Confira reportagem publicada na série Lá Onde Eu Moro, com o ator, no dia 23 de agosto de 2012
Publicado. Luísa Ferreira
Quando ele chegou ao Janga, há quase 30 anos, o bairro era bem diferente do que é hoje. Ao redor do terreno comprado pelo ator Jones Melo, 65 anos, no município de Paulista, não havia muito mais do que mato. Mas nas últimas três décadas, ele viu várias transformações ocorrerem na área, que apresentou à reportagem na matéria desta semana da série Lá onde eu moro.
Nascido em Cortês, na Zona da Mata pernambucana, Jones chegou a vender seu anel de formatura do curso de direito para construir a casa onde vive até hoje. Quando cheguei aqui, não tinha nada, nem telefone. Hoje, há bons colégios, supermercados, shopping..., compara.
Para descrever o bairro, o ator pega emprestado o termo usado por Gilberto Freyre: "rurbano". Para ele, a fusão do rural com o urbano é um dos pontos mais característicos da região. "Tem cajueiros, mangueiras, pitangueiras, flamboyant, coqueiros. Algum tempo atrás, chegavam famílias de saguis aqui no terraço e comiam das nossas mãos.
À noite, vinham nuvens de vaga-lumes voando. Hoje, são os gatos que vêm aos montes", conta, enquanto joga comida para cerca de dez gatos que circulam por seu espaçoso quintal. O canto dos pássaros, acrescenta, também pode ser ouvido em vários momentos do dia. "Há bem-te-vi, pitiguari. Às vezes eu ando imitando o som deles e eles vão me acompanhando."
E no caminho de casa até o supermercado mais próximo, a cerca de 1,5 km, Jones já contabilizou 35 tipos diferentes de flores. "A natureza ainda está latente por aqui", ratifica. A Mata do Janga, instituída pelo governo estadual como reserva ecológica em 1987, é prova de que o ator sabe o que diz. Com pouco mais de 130 hectares, a área fica próxima à foz do Rio Paratibe e luta para sobreviver à depredação.
"Tem muitas árvores incríveis aí, mas a área precisa ser mais bem preservada", alerta Jones, apontando para o lugar. Ele lembra ainda que nem é preciso sair de casa para aproveitar certas facilidades que o bairro oferece aos moradores. Elas batem à sua porta, trazida por figuras como o verdureiro Luiz Severino da Silva. Ele circula pelas ruas do Janga duas vezes por semana, vendendo mamão, inhame e banana-comprida, e improvisa um repente: "Ando pelos meus caminhos, vendo fruta e banana. Eu acho uma beleza, eu vejo a natureza, só batalhando no Janga".
"Há também Seu João, que vende comidas de milho, e as crianças que vão na mata catar caju e cajá e vendem aqui na porta", completa Jones. A proximidade da praia foi outro motivo para que o ator decidisse fazer a vida ali. "A brisa marinha é uma delícia. Aqui é muito ventilado e agradável e temos um espaço de lazer gratuito a poucos metros."
A praia, aliás, é um dos lugares onde mais se evidenciam as mudanças na região. Cada vez mais urbanizada, a orla teve em algumas áreas sua faixa de areia estreitada devido ao avanço do mar nos últimos anos. E o litoral também já foi ponto de encontro de cirandeiros, que vinham de várias cidades das redondezas para dançar a ciranda de Dona Duda na beira-mar, nas décadas de 60 e 70. "Antigamente, se você não falasse em ciranda, não estava dizendo nada sobre o Janga. Hoje, isso acabou", lembra Jones, entoando alguns versos da célebre música de Capiba, Frevo e ciranda, que celebra aquele tempo.
Jones também já usou a praia para fazer arte. Durante três anos, foi lá que ele ensaiou com um grupo de atores um espetáculo sobre a Invasão Holandesa. "Essa região foi cenário de importantes batalhas entre portugueses e holandeses", explica. Também era da praia que saía o sustento de muitos moradores, como o já falecido Cleto, tirador de coco muito conhecido por lá, e as mulheres que vendiam palha de coqueiro pelas ruas. "Elas vinham arrastando a palha, quase escondidas por baixo. Era uma coisa linda", recorda o artista.
