Imigrantes que moram no Recife se articulam para tentar eleger representante que possa representá-los na França
Publicação: 17/01/2014 22:19
Franceses mantêm página no Facebook para tentar conquistar eleitores na colônia nordestina. Foto: Reprodução/Internet |
O sotaque é inconfundível e a reunião do grupo não lembra, nem de longe, os comícios ou as reuniões partidárias brasileiras. Reunidos em torno do partido de direita Union pour un mouvement populaire(UMP), que numa tradução livre para o português ficaria em algo como União do Movimento Popular, seis franceses travam a estratégia para conquistar as urnas no dia 24 de maio deste ano, numa eleição inédita entre os cidadãos francófonos espalhados pelos cinco continentes. Serão eleitos os primeiros 444 conselheiros consulares, como são chamados, no mundo, destes 14 no Brasil e 3 destinados às regiões Norte e Nordeste.
A liderança do grupo residente em Pernambuco é do ex-professor universitário Xavier Noël-Bouton, de 66 anos, natural da França. Com passagens por universidades como Zurique, Genebra e Friburgo, ele experimentou o “gostinho pelo poder” em território europeu, chegando ao posto de conselheiro municipal, uma espécie de vereador. Morando no Recife há cinco anos, ele enxergou nesta eleição a oportunidade de voltar à servir ao seu país. O passaporte para a empreitada não tem nome, mas uma legislação: a lei de 22 de julho de 2013 aprovada no Parlamento francês. Ela garante que os cidadãos franceses residentes em outros países do globo tenham uma representação política junto às embaixadas e unidades consulares. O trabalho não é remunerado, mas a disputa tem tudo para ser acirrada.
Grupo de franceses residentes no Recife pretende conquistar uma das três vagas para o Norte e Nordeste. Foto: Nando Chiappetta/DP/D.A Press |
A AFE fará uma indicação indireta no Parlamento, nomeando 11 deputados e 12 senadores, além dos seus 155 conselheiros. Atualmente, a indicação já é praticada, mas o Estado Francês resolveu regulamentar a questão no ano passado. Diferentemente do Brasil, os eleitos não recebem salários, mas tem as despesas de trabalho reembolsadas no mandato de seis anos. A chapa do UMP é a única que começou a se movimentar. O Consulado do Recife, através de sua assessoria, informou que cônsul não ia se posicionar sobre a disputa e que ainda não tem o número de franceses aptos a votarem no pleito por estar “ainda muito longe da eleição”.
A professora Aude Neuvesselle diz que a campanha eleitoral é uma forma de se aproximar da terra natal. Foto: Nando Chiappetta/DP/D.A Press |
A professora de francês Aude Neuvesselle, de 33 anos, prefere não citar a escola onde trabalha. Motivo: em seu país de origem, a França, não é comum falar de política ou religião no trabalho. No Recife desde 2006, ela nunca participou de nenhum partido político e agora integra a chapa de seis candidatos liderada por Xavier Bouton. "Quando você mora longe de seu país, tem outra visão dos problemas e tem como comparar. Esta também é uma forma de eu poder me aproximar mais do país que, de fato, se esquece um pouco da gente", critica, sem fazer cálculos ou projeções do quadro eleitoral de maio.
A eleição para os conselheiros consulares obedecerá um raciocínio parecido com a legislação eleitoral brasileira. As três vagas destinadas à circunscrição do Recife serão preenchidas pelo número de votos de cada chapa concorrente de acordo com o coeficiente eleitoral. Ou seja, não é garantido o ingresso completo dos seis candidatos na chapa da UMP. Existem ainda três vagas para suplentes.
O professor de política internacional da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) Thales Castro diz a eleição é uma novidade no cenário mundial. O acadêmico argumenta que só na Itália existe uma legislação parecida para os cidadãos residentes no exterior.
“Existe um distrito consular para que os cidadãos votem num representante do parlamento que fica em Roma, mas este modelo francês é algo muito inovador e distinto. Eles não terão uma função de fiscalizar, mas de aprimorar as relações da população residente com a representação consular”, argumentou. O professor ainda defendeu que esta é uma política que envolve o resgate da cultura francesa, que em outros tempos, por exemplo, tinha em seu idioma a língua oficial dos negócios e da diplomacia mundial. Em linhas gerais, não será uma política de surveillance (vigilância) do trabalho dos embaixadores e cônsules.
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