O governo do Reino Unido está mais perto de se tornar o primeiro país a permitir a fertilização in vitro de bebês com herança genética de três pessoas. A técnica é recomendada para prevenir doenças que têm origem em defeitos no DNA mitocondrial - material genético distinto do que existe no núcleo da célula, e que fica na organela responsável pela respiração celular.
A tecnologia ainda não está disponível para ser aplicada em clínicas privadas, mas pesquisadores americanos e britânicos estão perto de torná-la disponível. De acordo com nota da Autoridade Britânica para Fertilização e Embriologia Humanas (HFEA, na sigla em inglês), o governo do Reino Unido foi informado de que não há evidências contra a segurança da técnica. A entidade explica ainda que os benefícios superam os riscos. Uma em cada 6.500 crianças nascem com anomalias nas mitocôndrias que, em geral, são fatais ou levam a doenças como diabetes, cegueira, demência, desordens oculares ou gastrointestinais, assim como doenças cardiovasculares e neurológicas.
Na prática, a técnica adiciona etapas na fertilização in vitro convencional, quando o óvulo materno é fecundado artificialmente por um espermatozoide. A diferença é que, depois desta etapa, um óvulo da doadora do DNA mitocondrial também é fertilizado pelo espermatozoide do pai. Finalmente, o núcleo do primeiro embrião é retirado e colocado no segundo, já sem o DNA da doadora, mas apenas com os genes mitocondriais.
O experimento já foi bem sucedido em primatas: em 2009 nasceu a primeira macaca, de nome Chrysta, cujo embrião foi fecundado por três doadores adultos. Na época o trabalho foi publicado na revista "Nature". Numa outra pesquisa, publicada na mesma revista no ano passado, constatou-se que o procedimento é igualmente viável em humanos, mas seu progresso ainda esbarra da legislação. Nos Estados Unidos, onde foi feito o estudo, a aplicação deste tipo de terapia ainda precisa ser aprovada. Por isso mesmo, os pesquisadores precisaram utilizar investimentos privados, e não federais, no trabalho. No Brasil, são igualmente proibidas as práticas de engenharia genética, de acordo com a Lei de Biossegurança, de 2005, quando a técnica sequer existia.
No ano passado, o governo britânico fez uma consulta a HFEA, uma entidade independente, para saber da segurança e implicações éticas sobre o fato de um bebê nascer com material genético do pai, da mãe e de outra mulher, que doaria o DNA mitocondrial. A resposta positiva foi divulgada nesta terça-feira.
A HFEA, no entanto, ressaltou que as mudanças na legislação devem se limitar à manipulação genética da mitocôndria e apenas com indicação de impedir o desenvolvimento de doenças graves. No pronunciamento da entidade, a modificação do DNA do núcleo - que corresponde a cerca de 99% de todo o DNA do corpo - deve continuar proibida. Outra recomendação é a de que crianças que vierem a nascer com esta técnica devam ser monitoradas com atenção mais próxima. Por fim, a entidade recomenda que o doadora do DNA mitocondrial seja considerada uma mera doadora de tecidos e não uma segunda mãe.
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