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domingo, 19 de janeiro de 2014

Antonio Fagundes faz dobradinha com o filho caçula, Bruno, no palco e na TV

19/01/2014  03h00
Diante de uma entrada de mexilhões, Antonio Fagundes, 64, é taxativo: "Só posso comer o limão", brinca o ator, ao dispensar o prato. Vai degustar no almoço no restaurante da Casa das Rosas um filé de saint peter grelhado com legumes e salada.
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Ele explica à repórter Eliane Trindade que está fazendo a dieta da proteína. "Não é para emagrecer, é saúde. Quero ficar bem e ir emagrecendo devagarinho. Vai levar dois anos pra chegar no que quero. Sem ansiedade."

Antonio e Bruno Fagundes

Eduardo Anizelli/Folhapress
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Fagundes e o filho se tornaram sócios de uma cooperativa para viabilizar a produção da peça sem patrocínios
No dia anterior, confessa logo depois, passou na padaria e desequilibrou a equação 20% de carboidratos/80% de proteínas diárias. "Não aguentei, comi um pãozinho saído do forno." Com um personal trainer, ganhou disciplina de malhação. "Tô fazendo ginástica. Tô tão orgulhoso de mim mesmo."
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Seu caçula, Bruno, 24, é ainda mais econômico no consumo de calorias: fica só na salada. Ergue a taça de espumante para o brinde, mas não bebe. "É meu janeiro seco, sem álcool", explica, no propósito de atravessar o mês também sem ingerir doces.
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Tanto o pai, peso-pesado da dramaturgia nacional, agora na pele de César em "Amor à Vida", quanto o filho, que estreia na TV na próxima novela das seis da Globo, estão em sintonia alimentar e no trabalho. Na sexta, reestrearam a peça "Tribos", que já levou 30 mil espectadores ao teatro em São Paulo, em três meses em cartaz.
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É a segunda experiência da dupla em cena. Em "Vermelho", de 2012, o convite foi paterno. Agora, a iniciativa partiu de Bruno, que descobriu em Nova York o texto sobre uma família disfuncional que precisar lidar com um deficiente auditivo.
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"Quando o pano abre, não somos pai e filho, mas dois profissionais. Não carrego o parentesco para o trabalho", diz Bruno. "Estou lutando pelo meu espaço, humildemente. Quem me vê atuando percebe que tenho dedicação." O pai dá uma piscadela e diz em tom de confidência: "O cara é bom". E emenda: "A cobrança maior é minha e dele".
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São também produtores (investiram R$ 100 mil do próprio bolso para dar início ao projeto). "Metade cada um", salienta o filho. Criaram uma cooperativa com 17 colegas para viabilizar o espetáculo sem patrocínios.
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"Criamos uma empresa, todos entraram de sócios encarando o risco de bilheteria", explica Bruno. Abriram mão de ir à caça do R$ 1,8 milhão, aprovado pelo Ministério da Cultura, que poderiam captar pela Lei Rouanet. "Há um equívoco do governo ao dar esse patrocínio [via lei de incentivo], que virou espécie de cala-boca para a classe teatral", diz Fagundes.
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Com 50 produções teatrais em 48 anos de carreira, o ator conta nos dedos quantas vezes recebeu dinheiro de patrocinadores: três. "A única coisa que o governo faz é decidir quem não pode [contar com Lei Rouanet]. O que funciona como certa censura. Envia-se o projeto, eles analisam e apoiam ou não a possibilidade de ir atrás de patrocínio. Não fazem mais nada."
A crítica se estende à "segunda censura econômica", após o filtro ministerial. "É quando você vai falar com o gerente de marketing das empresas. São pessoas estudiosas, mas de suas áreas. Alguns até gostam de teatro, mas não são capazes de avaliar um texto. Sem falar que, se passar por essa etapa, seu trabalho vira brinde de empresa."
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O filho faz coro: "Eles querem usar nossa visibilidade para estampar a marca deles na nossa testa". Relatam ter ouvido de um diretor de marketing de uma grande corporação que a peça "era cultural demais". O pai rechaça o argumento de que se trata de uma troca. "Seria, caso colocassem recurso do bolso deles, mas não põem."
