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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

CINEMA Terror sutil e aterrorizante em Quando eu era vivo

Filme estreia na Fundação Joaquim Nabuco

Publicado em 31/01/2014, às 06h01

Cena de Quando eu era vivo, de Marco Dutra / Vitrine Filmes/Divulgação

Cena de Quando eu era vivo, de Marco Dutra

Vitrine Filmes/Divulgação

O cotidiano de famílias de classe média em luta para permanecer pagando as contas ou sobrevivendo com uma aposentadoria, apesar do medo do desemprego, é a base na qual se alicerçam as duas histórias de terror dirigidas pelo cineasta paulista Marco Dutra. Em Trabalhar cansa, codirigido por Juliana Rojas, um casal vive uma crise quando a mulher pega as economias para montar um mercadinho no subúrbio e o marido fica desempregado. Atrás das paredes do mercadinho, uma mancha se alastra e algo muito estranho parece haver sido emparedado ali.
Em Quando eu era vivo, que estreia hoje no Cinema da Fundação, Marco Dutra assume o controle total do filme, com Juliana restrita à montagem. Apesar de separados, os dois continuam fazendo o mesmo tipo de cinema. Doses homeopáticas e sugestivas de terror psicológico e sobrenatural conduzem as relações interpessoais e socioeconômicas dos seus personagens, quase sempre envoltos numa suave nuvem de loucura e obsessão.
Adaptado de um original literário de Lourenço Mutarelli, o filme parece uma versão da fábula do filho pródigo, com alguém que só viverá o presente se recuperar o que foi perdido no passado. No caso, um filho, Júnior (Marat Descartes, excelente como sempre), volta para casa divorciado e desempregado, e reencontra um pai, Sênior (Antônio Fagundes, muito bom), irreconhecível por fora e por dentro.
A princípio, não fica claro o que Júnior, solitário e entristecido, volta para buscar. Mas ao cascavilhar objetos escondidos em um quartinho, onde as coisas da mãe falecida se encontram encaixotadas, todo um passado retorna à vida deles. A partir de imagens de um fita VHS gravada quando ele era criança, assistimos a rituais envolvendo a mãe falecida e um irmão que vive enclausurado em um hospício. 
Outra personagem, a estudante de música Bruna (Sandy Leah, bastante razoável), que mora de aluguel no quarto que fora dos irmãos, também entra na trama para, com sua voz, penetrar no indizível.
Com um inteligente e particular uso da trilha sonora, em parte composta por ele mesmo, e um ritmo compassado, Marco Dutra leva o espectador para recantos escuros do comportamento humano, mas sem precisar gritar obscenidades no seu ouvido. A sutileza ainda pode ser uma arma bastante afiada.

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