Segundo famílias, há municípios que deixaram de oferecer carro para trazer as crianças para tratamento no Recife. Além disso, AACD suspendeu terapias em alguns casos
Publicado em 22/11/2016, às 07h15
Helloa, 1 ano e 2 meses, fazia fono e fisioterapia, como também terapia
ocupacional na AACD. A mãe da menina, Thayllane dos Santos, que mora
em Paulista, conta que nunca teve transporte para vir ao Recife em busca
de tratamentos
Diego Nigro/JC Imagem
Cinthya Leite
No mês em que o governo brasileiro decidiu manter a emergência nacional em saúde pública por causa dos casos de microcefalia associados ao zika, soa como paradoxo as famílias terem que enfrentar transtornos em busca de reabilitação para as crianças com comprometimentos decorrentes da infecção pelo vírus. Além disso, pais que moram fora da capital pernambucana reclamam da falta de transporte para trazer os filhos aos serviços de saúde no Recife.
“Há muitos municípios que estão sem fornecer carro para essas famílias virem para a capital”, lamenta a presidente da União de Mães de Anjos (UMA), Germana Soares, mãe de Guilherme, 1 ano, que nasceu com a síndrome congênita do zika. A UMA reúne 319 famílias das crianças no Estado com complicações associadas ao vírus. “Outro detalhe é que os casos mais graves têm tido as terapias suspensas na AACD (sigla para Associação de Assistência à Criança Deficiente). Isso acontece desde setembro.”
Entre os pacientes que deixaram de passar pela reabilitação na AACD, está a pequena Helloa da Silva, 1 ano e 2 meses, que está há dois meses sem atividades. “Ela fazia fono, fisioterapia e terapia ocupacional. Agora só está sendo acompanhada por neuropediatra e ortopedista”, relata a dona de casa Thayllane dos Santos, 25, mãe de Helloa, que mora em Paulista. Quando precisa vir ao Recife, ela sofre com a falta de transporte. “Às vezes, solicito um Uber, mas tem sido mais barato contar com a ajuda de um colega que tem carro. Pago o combustível para ele nos levar ao Recife.” Em nota, a Secretaria de Saúde de Paulista confirma que o município não tem veículo para o transporte. “É uma iniciativa que será colocada em prática nos próximos meses.”
Neuropediatra da AACD, Vanessa Van Der Linden explica que as terapias têm como meta estimular o potencial das crianças. “Para aquelas que, perto de completarem 1 ano, não apresentarem interação com o ambiente e não conseguirem ter controle da musculatura do pescoço, por exemplo, a AACD (que se volta à área da reabilitação física) não oferece terapias individuais. Orienta-se que seja procurado um local com atendimento para deficiência múltipla (ocorrência de duas ou mais deficiências simultaneamente, seja física, auditiva, intelectual ou visual)”, esclarece Vanessa. A médica acrescenta que essas crianças não deixam de passar por consultas médicas e que os pais também continuam a ser orientados sobre estímulos que podem fazer com os filhos no dia a dia.
DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA
Em Pernambuco, só há dois serviços habilitados pelo Ministério da Saúde para fornecer atendimento a quem convive com deficiência múltipla: os Centros Especializados em Reabilitação da Fundação Altino Ventura (FAV), na Iputinga, Zona Oeste do Recife, e o Mens Sana, em Arcoverde (Sertão do Estado), da Fundação Terra. Na FAV, o entrave é a demanda reprimida. No local, 146 crianças afetadas pelo zika estão em atendimento; outras 159 permanecem em fila de espera. Segundo a entidade, são designados R$ 425 por mês para esses pacientes. “Temos que nos enquadrar a esse custo”, diz o responsável por convênios da FAV, José Vieira.
A verba vem do tesouro estadual e, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), o repasse à FAV está atrasado devido a uma pendência contratual, que brevemente será solucionada. “Estamos trabalhando para descentralizar ainda mais o atendimento, com implantação de mais um serviço e também com encaminhamento ao Imip. Outra questão é que não conseguimos avançar com o Ministério da Saúde em relação a habilitações de serviços no Estado para múltipla deficiência. Ipojuca, Limoeiro e Afogados da Ingazeira são municípios onde há centros para ser habilitados, mas ainda aguardamos”, frisa a secretária-executiva de Atenção à Saúde da SES, Cristina Mota.
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