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Sem dinheiro do contribuinte por meio de renúncia fiscal, "Tribos" se pagou com casa cheia. "Nossa média de público foi de 589 por dia. 89% da ocupação", contabiliza Bruno. A conta fecha alavancada pelo protagonista de um folhetim das oito. "Fico feliz quando a novela faz sucesso, pois vai levar 30% a mais de público ao teatro", diz Fagundes, o produtor.
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Há 38 anos batendo ponto na maior emissora do país, o galã sai em defesa de Walcyr Carrasco, autor de "Amor à Vida", detonado por colegas de elenco. "Criticam a novela como se fosse uma obra definitiva. Não é. A proposta é entreter. Se mantém 70 milhões de pessoas ligadas, cumpriu o propósito."
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Fagundes vai emendar outra novela. Foi escalado para a próxima trama de Benedito Ruy Barbosa, "Meu Pedacinho de Chão", com direção de Luiz Fernando Carvalho. Mesmo trio de "O Rei do Gado" (1996) e "Renascer" (1993). "Fiz teste e só soube que meu pai tava no elenco depois de aprovado", diz Bruno.
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O estreante será um médico que percorre o interior do país. "Estava até pensando em fazer com sotaque", brinca, em referência aos estrangeiros do Mais Médicos. Começam a gravar no fim do mês. "Será uma novela diferenciada, com cem capítulos e poucos núcleos."
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O sistema industrial de produção dos novelões tradicionais levou Fagundes a encabeçar movimento entre os astros globais. "Estamos conversando com a Globo tentando nos entender para melhorar artisticamente a nossa participação. Naturalmente, vamos mexer com problemas de carga horária e de tempo para estudar em casa."
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Querem receber horas extras pelas 12, 13 horas de gravação diárias? "Elas são pagas, não é esse o caso", explica. "Disseram que a gente estava pensando em dinheiro. Não se tocou nisso. Por enquanto, estamos buscando formas de retomar o nosso prazer artístico, sem a aflição de ter 40 cenas para fazer."
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Fagundes pede a salada para fechar o menu light e encara o papo indigesto das próximas eleições presidenciais. "Tá ruim, né? Sinto muito não termos uma oposição." Não se empolga com o tucano Aécio Neves nem com a terceira via representada por Eduardo Campos (PSB). "Parece que ele é um ótimo administrador, mas uma coisa é Pernambuco, outra é o Brasil."
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Marina Silva também não o convence. "O purismo dela é burro. Vai governar como? Terá que fazer alianças. Ao mesmo tempo, essa história de governabilidade é um problema. Tudo bem, é preciso fazer aliança pra governar, mas logo com bandido?"
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Não vê distinção entre PT e PSDB. "É um sistema inteiro comprometido." Cobra punição para o mensalão mineiro. "Ninguém está tocando no assunto. É só o PT? Não." Lembra ainda denúncias de cartel no metrô de SP. Dilma Rousseff decepcionou: "Tinha condição de fazer mais".
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Pai e filho dispensam a sobremesa e voltam a se empolgar ao falar da "acessibilidade total" de "Tribos" para portadores de deficiência. No último sábado do mês, contam com intérpretes de Libras para traduzir o espetáculo aos cerca de 2.000 deficientes auditivos que já foram vê-los.
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Bruno está estudando a língua brasileira de sinais. "Aprender Libras é tão difícil quanto mandarim." Serão pioneiros em acessibilidade também para portadores de deficiência visual, por meio de audiodescrição da peça.
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É hora do cafezinho e de falar de cinema. Fagundes estreia, dia 31, "Quando Eu Era Vivo", de Marco Dutra, ao lado de Sandy. O longa é adaptação de um livro de Lourenço Mutarelli. "Li tudo dele, adoro. Quando me chamaram, dei pulos de alegria."
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E se alegra também com o fato de o filme de baixo orçamento seguir sua lógica de produtor teatral. "O movimento certo é fazer projetos que possam se pagar e sermos menos dependentes de patrocínios." E conclui: "Estamos em um momento de repensar a profissão e de se perguntar: 'Eu quero continuar sendo ator, diretor, produtor de cinema, teatro e TV ou vou ser captador e empresário?'". 
mônica bergamo
Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

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