Publicado em 29/09/2013, às 16h57
Da editoria de Economia
Severino Nunes lembra dos tempos áureos do Figaro
Foto: Edmar Melo/JC Imagem
O Brasil descobriu há alguns anos o poder financeiro do cabelo. Houve aumento de 78% no número de salões de beleza de 2005 a 2010 e um salto de quase 100% no número de profissionais. No Recife, os números são razoáveis: eram 385 salões em 2003 e hoje são 3.374. Nesta estatística, que só tende a aumentar, já não figura mais com tanta importância um pedaço da história do setor. O Figaro Cabeleireiros, um dos ícones de luxo do segmento dos anos 1960 aos 1990 no Estado, hoje se resume a um espaço em Boa Viagem e algumas lembranças (boas e ruins) de um empreendimento que deu certo mas que desandou por não se adequar às demandas de mercado.
Já foram seis salões Figaro no Recife, além de outro em Maceió. Os mais velhos lembrarão da unidade mais famosa, a do Shopping Recife, que ficava ao lado da C&A. “Nessa época, fomos convidados a abrir um espaço no Shopping. Aceitamos. Hoje vejo o quanto ele faz falta. Foi a unidade mais rentável”, diz Severino Nunes, 76 anos, dono da marca e ex-sócio da rede. Hoje, o Figaro funciona em regime de cooperativa, composta por seu Severino e outros oito profissionais.
No auge, o Figaro possuiu mais de 100 funcionários. Começou com uma barbearia no velho edifício Tereza Cristina, por trás do Cinema São Luiz. “Pertencia a um francês, André Dahoui. Ele não era do setor e aí alguns funcionários, entre eles eu, resolvemos comprar. Isso nos anos 60”, relata Severino, que mostra feição esforçada e pensativa para lembrar do passado.
Filho de um barbeiro, ele, o mais velho de cinco irmãos, e a família foram de Cabaceiras (PB) para Limoeiro, no Agreste pernambucano. “Eu e meu irmão, Arlindo, aprendemos o ofício com meu pai. Com 16 anos, vim para o Recife”, diz. Veio trabalhar com um tio, também barbeiro, em Casa Amarela. De lá, foi para um salão em Afogados. Depois, um no Espinheiro. Nos anos 50, chegou ao Tereza Cristina. Depois que ele e outros quatro sócios – entre eles o irmão, Arlindo – adquiriram a barbearia, deram continuidade ao negócio. Cortaram o cabelo de figurões. “Lembro do ex-presidente Costa e Silva. Na época, ele era comandante do IV Exército (1961/1962). Muito educado e sisudo”, diz Severino.
Mesmo com a saída de alguns sócios, o negócio ficou estável até os anos 70, quando começou a moda de “homem com cabelo grande”. “Os barbeiros não sabiam mexer com cabelo grande. Eu e Arlindo fomos fazer um curso de cabeleireiro de seis meses ofertado pela Niase. Enquanto os outros fechavam, conseguimos sobreviver”, diz Severino.
A partir daí, o Figaro abriu outra unidade, no prédio Santa Alice, na Rua da Imperatriz. Nos anos 80, foi a vez de duas unidades na Conselheiro Aguiar e outra no Shopping Recife. Depois veio a de Maceió, que durou pouco tempo.
No fim daquela década, houve divergência com um dos sócios, que levou a unidade da Conselheiro Aguiar próxima à praça de Boa Viagem. Depois, um choque: o irmão Arlindo não resistiu a um infarto. “Foi difícil”, lembra Severino.
Os anos 90 não foram tão generosos. “Muitas mudanças de sócios, todas mal-sucedidas. Também houve as mudanças na legislação trabalhista e a incapacidade de dizer ‘não’ a quem quer que seja”, resume o primo de Severino, José Lucena, que hoje trabalha com ele no Figaro. As outras unidades foram fechando, até restar a do Shopping. “O custo era alto. Uma hora, tive de me desfazer do local”, conta o barbeiro.
Foi para um espaço próximo ao shopping e depois para o atual local, em Boa Viagem. Hoje, ele se diz acomodado. Vive em harmonia com o resto da equipe, composta por ele, o primo e sete senhoras. “Não sei se faria algo diferente”, diz, para depois completar, com algum desejo: “talvez a loja do Shopping”.
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