuters o senador Eunício Oliveira (CE), eleito na quinta-feira para liderar a bancada peemedebista no Senado no lugar de Renan.
O alagoano de 57 anos já foi presidente de diretório acadêmico, deputado estadual e deputado federal constituinte e consolidou sua carreira transitando livremente entre diferentes grupos políticos, quando instalados no poder.
Apoiou a candidatura de Fernando Collor à Presidência da República em 1989, sendo líder do governo no Congresso quando era filiado ao PRN, mas rompeu com o presidente antes do impeachment que o tirou do Planalto. No governo seguinte, de Itamar Franco, foi executivo de uma subsidiária da Petrobras.
Já como senador pelo PMDB, apoiou o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), de quem foi ministro da Justiça, mas passou a apoiar o governo Luiz Inácio Lula da Silva após a vitória do petista.
A aproximação com o governo Lula se deu no início do primeiro mandato do petista, quando foi relator, em 2003, do projeto que instituiu o programa Bolsa Família.
Sua atuação para estancar a crise do mensalão, esquema de compra de apoio político deflagrado em 2005, ano em que se elegeu presidente do Senado pela primeira vez, o aproximou ainda mais da gestão petista.
Recentemente, já no governo Dilma, foi relator da medida provisória que tratou da renovação antecipada das concessões do setor elétrico e criou mecanismos para a redução das tarifas de energia elétrica, que tem sido amplamente propangadeada pela presidente.
"Ele sabe a hora de entrar numa briga e sabe a hora de sair", descreveu uma pessoa próxima de Renan, que falou à Reuters sob a condição de anonimato.
Atualmente, o senador "umbilicalmente" ligado ao atual presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), é tido por um parlamentar como "confiável", embora seu temperamento seja, nas palavras desse colega, "de enfrentamento".
"Em matéria de governo ele é tranquilo. O problema dele não é governabilidade", avaliou o parlamentar, que não quis se identificar.
DENÚNCIAS
Descrito como um "líder nato" pelo presidente de sua legenda, o senador Valdir Raupp (RO), Renan passou por vários processos de cassação de mandato no Conselho de Ética da Casa e sobreviveu a duas votações de processos que chegaram ao plenário, ainda que não tenha conseguido evitar a crise instalada após denúncias de quebra de decoro parlamentar que o forçaram a renunciar à presidência do Senado naquela ocasião.
A avalanche de acusações teve início em maio de 2007. Segundo elas, um lobista da empreiteira Mendes Júnior pagava uma pensão à então amante de Renan, a jornalista Mônica Veloso, com quem o senador teve uma filha.
Daí surgiram as notas apresentadas para comprovar sua renda e afastar as suspeitas da participação do lobista, agora questionadas pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que ofereceu há poucos dias denúncia contra Renan por elas supostamente serem falsas.
Em nota divulgada em seu site, o senador considerou a ação do procurador "incompatível com o habitual cuidado do Ministério Público" e de "natureza nitidamente política".
A denúncia levantou vozes dissidentes, mesmo dentro de seu partido.
"(É) uma candidatura que a gente considera uma atitude inconsequente. Uma candidatura quase que de uma pessoa caracterizadamente ficha-suja, que fica ruim para a imagem do Senado e do Congresso", definiu o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), contrário à candidatura, apesar de ser do mesmo partido.
Renan também entrou na mira de abaixo-assinado virtual contra sua candidatura que já conta com mais de 315 mil assinaturas.
Na avaliação do parlamentar que falou à Reuters sob a condição de anonimato, a volta de Renan à presidência do Senado "é de alto risco".
"Assim como ele pode fortalecer seu histórico político, ele pode sofrer ataques muito pesados", ponderou. "Ele pode reescrever a política ou pode ratificar seu fim."
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