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sábado, 17 de setembro de 2016

Nem a morte de Domingos Montagner escapa do ódio doentio contra Lula. Por Marcos Sacramento

Postado em 17 Sep 2016
Montagner
Montagner

Existe algo de doentio no ódio contra Lula e o Partido dos Trabalhadores. Só alguém tomado por uma patologia muito severa para insinuar o envolvimento petista no afogamento de Domingos Montagner, como no post do Facebook que viralizou poucas horas após a confirmação da morte do ator.
“Pessoal, todos sabemos que a Camila Pitanga é uma militante do PT, inclusive filiada ao mesmo. Considerando os últimos fatos ocorridos em relação ao Lula … teria a atriz assassinado Domingos Montagner, o empurrando para a água para ser levado pela correnteza? Com a morte do protagonista da novela das oito, as denúncias contra Lula seriam abafadas na mídia pois sabemos como os atores da Globo são queridos pela população. (…) Deve-se investigar bastante esse caso, muito suspeito … Camila Pitanga também já declarou ser adepta do ateísmo, ou seja, não teria remorso para cometer crimes do tipo”.
Os “fatos ocorridos” são as denúncias de Lula e da ex-primeira dama Marisa Letícia pela Lava Jato. Em nome do antipetismo, o post congrega paranoia, ignorância, fundamentalismo religioso e ausência total de empatia com os atores envolvidos no acidente.
Este não foi o único comentário absurdo. Um usuário do Twitter livrou a Camila Pitanga do envolvimento na morte do artista, mas acrescentou uma crise conjugal ao seu devaneio conspiratório. “Primeiro a Globo separa o William e a Fátima pra abafar o golpe agora some com o Domingos pra abafar a prisão do Lula”, delirou.
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Houve quem aproveitasse o choro pelo Domingos para atacar Lula e Dilma. “Podia ter morrido o Lula, a Dilma… Que fizeram mal para tanta gente, mas não, morreu o Montagner. Triste isso”.
Manifestações como essas são comuns nas redes sociais e nas latrinas que são os sistemas de comentários dos portais de notícias. Do terremoto que atingiu a Itália no mês passado à extinção do rinoceronte-negro do oeste, tudo pode ser usado como escada para atacar Lula, Dilma e o PT.
O maior indício de que a doença é perigosa são os surtos de ódio registrados fora da esfera virtual, como as agressões direcionadas a pessoas vestidas de vermelho ocorridas na época dos protestos contra a votação do impeachment de Dilma na Câmara.
Nem mesmo crianças e bebês de colo escaparam das ofensas proferidas pelos “cidadãos de bem”. A irracionalidade chegou ao ponto em que uma médica teve o despudor de se recusar a atender uma criança por ela ser filha de petista.
O que explica tanto rancor? Para o economista e ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, há um “ódio coletivo dos ricos” contra um partido. Leonardo Boff tem opinião semelhante. Para ele, o ódio é “contra o povo pobre que foi tirado do inferno da pobreza e da fome”.
Faz sentido, mas não explica por que assalariados beneficiados pelos avanços promovidos pelos anos de governo de Lula e Dilma tenham abraçado este discurso elitista.
Os vetores dessa doença, contudo, são bem conhecidos: Globo News e seu time de comentaristas, Jornal Nacional, Veja, Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes e demais sicários da mídia corporativa.Como os mosquitos Aedes aegypti, eles invadem os lares e infectam os incautos com o vírus do ódio seletivo.
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Marcos Sacramento
Sobre o Autor
Marcos Sacramento, capixaba de Vitória, é jornalista. Goleiro mediano no tempo da faculdade, só piorou desde então. Orgulha-se de não saber bater pandeiro nem palmas para programas de TV ruins.

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