PRESENTE
O Janga de hoje também tem seus encantos, além de cada vez mais estrutura para seus moradores. "É um bairro em processo de mudança. Tem muita área pra ser construída, muitas obras pra serem feitas. O setor da construção civil está em alta aqui", observa. Jones ressalta que recentemente foram feitas melhorias em comunidades carentes como a Jardim Justiça e Paz, conhecida como Tururu. "Muitas ruas foram calçadas. Mas ainda há muito o que fazer."
A comunidade foi apadrinhada por dom Helder, que levou um grupo de garotos de lá para disputar um campeonato mundial de futebol na França, em 1998, em paralelo à Copa do Mundo. "O Brasil ganhou com os meninos do Tururu, enquanto a seleção perdeu", orgulha-se.
"O bairro tem uma coisa mística, espiritual, que acho excelente. Há templos de várias religiões por aqui", aponta. Espírita, Jones ressalta o papel de centros como o Grupo Espírita Seara de Deus, um dos responsáveis pela fabricação da famosa pomada Vovô Pedro, que tem diversos usos e é distribuída gratuitamente para várias instituições seguidoras da doutrina de Alan Kardec. "Eles também criaram uma creche bem-organizada, que ajuda muito quem vive na área", elogia.
Também não faltam no bairro estabelecimentos comerciais para resolver a maior parte dos problemas do dia a dia. No Shopping Norte, tem praça de alimentação, café, lan house, bancos. Não preciso ir ao Recife com frequência. Negócios menores tampouco deixam a desejar. Quando quebra algum eletrodoméstico ou entope a pia, por exemplo, é fácil recorrer a José Lemos, que mantém uma pitoresca oficina cheia de antigos ventiladores e outros aparatos domésticos. Nas placas em frente ao estabelecimento, ele informa: é encanador, eletricista e faz reparos em máquina de lavar, fogão, ventilador e por aí vai. "Sou cliente mesmo. Seu José é uma figura, além de muito competente", garante Jones.
Na hora da fome, os preferidos do ator são o self-services Lá em Casa, onde come boa comida caseira, e o Bar do Cajueiro, que entrega quentinhas e suco em domicílio. Além disso, uma forte referência no bairro, diz, é o Bar do Milton, famoso por seus petiscos. "O pessoal bebe bastante lá, além de comer miúdos de galinha, dobradinha, etc. É sempre movimentado."
Nascido em Cortês, na Zona da Mata pernambucana, Jones chegou a vender seu anel de formatura do curso de direito para construir a casa onde vive até hoje. Quando cheguei aqui, não tinha nada, nem telefone. Hoje, há bons colégios, supermercados, shopping..., compara.
Para descrever o bairro, o ator pega emprestado o termo usado por Gilberto Freyre: "rurbano". Para ele, a fusão do rural com o urbano é um dos pontos mais característicos da região. "Tem cajueiros, mangueiras, pitangueiras, flamboyant, coqueiros. Algum tempo atrás, chegavam famílias de saguis aqui no terraço e comiam das nossas mãos.
À noite, vinham nuvens de vaga-lumes voando. Hoje, são os gatos que vêm aos montes", conta, enquanto joga comida para cerca de dez gatos que circulam por seu espaçoso quintal. O canto dos pássaros, acrescenta, também pode ser ouvido em vários momentos do dia. "Há bem-te-vi, pitiguari. Às vezes eu ando imitando o som deles e eles vão me acompanhando."
E no caminho de casa até o supermercado mais próximo, a cerca de 1,5 km, Jones já contabilizou 35 tipos diferentes de flores. "A natureza ainda está latente por aqui", ratifica. A Mata do Janga, instituída pelo governo estadual como reserva ecológica em 1987, é prova de que o ator sabe o que diz. Com pouco mais de 130 hectares, a área fica próxima à foz do Rio Paratibe e luta para sobreviver à depredação.
"Tem muitas árvores incríveis aí, mas a área precisa ser mais bem preservada", alerta Jones, apontando para o lugar. Ele lembra ainda que nem é preciso sair de casa para aproveitar certas facilidades que o bairro oferece aos moradores. Elas batem à sua porta, trazida por figuras como o verdureiro Luiz Severino da Silva. Ele circula pelas ruas do Janga duas vezes por semana, vendendo mamão, inhame e banana-comprida, e improvisa um repente: "Ando pelos meus caminhos, vendo fruta e banana. Eu acho uma beleza, eu vejo a natureza, só batalhando no Janga".
"Há também Seu João, que vende comidas de milho, e as crianças que vão na mata catar caju e cajá e vendem aqui na porta", completa Jones. A proximidade da praia foi outro motivo para que o ator decidisse fazer a vida ali. "A brisa marinha é uma delícia. Aqui é muito ventilado e agradável e temos um espaço de lazer gratuito a poucos metros."
A praia, aliás, é um dos lugares onde mais se evidenciam as mudanças na região. Cada vez mais urbanizada, a orla teve em algumas áreas sua faixa de areia estreitada devido ao avanço do mar nos últimos anos. E o litoral também já foi ponto de encontro de cirandeiros, que vinham de várias cidades das redondezas para dançar a ciranda de Dona Duda na beira-mar, nas décadas de 60 e 70. "Antigamente, se você não falasse em ciranda, não estava dizendo nada sobre o Janga. Hoje, isso acabou", lembra Jones, entoando alguns versos da célebre música de Capiba, Frevo e ciranda, que celebra aquele tempo.
Jones também já usou a praia para fazer arte. Durante três anos, foi lá que ele ensaiou com um grupo de atores um espetáculo sobre a Invasão Holandesa. "Essa região foi cenário de importantes batalhas entre portugueses e holandeses", explica. Também era da praia que saía o sustento de muitos moradores, como o já falecido Cleto, tirador de coco muito conhecido por lá, e as mulheres que vendiam palha de coqueiro pelas ruas. "Elas vinham arrastando a palha, quase escondidas por baixo. Era uma coisa linda", recorda o artista.
PRESENTE
O Janga de hoje também tem seus encantos, além de cada vez mais estrutura para seus moradores. "É um bairro em processo de mudança. Tem muita área pra ser construída, muitas obras pra serem feitas. O setor da construção civil está em alta aqui", observa. Jones ressalta que recentemente foram feitas melhorias em comunidades carentes como a Jardim Justiça e Paz, conhecida como Tururu. "Muitas ruas foram calçadas. Mas ainda há muito o que fazer."
A comunidade foi apadrinhada por dom Helder, que levou um grupo de garotos de lá para disputar um campeonato mundial de futebol na França, em 1998, em paralelo à Copa do Mundo. "O Brasil ganhou com os meninos do Tururu, enquanto a seleção perdeu", orgulha-se.
"O bairro tem uma coisa mística, espiritual, que acho excelente. Há templos de várias religiões por aqui", aponta. Espírita, Jones ressalta o papel de centros como o Grupo Espírita Seara de Deus, um dos responsáveis pela fabricação da famosa pomada Vovô Pedro, que tem diversos usos e é distribuída gratuitamente para várias instituições seguidoras da doutrina de Alan Kardec. "Eles também criaram uma creche bem-organizada, que ajuda muito quem vive na área", elogia.
Também não faltam no bairro estabelecimentos comerciais para resolver a maior parte dos problemas do dia a dia. No Shopping Norte, tem praça de alimentação, café, lan house, bancos. Não preciso ir ao Recife com frequência. Negócios menores tampouco deixam a desejar. Quando quebra algum eletrodoméstico ou entope a pia, por exemplo, é fácil recorrer a José Lemos, que mantém uma pitoresca oficina cheia de antigos ventiladores e outros aparatos domésticos. Nas placas em frente ao estabelecimento, ele informa: é encanador, eletricista e faz reparos em máquina de lavar, fogão, ventilador e por aí vai. "Sou cliente mesmo. Seu José é uma figura, além de muito competente", garante Jones.
Na hora da fome, os preferidos do ator são o self-services Lá em Casa, onde come boa comida caseira, e o Bar do Cajueiro, que entrega quentinhas e suco em domicílio. Além disso, uma forte referência no bairro, diz, é o Bar do Milton, famoso por seus petiscos. "O pessoal bebe bastante lá, além de comer miúdos de galinha, dobradinha, etc. É sempre movimentado."
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